Caçador Uaiká Rio Marauia - Alto Rio Negro AM |
Receberam o nome de Índios, provávelmente porque Cristóvão Colombo pensou ter chegado às Indias quando chegou a essa nova terra que para êle era como que um novo planeta.
Parque Indígena do Xingu. Efeitos do Modo de Vida Urbano e da Urbanização sobre o Território Indígena (Resumo)
A criação do Parque do Xingu resultou de um longo processo de luta entre instituições do Estado brasileiro e setores da sociedade civil interessados no controle territorial e/ou privatização de terras. A superfície do parque corresponde a uma pequena parcela da vasta região onde se encontrava presente, já no início do século XX, uma variedade significativa de etnias indígenas, localizadas mais especificadamente na bacia do alto rio Xingu, no estado brasileiro de Mato Grosso. Em 1961, foi criado oficialmente no Alto Xingu o Parque Nacional do Xingu que, em 1973, por força do Estatuto do Índio, foi alterado na sua condição jurídica para parque indígena. A ampliação do Parque Indígena do Xingu é atualmente uma das principais reivindicações de líderes indígenas endereçadas a Funai – Fundação Nacional do Índio. A partir deste fato, inicia-se a análise sobre os efeitos do processo de instauração do modo de vida urbano e da urbanização do território brasileiro na atual dinâmica sócio-espacial do Parque Indígena do Xingu.
Com uma cultura inteiramente diferente da nossa e com valores também muito diferentes, revelam que podem sim nos ensinar. Tem valores diferentes e na parte espiritual podem nos passar valores que deveríamos ter mas absortos que estamos na ilusão do mundo material, custamos a nosdar conta.
Em 18 de Janeiro de 2007, a FUNAI relatou ter confirmado a presença de 67 tribos não-contactadas no Brasil (com 32 confirmadas ), mais do que foi relatado em 2005. Com este aumento, o Brasil ultrapassou a ilha da Nova Guiné(dividida entre Indonésia e Papua Nova Guiné) como região com maior número de tribos não-contactadas (entretanto, números da Papua Nova Guiné não estão disponíveis). Grupos indígenas no Brasil, em especial as tribos isoladas, são frequentemente envolvidas em conflitos e estão ameaçadas por desmatamentos, por invasões e pelo descaso governamental.
O Brasil é o país que possui o maior número de povos não-contactados em todo o mundo. As Terras Indígenas brasileiras que são reservadas exclusivamente para tribos isoladas, são as seguintes:
- Terra Indígena Alto Tarauacá, no Acre – Várias tribos. (Isolados do Alto Tarauacá)
- Terra Indígena Hi Merimã, no Amazonas – Hi-Merimã. (Isolados do médio Purus)
- Terra Indígena Massaco, em Rondônia – Sirionó (Isolados do rio São Simão)
- Terra Indígena Rio Omerê, em Rondônia – Kanoe do Omerê e Akuntsu
- Terra Indígena Rio Muqui, em Rondônia – Isolados das cabeceiras do rio Muqui
- Terra Indígena Kawahiva do Rio Pardo, entre os estados do Mato Grosso e do Amazonas – Isolados do Rio Pardo (Tupi-Guarani-Kawahibi).
- Terra Indígena Riozinho do Alto Envira, no Acre – Isolados do Riozinho/Envira. (Parte do grupo Papavo)
- Terra Indigena Xinane Isolados, no Acre – Não identificados.
- Terra Indígena Tanaru (em estágio de demarcação), em Rondônia – Apenas um único indivíduo, conhecido como o Índio do Buraco (ou Índio Tanaru). Os demais membros da tribo foram massacrados ou morreram por motivo de doença.
- Terra Indígena Jacareúba/Katawixi, no Amazonas
- Terra Indígena Igarapé Taboca do Alto Tarauacá, no Acre
Criança do povo Uaiká - Rio Marauia - Alto Rio Negro - AM |
Crianças Uaiká - Rio Marauia - Alto rio Negro - Amazonas |
Caçador Uaiká - Rio Marauia Alto Rio Negro - Amazonas |
- Terra Indígena Awá, no Maranhão – Guajás.
