Era o dia 28 de agosto de 1963. Uma multidão calculada em mais de 250 mil pessoas acabara de chegar à cidade de Washington, a capital dos Estados Unidos da América, atendendo aos apelos das principais lideranças negras daquela nação e objetivando apoiar aos esforços do presidente John Kennedy.
Milhares de homens de todas as localidades da América do Norte, aportavam naquele instante naquela cidade. Ali estavam presentes homens e mulheres das grandes cidades industriais do Norte. Ali se congregavam operários do Mississipi e do Alabama. Estudantes de Boston e de Nova Yorque, Brancos e Negros, Católicos e Protestantes. Aquela imensa massa humana percorrendo as principais ruas de Washington sem nem um só ato de agressividade, de violência, de rebeldia, apenas cantando e orando.
Encontravam-se agora em frente ao imenso monumento a Abraham Lincoln. Em um palanque improvisado iam discursando as principais lideranças negras, os políticos, os homens públicos, mas a multidão aguardava um instante especial. O momento em que deveria subir à tribuna a grande voz pela liberdade. O gigante negro, que estava revolvendo a estrutura social daquela nação, e foi nesse instante que subiu a tribuna um negro de 34 anos sereno e altivo e diante do silêncio absoluto de quase 300 mil pessoas. Ele começou dizendo.
- O caminho está cheio de asperezas, mas diante das fadigas e das humilhações eu tenho ainda um sonho. O sonho de que sobre as colinas verdes da Georgia, os filhos dos velhos escravos e os filhos dos antigos senhores hão de sentar-se à mesa da fraternidade.
- Eu sonho que o Mississipi será um dia um estado, onde as crianças brancas e as crianças negras poderão caminhar de mãozinhas dadas como irmãos e irmãs.
- Eu sonho que dia virá em que não precisaremos dizer à nossa filhinha de seis anos que ela não pode ir ao parque de diversões apenas porque tem a pele negra. Ou ainda que não seremos enxotados do bar da cidade, e poderemos tomar a nossa xícara de café como uma pessoa branca qualquer.
-Eu tenho ainda um sonho...
Enquanto o vibrante orador negro avançava em seu discurso, a multidão de mãos entrelaçadas balançando o corpo em cadência ritmada ia murmurando. "EU TENHO AINDA UM SONHO".
Caia a noite sobre a grande explanada e ao serem acesas as primeiras tochas, o gigante negro concluía o seu discurso com acentos de profeta.
- Com esta fé, eu volto para o sul. Com esta fé nós arrancaremos da montanha da angústia um pedaço de esperança. Com esta fé nós continuaremos trabalhando juntos. Orando juntos. Enfrentando a força física da discriminação com a nossa força moral. Certos de que um dia seremos livres.
Tratava-se da histórica marcha pela liberdade, e o gigante negro que comovera mais de 300 mil pessoas era o jovem pastor da Igreja Batista, reverendo Martin Luther King Junior, prêmio Nobel da Paz aos 35 anos. O mais jovem Nobel do mundo que em apenas 39 anos de vida física iria implantar mudanças tão profundas na sociedade Norte Americana que o dia de seu nascimento seria consagrado como feriado em todo o território nacional. Façanha só igualada por dois outros heróis dos Estados Unidos. Abraham Lincoln e George Washington.
A ação não violenta
Reflectindo na experiência, Martin Luther King apercebeu-se de que o movimento espontâneo que nascera devia ter uma filosofia de base. Teria que assentar em princípios, que, com o andar do tempo, se iriam pautar pela ação não violenta, não colaboração, resistência passiva. Mas foi inspirando-se no Mahatma Gandhi que o jovem líder negro encontrou resposta às suas interrogações. King sentia que a doutrina cristã do amor, vivida com o método gandhiano da não-violência, era uma das armas mais poderosas de que os negros podiam dispor na luta pela sua liberdade e dignidade.
Em 1959, Martin Luther King fez uma viagem à Índia para observar de perto o caminho percorrido pela não-violência. Estudou a fundo o satyagraha, o método de persuasão não violento, e ficou impressionado. Mas este caminho da não-violência ficará assinalado por inúmeras insídias e sofrimentos. King foi frequentemente ameaçado, agredido e espancado. Pelo menos vinte vezes preso. Fizeram explodir uma bomba diante da sua casa. Mas isso não o atemorizava, pelo contrário, reforçava nele a certeza de estar no «bom caminho».
