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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A DESOLAÇÃO DE ITAIPAVA(Nas palavras de quem viveu)

Chuva: Fenômeno climático que consiste na precipitação de água no estado liquido sobre a superfície da terra. Ocorre a partir da formação das nuvens, que contém partículas de água, oriundas da evaporação da água na superfície do planeta.



Temos tantos tipos de chuva. Temos aquela chuva que atrapalha o tão sonhado feriadão. A chuva que vem para refrescar o verão. A chuva que socorre o povo lá do Nordeste. A chuva que mata a sede. A chuva que lava, que banha. A chuva que cultiva terras. Temos as chuvas cinematográficas. Tipo aquela do filme "Singin' in the Rain", com Gene Kelly.



Moro em Itaipava há 30 anos. Sempre na mesma casa, na mesma rua, com a mesma paisagem... Nunca me mudei. Nem eu nem meus pais. Há 30, 40 anos, Itaipava era "roça". Pelo que eu me lembro da minha infância, Itaipava tinha "um de cada". Um supermercado, um posto de gasolina, uma igreja, uma farmácia precária, uma padaria, um posto da polícia e um shopping. O imortal Shopping Itaipava! Quando meu pai construiu nossa casa e resolveu se mudar, minha mãe não queria vir de jeito nenhum. Moravam em Petrópolis, no centro, tudo pertinho. Minha mãe aprendeu a dirigir na marra.... afinal, a distância Itaipava/Petrópolis era enoooorme. Um lugar praticamente inóspito. Resumindo: para minha mãe, era quase o Rio de Janeiro de tão longe que era do centro da cidade.




Hoje, Itaipava tornou-se uma cidade. E meus pais não trocam por nada neste mundo. Já não se tem mais "um de cada". Itaipava virou o centro gastronômico do Estado do Rio. Farmácias agora, uma em cada esquina. E os shoppings? Ah, esses aí são inúmeros. Itaipava ganhou um fórum, ganhou corpo de bombeiros, ganhou lojas chiques, caras. Ganhou fama. Tornou-se lugar para refúgio de Cariocas, artistas, pessoas importantes que perambulam pra lá e pra cá na mídia. Virou até nome de cerveja. Bons restaurantes, maravilhosas pousadas, clima agradável. Contato diário com a calmaria do interior e com a natureza que é oferecida, de graça... é só contemplar e curtir. Tudo bem vai... falta um hospital por aqui para atender a população!!!!



Mas com todas essas benesses e benfeitorias, o crescimento se deu de forma desordenada. As margens dos rios foram ocupadas, os condomínios de luxo e pousadas foram se instalando. O desmatamento.... nem se fala.... desordem com idade aproximada de 40 anos.




Hoje, Itaipava reduziu-se a lama, escombros, tristeza, desabrigados, lixo.... calamidade pública. Hoje, Itaipava aparece no Jornal Nacional, no Jornal da Globo. Hoje, Itaipava está no centro de discussões entre jornalistas, analistas, políticos, metereologistas que querem descobrir de quem é a culpa. Quem ou o que justifica tamanha catástrofe?










Os analistas, jornalistas, especialistas, todos os "istas" trabalham com estatísticas, números de mortos, de desabrigados, de onde a chuva veio e para onde ela vai. Falam em "a maior tragédia natural do país". É tão estranho ver engravatados, num estúdio debatendo esses assuntos. Enquanto famílias inteiras perambulam pela União e Indústria, com filhos sendo carregados nas costas, com uma trouxa de roupa no lombo, caminhando sem saber para onde ir. Ver casas de ricos e de pobres desaparecerem. Encostas deslizarem, destruindo casas como se fossem feitas de papel. E na altura do campeonato o que importam as estatísticas? Qual o real objetivo de se descobrir de onde veio a chuva???

Ontem vi de perto, mas bem de perto o que costumo ver na TV, como o terremoto que um pano de chão e limpar tudo o que eu pude. Um dia inteiro não foi o suficiente para limpar e desinfetar os móveis, os quartos, as camas, colocar tudo em ordem. Talvez uma semana, um mês. Não sei!


Ontem  vi bem de pero o que costumo ver na TV, como o terremoto que devastou o Haiti ou o furacão Katrina que destruiu Nova Orleans. Todas as pessoas próximas que conheço afetadas por esta chuva estão bem. Duas delas perderam tudo. Só ficaram com a roupa do corpo. As casas em si, acabaram, sumiram. Se misturaram com a lama, a água e os destroços de outras casas, de outras famílias. Uma outra amiga minha, desde às 04:30 da manhã estava de chinelos e camisola tentando tirar a mãe e os móveis de dentro da casa, que por pouco não foram engolidos pela
 enxurrada. A hora em que cheguei à sua casa, as palavras foram embora. Não sabia o que dizer. A pergunta: "e aí? está tudo bem?" não combinava com o cenário. Fiquei sem palavras, não só pela casa, mas pela vizinhança. Resolvi me calar, pegar uma vassoura,

É angustiante saber que todas aquelas pessoas que eu vi passando por mim, desejaram um bom início de ano, fizeram suas listinhas de resoluções para 2011. Ganharam uma roupa nova, um sapato novo, um tênis legal. Criaram expectativas. No Natal, gastaram seu 13o, dinheirinho suado, comprando um presente para o filho pequeno, ou deram entrada numa geladeira nova, num fogão, numa TV para assistir novela. Gente que em outubro votou para ter esperança. E é essa gente pobre e humilde que sofre mais. Com menos recurso financeiro, ficam a mercê dos políticos e de todos os "istas" que existem por aí....

Por tudo isso que narrei, quero dizer que não me importam as estatísticas, não me importam os engravatados de plantão, nem os debates cheios de palavrinhas técnicas para explicar a "maior catástrofe natural que o país já resgistrou". O que importa mesmo é saber o que toda essa gente vai comer amanhã, na semana que vem, no mês que vem???? Onde irão reconstruir a casa, o lar? Na mesma encosta que desabou ou na margem do rio??? Quem vai bancar? Quem vai pagar a conta???? Quem vai trazer de volta os entes queridos que as águas trataram de levar????

Moro ao lado de duas funerárias.... hoje estavam lotadas de parentes, amigos desolados, flores, abraços, lágrimas. Vi uma criança com seus poucos 06 anos de idade, chorando agarrado na cintura de uma senhora. Fiquei com vontade de descer do carro... mas não desci. Provavelmente perdeu alguém de sua família, pensei. Ainda tão novinho e a vida
não o poupou do sofrimento. Vim para minha casa e
não consegui pensar... fiquei com a cabeça vazia....


Já que temos tantos meios de comunicação, que atingem pessoas do mundo inteiro, porque não compartilhar esta tragédia e pedir para todos os moradores de Petrópolis que continuem doando sangue, roupas, comida, material de limpeza e de higiene pessoal. Não vamos nos esquecer do que aconteceu. Não vamos abandoar os que foram castigados.
Tanto os ricos quanto os pobres. Para quem não sofreu nada, doe água, doe um sorriso, doe atenção, doe esperança....

O nome dela é Patrícia, moradora de Itaipava. 





































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