- Terra Indígena Nivarura, no Amazonas. Contactados pela primeira vez em 2010.
- Terra Indígena Avá-Canoeiro, em Goiás – Avá-Canoeiros.
- Terra Indígena Arara do Rio Branco, no Mato Grosso – Isolados da margem esquerda do médio Rio Roosevelt/Rio Branco.
- Terra Indígena Parque do Aripuanã, em Rondônia – Isolados da margem esquerda do médio Rio Aripuanã, Isolados do Rio Pacutinga/Aripuanã, Isolados do Médio Rio Branco do Aripuanã.
- Terra Indígena Bujiwa, no Amazonas. (Contactados pela primeira vez em 1943).
- Terra Indígena Caru, no Maranhão – Guajás (Isolados do igarapé Água Branca).
- Terra Indígena Inãwébohona (reserva sobreposta ao Parque Nacional do Araguaia) e uma pequena parte da Terra Indígena Parque do Araguaia, no Tocantins – Avá-Canoeiros (Isolados da Mata do Mamão).
- Terra Indígena Kampa e Isolados do Rio Envira, no Acre – Isolados do rio Envira.
- Terra Indígena Kaxinawá do Rio Humaitá, no Acre – Não identificados.
- Terra Indígena Koatinemo, no Pará – Não identificados.
- Terra Indigena Menkragnoti, no Pará – grupo Mengra Mrari.
- Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima – Não identificados, tendo sido descobertos em 2006. Estão localizados em área bem próxima ao Monte Roraima e ao Monte Caburaí (2 a 4 km da tríplice fronteira entre o Brasil, aVenezuela e a Guiana).
- Terra Indígena Mamoadate, no Acre – Mashko (Isolados do Alto Rio Iaco).
- Terra Indígena Jaminauá/Envira, no Acre – Isolados das cabeceiras do rio Jaminauá. (Parte do grupo indígena Papavo)
Crianças Uaiká - Rio Marauia - Alto rio Negro - Amazonas |
- Terra Indígena Rio Teá, no Amazonas – Quatro bandos do grupo dos Macu-nadebes: Cabeceira dos rios Waranaçu e Gururu, Médio rio Tiquié, Cabeceiras dos rios Curicuriari e Dji, e Cabeceiras do rio Teá. Outros dois bandos próximos ao rio Eneiuxi (Médio rio Eneiuxi) e ao rio Urubaxi (Cabeceira do rio Urubaxi e Bafuanã), são possivelmente do grupo dos Macu-nadebes.
- Terra Indígena Parque do Tumucumaque, no Pará – índios isolados da etnia Akurio.
- Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia – de quatro a seis grupos de índios isolados, incluindo os Isolados das cabeceiras do rio Muqui, os Isolados do rio Cautário, os Isolados das Cabeceiras do rio Água Branca e os Isolados doRio Jurureí.
- Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas – sete grupos de índios isolados: Cabeceiras do igarapé Santana e do igarapé Flexeira, Korubos, Isolados do Rio Coari-Rio Branco, Isolados do Rio Quixito, Isolados do Rio Jandiatuba, Isolados do Alto Rio Jutaí e Isolados dos rios Jaquirana/Amburus.
- Terra Indígena Waimiri Atroari, no Amazonas – índios isolados no Formadores do rio Alalaú (povo Piriutiti) e nos Formadores do rio Jatapu (povo Karafawyana ou Chamakoto).
- Terra Indígena Xikrin do Cateté, no Pará.
- Terra Indígena Araribóia, no Maranhão – Isolados dos rios Buriticupu e Taruparu.
- Terra Indígena Cuminapanema, no Pará – grupo dos Zo'é. São classificados como índios isolados pela FUNAI, mas já estão em processo de integração com a sociedade nacional.