Em 1963, encabeçou uma campanha pelos direitos civis no Alabama e em diversos estados do Sul. O objectivo era o fim da segregação e a inscrição dos negros nos cadernos eleitorais. A campanha deveria culminar na capital, Washington.
A força de 250 mil
Desde o alvorecer de 28 de Agosto de 1963 que às ruas de Washington começaram a afluir lentamente homens e mulheres, em resposta ao apelo de King e seus colaboradores. Vindos de todo o lado, os manifestantes pretendiam realizar uma jornada histórica, para lembrar à América os seus deveres para com os seus filhos negros, sem direitos e vítimas de toda a sorte de discriminações. Muitos brancos resolveram juntar-se ao cortejo. Neste mar de gente que engrossava sempre mais, a gente simples e anónima misturava-se com celebridades do mundo do cinema ou da música, tanto negros como brancos. Nos cartazes coloridos empunhados pelos manifestantes podia ler-se: «Queremos trabalho para todos»; «Exigimos o direito de voto»; «Chegou a hora de acabar com as leis segregacionistas nas escolas públicas»; «Dignidade e liberdade para o povo negro».
A marcha sobre Washington iniciava-se com um momento de apreensão para os organizadores. A televisão informava que os participantes eram apenas 25 mil. Uma má notícia, porque, pelos seus cálculos, deveriam ser pelo menos cem mil para que a iniciativa pudesse ter sucesso e impacto no Congresso. Martin Luther King e os seus amigos, Ralph Abernathy, Wyatt Tee Walk, Bayard Rustin, Walter Fauntroyr, Roy Wilkins – os verdadeiros organizadores da marcha – abandonam o Hotel Willard para se juntarem aos manifestantes reunidos por detrás da Casa Branca. Aí, surpreendidos e quase incrédulos, depararam com uma multidão de mais de 250 mil pessoas à sua espera. A marcha pôs-se então em movimento, com vários líderes à cabeça. Ao ritmo de cânticos gospel, entoados com exaltação, a longa caravana dirigiu-se ao monumento a Abraham Lincoln, pai da emancipação dos escravos, para as cerimónias oficiais. Eram 13.30 em Washington. No pódio alternavam-se os oradores com cantores de nomeada.
Um sonho improvisado
Chegou o momento. Martin Luther King, após ter sido apresentado por Abernathy, aproximou-se do microfone. O pastor, verdadeiro mago da palavra, arrastava o auditório desde as primeiras palavras. Constatava com amargura que, cem anos após a proclamação da emancipação por parte de Lincoln, o negro não tinha qualquer espécie de liberdade. Cem anos depois, a vida do negro encontrava-se ainda dolorosamente paralisada pelos grilhões da segregação e da discriminação. Cem anos depois, vivia numa ilha solitária de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o negro estava cada vez mais marginalizado pela sociedade americana e sentia-se um estranho no seu próprio país. King olhava para a multidão e exclamava: «Reunimo-nos aqui, hoje, para fazer explodir dramaticamente, à luz do sol, uma situação intolerável.» As palavras do líder negro tiveram o efeito de uma mola na multidão, já exaltada. Inebriada pela palavra do pastor, as pessoas rebentavam de entusiasmo. Aplausos e gritos de alegria iam-se alternando. Electrizado por aquela multidão febril, King esqueceu-se de que tinha apenas oito minutos para falar. Pôs de lado o discurso que preparara e falou de improviso. Dos seus lábios, como de uma fonte inexaurível, brotavam então palavras que transtornaram muita gente e que passarão à história. «O meu sonho é que um dia esta nação ressurja e viva segundo o verdadeiro sentido do seu credo, assente na evidente verdade de que todos os homens foram criados iguais. O meu sonho é que um dia, nas avermelhadas colinas da Geórgia, os descendentes dos escravos de outrora e os dos seus antigos proprietários se encontrem juntos, sentados à mesa da fraternidade. O meu sonho é que um dia também o estado do Mississípi, hoje atormentado pela violência da injustiça e da opressão, se transforme num oásis de paz e de justiça.»
Com uma tremenda salva de palmas, diante da estátua de Lincoln como testemunha, a multidão apoiava as palavras de King. Mais tarde, o pastor e os seus colaboradores no movimento pelos direitos civis foram recebidos na Casa Branca pelo Presidente John Kennedy. E quando o pano caiu definitivamente sobre esta jornada de 28 de Agosto de 1963, uma única esperança animava a maioria dos negros dos Estados Unidos: a sua liberdade e os seus direitos civis deixaram de ser uma ilusão.