Aves raras da Amazonia. |
Dois garotos Txucahamei enfeitados para a dança. - Parque Nacional do Xingu. |
Durante a dança do Yamoricumã as Indias Suiá usam a vestimenta ritual chamada Uluri (mini-Tanga). |
Feiticeiro dos índios Uaiká. - Rio MARAUIA - ALTO NEGRO - AMAZONAS |
India Surui - Rondônia - Com colares de tucúm e dentes de macaco. |
ENTERREM MEU CORAÇÃO NO DELTA DO AMAZONAS
Agradecimentos ao companheiro Claudio Ribeiro que nos enviou essa matéria.
Paulo Ramos Derengoski*
Quando o primeiro homem branco pôs os pés no litoral brasileiro – há quase quinhentos anos – recebeu, dos indiozinhos que se aproximaram sorrindo, um curioso presente: um cocar de penas brancas.
Meio envergonhado, ele retribuiu a oferta – e lhes deu um pesado sombreiro negro.
Tinham início as dolorosas relações entre “selvagens” e “civilizados”.
Começavam alegremente, terminariam mal. Pois dos cinco milhões de índios que naquela época viviam entre o Oiapoque e a barra do Chuí – entre o rio Javari e o Cabo de Santo Agostinho – hoje restam cerca de cem mil, na sua maioria desorientados, alquebrados, insanos, desdentados, entorpecidos, abobados.
Indio Ticuna com máscara em dia de festa. Alto Solimões. |
Foi na Amazônia que se desenvolveu a etapa mais dramática dessa destruição. Ali, em pleno Século das Luzes (2), um bando de molambentos se atirou sobre os indígenas, com o objetivo de se apossar de mão-de-obra barata para alimentar o monstro industrial da borracha.
A nação Waiká foi a primeira a receber o impacto. Sobre os Xirians caíram os abutres do ramo mercantil: mascates, comerciantes de armas e de cachaça. Os Guaharibos tiveram destruídas as habitações que constituíam a base de sua vida comunal primitiva – e se desintegraram.
Indio do povo Uaiká - Rio Marauia - Alto rio Negro AM |
Indios Uaiká preparando tubo para aspirar pó entorpecente. Rio Marauia - Alto Rio Negro amazonas |
Indios Yanomi - Rio Maturacá - Museu Indigena Salesiano. |
Entrava em cena um especialista em matar índios: o “bugreiro”, capanga de tocaias e traições, aborto tardio do bandeirante predador, deus do jaguncedo.
Nos extensos vales do Tapajós e do Madeira, os Torás e os Munducurus tentaram constituir uma barreira ao avanço do branco. Também o povo Parintin cobrou um alto preço (em sangue) pela borracha, que um dia foi extraída da floresta para fabricar os pneus das limusines das grã-finas da Cote d’Azur – ou dos carros de combate que iriam rolar nas areias do Ryff africano.
Carijós, Xucurus, Potiguaras: deles só resta a memória. Contra os Timbiras travou-se uma luta prolongada, porque os índios se refugiavam na Serra Geral, de onde raramente saíam. Mas, quando se tornava difícil destruí-los pela guerra, eram atraídos para a periferia dos povoados sórdidos, onde as doenças e o álcool se encarregavam do resto.
Jovem India Suiá - Enfeitada para o cerimonial do YAMARICUMÃ Rio Suiá Missu - Reserva Indígena do Xingu. |
Algumas nações foram jogadas contra outras, como os Crahós, que se especializaram em escravizar seus irmãos, para vendê-los aos brancos em troca de cachaça e sal. Somente os mais ariscos e alçados conseguiram sobreviver, como os Gaviões, que até hoje se escondem pelas margens do Tocantins.
No coração do Planalto Central, a nação Carajá foi das mais judiadas: os que restaram são atração turística na Ilha do Bananal, onde sacodem a bunda para fotografias coloridas.
Os ingênuos Xerentes – que chegaram a transformar d. Pedro II em seu “deus” - também desapareceram do mapa. No centro do país, ainda restam alguns Caiapós e Xavantes, que só sobreviveram por serem ferozes e arredios. E os Bororos, outrora notáveis pela robustez física, entraram em decadência.
Mocinha Txucahamei enfeitada para a festa do Jaboti - Parque nacional do Xingu. |
Tristes trópicos: Cadiveus, Guanás, Otis, Terenas, todos se acabaram. Alguns tomados de impulsos místicos alucinatórios, se suicidaram – ou fugiram em direção ao mar, numa ânsia louca de liberdade. Outros terminaram mendigando à beira das estradas asfaltadas do progresso, como os Botocudos, os Maxacalis e os Pataxós. No sul, os descendentes dos Cainguangues e dos Xoklengues se subdividiram em pequenas tribos, para fugir à penetração dos colonos.
Erro fatal: “bugreiros” profissionais foram contratados para extermina-los até à morte.
Mas, não tenhamos ilusões... Apesar de todos os discursos (e artigos bonitos) estamos na antevéspera da descida do pano sobre a tragédia de nossas populações autóctones.
Poderoso Pajé - Tribo Kamayurã - Alto Xingu - MT |
Preparo do Piqui Silvestre - Tribo indígena dos Cuicuros no Rio Curisevu - Parque Nacional do Xingu. |
E quando raiar o milênio, quando alvorecer o século XXI entre as neblinas das florestas brasileiras, os índios já não poderão contemplar o brilho das espadas e a beleza dos estandartes.
Preparos para a festa do pequi na aldeia dos índios Kuicúro no alto Xingu. |
(*) Paulo Ramos Derengoski é jornalista e agricultor em Santa Catarina.
Tribo Mehinaku - Alto Xingu |
(1) Alusão ao livro “Enterrem meu coração na curva do rio”
(2) Século XIX
Jovem índia Camaiurá em sua maloca - Parque Nacional do Xingu |
Caçador Uaiká - rio Marauiá - Alto rio Negro - AM |
Caçador Uiaká - Rio Marauia - Alto rio Negro Amazonas |
Cocoti menino Laualapiti do rio Tuatuari com peixe Pacu flexado por ele - Reserva Indígena do Xingu. |
Dança ritual YAMACURIMÃ executada pelos Suiá e Trumai no alto Xingu. Reserva Indígena do Xingu |
Dança ritual YAMARICUMÃ executada pelas mulheres Suiás e Trumai - Alto Xingu - Reserva Indígena do Xingu. |
Dança ritual YAMARICUMÃ executada pelas mulheres Suiás e Trumai no Alto Xingu. Reserva indígena do Xingu. |
Indio Ticuna com máscara em dia de festa - alto Solimões |
Indios Txucahamei - Parque Nacional do Xingu |
Jovem índia Suiá - Parque Nacional do Xingu |
Jovem índia Uiaká - Rio Marauia - Alto rio Negro Amazonas |
Macuritza - Jovem índio da tribo dos Mehinaku Rio Tuatuari - Parque Nacional do Xingu. |
Menina moça Marúbo do rio Itui AM com pote de cerâmica. |
Mocinha Suiá com flocos de mandioca. Reserva Indígena do Xingu |
Menino Juruna Flexando - Reserva Indígena do Xingu |
Menino Uaiká, da tribo Pukimabuetéri - Rio Marauia - Alto rio Negro - Amazonas - 2 |
Meninos Laualapiti com raposa doméstica - Reserva indígena do Xingu. |
Mocinha da tribo dos Jurunas - Parque Nacional do Xingu |
Mocinhas Iualapiti no rio Tuatuari - Reserva Indígena do Xingu. |
Mocinhas Laualapiti no rio Tuatuari - Reserva indígena do Xingu |
Museu do Indio - Manaus - AM |
Têve, garoto Camaiurá pescando no rio Koluene - Reserva Indígena do Xingu. |
Índia Uaiká confeccionando seu colar de missangas. Rio Marauia - Alto rio Negro - AM |
Durante a dança do Yamoricumã as Indias Suiá usam a vestimenta ritual chamada Uluri (mini-Tanga). |
Indio Cinta Larga nas margens do Rio Aripuanã - Rondonia |
Jovem India Suiá - Enfeitada para o cerimonial do YAMARICUMÃ Rio Suiá Missu - Reserva Indígena do Xingu. |
INDIOS DA AMÉRICA DO NORTE
AMOR A NATUREZA
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Quem é o dono da pureza do ar e do resplendor da água?
(Seattle, chefe da nação Duwamish, do Estado de Washington, em resposta ao Presidente Franklin Pierce, dos EUA, em 1855, depois de receber a proposta do governo de comprar o território de seu povo)
“O Grande Chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar a nossa terra.
O Grande Chefe assegurou-nos, também, de sua amizade e benevolência. Isto é muito gentil de sua parte, pois sabemos que não precisa de nossa amizade.
(Seattle, chefe da nação Duwamish, do Estado de Washington, em resposta ao Presidente Franklin Pierce, dos EUA, em 1855, depois de receber a proposta do governo de comprar o território de seu povo)
Cacique Seattle é tida como uma profunda declaração de amor ao Meio Ambiente, brotada do coração puro e simples de um índio cheio de reconhecimento à Natureza por tudo de bom que ela dá ao homem. Eis a resposta:
A "CARTA" DO CACIQUE SEATTLE
Introdução: o cenário histórico
A equipe de Floresta Brasil fez uma pesquisa sobre a história da carta que o cacique Seattle teria mandado ao presidente norte-americano Franklin Pierce, em 1854, em resposta à proposta deste último de comprar terras que até então tinham “pertencido” à sua tribo.
Antes de continuarmos, parece oportuno observar que a palavra “chief”, da língua inglesa, tem como correspondente na língua portuguesa a palavra “cacique”. Assim, se estivermos falando português, parece mais adequado nos referirmos à personalidade que teria escrito a carta como “cacique Seattle”, e não "chefe Seattle".
Um outro aspecto que resultou de nosso estudo é que descobrimos, para nossa surpresa, que é possível encontrar várias versões dessa "carta". O que imediatamente traz a dúvida: Qual das versões seria a “carta” verdadeira? Pois bem, continuando a pesquisa, descobrimos que muito provavelmente o cacique Seattle jamais escreveu carta alguma com o conteúdo que lhe é atribuído, ao presidente Franklin Pierce.
O que terá acontecido então?
Pois bem: segundo as fontes que pesquisamos, os índios Duwamish habitavam a região onde atualmente se encontra o estado de Washington - no extremo Noroeste dos Estados Unidos, fazendo divisa com o Canadá. E a famosa "carta" parece ter sido, na verdade, um texto publicado em um jornal local baseado na inspirada reflexão que o cacique Seattle fez para sua tribo, reunida naquele deslumbrante cenário natural, sobre as relações do homem com a Natureza, em resposta à proposta presidencial, de compra de terra, trazida pessoalmente pelo recém-chegado encarregado de assuntos indígenas do governo norte-americano.
O primeiro registro conhecido sobre a fala do cacique Seattle parece ser um artigo publicado pelo Dr. Henry Smith, no Jornal Seattle Sunday Star, em 1887. O Dr.Smith teria estado presente quando do pronunciamento do Grande Cacique, tendo o texto do artigo se baseado nas anotações que seu autor teria feito na ocasião do discurso.
Para uma melhor compreensão do discurso em si um discurso cujo conteúdo e cujas palavras ainda hoje, passado mais de um século, soam tão sábias e profundas - resolvemos oferecer aos interessados no assunto 2 (dois) textos:
- o primeiro texto traz a impressionante descrição que o Dr. Smith fez sobre o local onde o fato ocorreu, sobre a atitude dos ouvintes - de profundo silencio e atenção e, mais impressionante ainda, sobre a forte, solene e carismática personalidade do orador e, finalmente, sobre a forma com que a fala foi proferida. De fato, o cenário descrito faz com que nos perguntemos se aquele não foi um daqueles raros e mágicos momentos da história da humanidade em que um coração forte, sensível e inspirado, consegue verbalizar palavras que chegam fundo no coração de outros homens. Mesmo que estes outros homens, como nós, tomem conhecimento daquelas palavras muitos e muitos anos depois... Confirmando o que disse Seattle: “Minhas palavras são como as estrelas, que não empalidecem”
- o segundo texto é o pronunciamento do cacique propriamente dito. A versão que apresentamos é a tradução de uma das mais famosas versões divulgadas durante a década de 70. A foto do Grande Cacique Seattle (1787-1866) é de autoria de E.M.Sammis: seu original encontra-se na “Special Collection” da Universidade de Washington, sob o nº NA 1511.
Ambos os textos, do artigo do Dr. Henry A. Smithe e do pronunciamento em si, foram obtidos, em inglês, no site:
O texto do artigo do Dr. Henry Smith, que se encontra logo abaixo, foi traduzido pela equipe de Floresta Brasil diretamente do artigo original, publicado em inglês em 1887, que se encontra na seção em língua inglesa de nossa página (http://www.florestabrasil.org.br).
"O velho cacique Seattle era o maior índio que eu jamais havia visto. E o que tinha aparência mais nobre. Em seus mocassins, ele media mais de 1,80m, ombros largos, tórax amplo e traços finos. Seus olhos eram grandes, inteligentes, expressemos e amigáveis quando em repouso, e espelhavam fielmente os variados estados de espírito da grande alma que olhava através deles. Normalmente ele era solene, calado e digno, porém nas grandes ocasiões movia-se na multidão como um Titã entre Liliputianos, e o que dissesse era lei.
Quando se levantava para falar, em reuniões, ou para oferecer conselho, todos os olhos se voltavam para ele, e então frases profundas, sonoras e eloqüentes fluíam de seus lábios assim como trovões de cataratas fluindo continuamente de fontes inexauríveis. Suas diretrizes soavam tão nobres como teriam soado aquelas do mais cultivado chefe militar que estivesse no comando das forças de todo o continente. Nem sua eloqüência, nem sua dignidade ou sua graça haviam sido adquiridas. Elas eram tão próprias da sua personalidade quanto as folhas e as flores o são em um pessegueiro em flor.
Sua influência era maravilhosa. Ele poderia ter sido um imperador, mas todos os seus instintos eram democráticos, e ele comandava os seus leais cidadãos com suavidade e com paternal benignidade.
Ele sempre era alvo de especial atenção pelo homem branco, principalmente quando sentado à sua mesa. Era nessas ocasiões que ele demonstrava, mais do que em qualquer outro lugar, o cavalheirismo que lhe era genuíno.
Assim que o Governador Stevens chegou em Seattle e disse aos nativos que tinha sido indicado com comissário para assuntos indígenas para o território de Washington, estes lhe prepararam recepção frente dos escritórios do Dr. Maynard's, na margem próxima da Rua Principal - Main Street.
A baía enxameava de canoas enquanto a margem esta tomada por uma morena e movimentada massa humana. Quando o timbre de trombeta da voz do velho cacique espalhou-se sobre a imensa multidão como o rufar de um tambor, formou-se um silêncio tão instantâneo e perfeito como aquele que segue o crack do trovão em um céu limpo.
Sendo então apresentado à multidão nativa pelo Dr. Maynard, em um tom conversacional, direto e objetivo, o Governador deu imediatamente início a uma explanação sobre sua missão, que é conhecida demais para que requeira recapitulação.
Quando ele se sentou, o cacique Seattle levantou-se com a dignidade de um senador que carrega em seus ombros a responsabilidade sobre uma grande nação.
Colocando uma mão sobre a cabeça do Governador, e lentamente apontando para o céu com o dedo indicador da outra, em tom solene e impressionante, começou seu memorável pronunciamento.
Fonte: "Trechos de um diário: O Cacique Seattle: Um cavalheiro por instinto". 10º artigo da série “Primeiras Reminiscências” - Seattle Sunday Star, 29 de outubro de 1887 do articulista Henry Smith (tradução livre, pela equipe de Floresta Brasil)
CARTA DO CACIQUE SEATTLE
“O Grande Chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar a nossa terra.
O Grande Chefe assegurou-nos, também, de sua amizade e benevolência. Isto é muito gentil de sua parte, pois sabemos que não precisa de nossa amizade.
Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O Grande Chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz, com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.
Minha palavra é como as estrelas – elas não empalidecem.
Como poder comprar ou vender o céu ou o calor da Terra?
Tal idéia nos parece estranha.
Se não somos os donos da pureza e do frescor do ar ou do resplendor da água, como é possível comprá-los?
Performance dos Índios Canadenses em sua colorida dança tribal. |
Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo reluzente do pinheiro, cada punhado de areia das praias, cada véu de neblina na floresta densa, cada clareira e cada inseto a zumbir são sagrados nas tradições e na memória do meu povo.
A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do Homem Vermelho.
O Homem Branco esquece a sua terra natal quando, depois de morto, vai vagar por entre as estrelas.
Nossos mortos jamais esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do Homem Vermelho. Somos parte desta terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia – são nossos irmãos. As cristas rochosas, os sulcos úmidos das campinas, o calor que emana do corpo de um mustang, e o Homem – todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o Grande Chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós.
O Grande Chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Por conseguinte, iremos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não vai ser fácil. Esta terra é sagrada para nós.
Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais.
Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos conta os acontecimentos e as recordações da vida de meu Povo.
O murmúrio d’água é a voz de meu pai, de meus antepassados.
Os rios são nossos irmãos, pois saciam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra, terás de lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são nossos irmãos e teus também. Portanto, terás de dispensar aos rios a afabilidade que dedicarias a um irmão.
Sabemos que o Homem Branco não compreende o nosso modo de viver, os nossos costumes. Para ele, uma porção de terra é igual a outra, tem o mesmo significado que qualquer outra, porque ele é como um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga. E, depois que a conquista, ele vai embora, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e não se incomoda. Arrebata a terra das mãos de seus filhos, e não se importa. Ficam esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata a sua Mãe – a Terra – e seu Irmão – o Céu – como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelhas ou miçangas cintilantes.
Sua voracidade arruinará a Terra, deixando para trás apenas um deserto.
Não sei. Nossos modos de vida, nossos costumes, diferem dos teus. A visão de tuas cidades fere os olhos do Homem Vermelho. Mas, talvez, isto seja assim por ser o Homem Vermelho um “selvagem” que de nada entende.
Não há sequer um lugar calmo nas cidades do Homem Branco. Não há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das asas de um inseto.
Mas, talvez, assim seja por ser eu um “selvagem” que nada compreende.
O barulho parece apenas insultar os ouvidos.
Indio canadense com sua vestimenta de guerra. |
Restará dar adeus à andorinha e à caça.
O fim da vida e o começo da luta para sobreviver.
Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais as visões do futuro que oferece às suas mentes para que possam formar desejos para o dia de amanhã.
O primogênito da tenda é o chefe da tenda mas quando se torna fraco com a idade precisa de uma razão para viver. |
Somos, porém, “selvagens”. Os sonhos do homem branco são para nós ocultos. E por serem ocultos, temos de escolher nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometeste. Lá, talvez, possamos viver os nossos últimos dias conforme desejamos. Depois de o último Homem Vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nestas florestas e praias, porque nós as amamos como ama um recém-nascido o bater do coração de sua mãe.
Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse. E com toda a tua força, o teu poder e todo o teu coração, conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos.
De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.”
Performance dos Índios Canadenses em sua colorida dança tribal. |
Notas
(*) 1) – Curiango – ave noturna
2) – Bisão – búfalo selvagem das pradarias norte-americanas
3) – Cavalo-de-ferro - trem
4) - “... Vocês brilharão intensamente, com fulgor, abrasados...” - Referência ao holocausto nuclear?
5) - “... fios que falam...” – Telégrafo
Traduzido dos fragmentos publicados na revista “Norsk Natur” 10 (1), 1974, Oslo, Noruega, e United Nations Environment Programme – Media Pack’76, por Roberto Tamara. Adaptado, também, da tradução de Irina O. Bunning.
Ouvindo o familiar som da grande floresta Canadense, o chefe Índio veste a sua tradiconal indumentaria para uma celebração especial. |
Sobre o assunto de terras dos índios, manifestou-se Michael Black no artigo “Enterrem meu coração em Wounded Knee”, publicado em “The Mother Earth News”, número 12, novembro de 1971, North Madison, Ohio, nos seguintes termos:
“... o índio percorre as suas terras tribais pacificamente e com simplicidade, com grande reverência pelo país e seus habitantes. Depois, vem o homem branco, aos tropeções, para alcançar os campos auríferos da Califórnia ou as ricas glebas dos altiplanos. O índio não passa de coisa irritante, de uma barreira incômoda que tem que ser removida e posta de lado, se é que se deve cumprir o destino manifesto. As boas terras são roubadas e designadas como reservas as terras que o homem branco desprezou ou já saqueou. Aqueles que não querem ir para as reservas são caçados impiedosamente. Às vezes, mesmo aqueles que haviam concordado em ir, são atacados (por exemplo, Sand Creck) e ocorrem massacres sobre os quais se estende o manto de segredo e que tornam My Lai (aldeia vietnamita destruída, junto com todos os habitantes, por um destacamento do Exército dos EUA, durante a guerra do Vietnã, cujo nome entra na história como símbolo da intolerância racial, política e ideológica) parecer obra de amadores. Uma vez dentro da reserva, o índio é freqüentemente forçado a se mudar outra vez, para mais longe da sua antiga terra natal, depois que é descoberto ouro ou se planeja uma estrada conveniente para a Costa Ocidental. Dentro da reserva, ele é alimentado com os restos de comida do homem branco pelos supervisores corruptos e inescrupulosos e as palavras de desabafo significam a morte”.
“É claro que o crime dos nossos antepassados é de um tipo como nunca antes o mundo chegou a ver. Não foi o crime de um louco só, como Hitler ou Stalin. Foi um crime perpetrado por uma nação inteira... uma nação que, não se contentando em subjugar pela força um povo, apressou-se a destruir um modo de vida inteiro...”
“Para uma nação poderosa como a nossa, conduzir uma guerra contra uns poucos nômades que lutam pela vida, em tais circunstâncias, é um espetáculo dos mais humilhantes, uma injustiça sem paralelo, um crime nacional dos mais revoltantes que mais tarde fará descer sobre nós ou nossos pósteros o julgamento do Céu” – Black Whiskers Sanborn, 1867. (Sanborn, junto com um punhado de outros, foi o amigo mais achegado que os índios em qualquer época tiveram no meio dos homens brancos).
“Vender a terra?... Por que não vender o ar, as nuvens, o mar imenso?”- Tecumseh, Chefe do povo Shawnee (1768-1813).
“Não se nos afiguravam como “selvagens” as grandes planícies abertas, as belas colinas onduladas e os rios serpenteando através do emaranhado da vegetação. Só para o homem branco, a Natureza não passava de sertões selvagens e somente para ele o país estava “infestado” de animais “ferozes” e de gente “selvagem”. Para nós tudo era mansidão.
A terra era generosa e por todos os lados havia bênçãos do Grande Mistério. Só quando vieram os homens barbudos do Leste e, com a fúria brutal, passaram a cumular de injustiças a nós e as famílias que amávamos, ela – a terra, tornara-se para nós selvagem. Foi quando os próprios animais da floresta começaram a fugir com a aproximação do homem do Leste que principiou para nós o Oeste Selvagem”. Cacique Luther Urso Em Pé, dos Oglala Sioux.
“Nós nos contentávamos em deixar as coisas permanecerem como o Grande Espírito as havia feito. Eles, os homens brancos, não se contentavam e até mudariam o curso dos rios se estes não lhes servissem como eram”. (Um índio Nez Percé).