Desde esse 1º de Dezembro de 1955 em Montgomery até Washington, muito caminho se fez. A marcha tornar-se-á a mais significativa e comovente manifestação em favor da liberdade e da justiça na história do país.
No ano seguinte foi atribuído a King o Prémio Nobel da Paz. A 10 de Dezembro de 1964, ao recebê-lo no Parlamento norueguês, King dirá: «Acredito que a justiça ferida, que hoje jaz nas ruas ensanguentadas dos nossos países, possa ser levantada do pó da vergonha e reine soberana entre os filhos dos homens... Creio ainda que um dia a humanidade se inclinará diante dos altares de Deus e receberá a coroa do triunfo sobre a guerra e o derramamento de sangue, ao mesmo tempo que a benevolência redentora da não-violência será proclamada lei geral. Creio ainda que nós venceremos: esta fé dá-nos a coragem para enfrentar as incertezas do futuro. Pode proporcionar novo vigor aos nossos pés cansados enquanto continuamos a avançar para a Cidade da Liberdade...» Nesse mesmo ano será recebido no Vaticano por Paulo VI.
Três meses após a marcha sobre Washington, o Presidente Kennedy foi assassinado. Lyndon Johnson, que lhe sucedeu, prometia acabar com a segregação e conseguiu a aprovação da lei sobre direitos civis. O presidente americano assinou-a a 2 de Julho de 1964, na presença de Martin Luther King. Mas, para o líder negro, esta lei não irá pôr fim à injustiça racial, porque era ambígua sobre o voto dos negros. A luta prosseguia. Terminou a 6 de Agosto de 1965, com a assinatura, por parte de Johnson, da lei sobre o direito de voto. Desta vez, o movimento pelos direitos civis realmente venceu.
Em Abril de 1968, King deslocou-se a Memphis para participar numa marcha em favor dos varredores da cidade. Enquanto se encontrava na varanda do hotel com alguns dos seus colaboradores, foram disparados, da casa em frente, dois tiros de espingarda: o pastor caiu sobre o parapeito e duas horas mais tarde falecia. Eram 17 horas do dia 4 de Abril. Dias depois, realizaram-se os funerais, em Atlanta: milhares de pessoas deram o último adeus ao grande líder negro.
Ainda hoje, os mandatários daquele assassínio continuam envoltos em mistério.
A ação não violenta
Reflectindo na experiência, Martin Luther King apercebeu-se de que o movimento espontâneo que nascera devia ter uma filosofia de base. Teria que assentar em princípios, que, com o andar do tempo, se iriam pautar pela ação não violenta, não colaboração, resistência passiva. Mas foi inspirando-se no Mahatma Gandhi que o jovem líder negro encontrou resposta às suas interrogações. King sentia que a doutrina cristã do amor, vivida com o método gandhiano da não-violência, era uma das armas mais poderosas de que os negros podiam dispor na luta pela sua liberdade e dignidade.
Em 1959, Martin Luther King fez uma viagem à Índia para observar de perto o caminho percorrido pela não-violência. Estudou a fundo o satyagraha, o método de persuasão não violento, e ficou impressionado. Mas este caminho da não-violência ficará assinalado por inúmeras insídias e sofrimentos. King foi frequentemente ameaçado, agredido e espancado. Pelo menos vinte vezes preso. Fizeram explodir uma bomba diante da sua casa. Mas isso não o atemorizava, pelo contrário, reforçava nele a certeza de estar no «bom caminho».
Em 1963, encabeçou uma campanha pelos direitos civis no Alabama e em diversos estados do Sul. O objectivo era o fim da segregação e a inscrição dos negros nos cadernos eleitorais. A campanha deveria culminar na capital, Washington.
A força de 250 mil
Desde o alvorecer de 28 de Agosto de 1963 que às ruas de Washington começaram a afluir lentamente homens e mulheres, em resposta ao apelo de King e seus colaboradores. Vindos de todo o lado, os manifestantes pretendiam realizar uma jornada histórica, para lembrar à América os seus deveres para com os seus filhos negros, sem direitos e vítimas de toda a sorte de discriminações. Muitos brancos resolveram juntar-se ao cortejo. Neste mar de gente que engrossava sempre mais, a gente simples e anónima misturava-se com celebridades do mundo do cinema ou da música, tanto negros como brancos. Nos cartazes coloridos empunhados pelos manifestantes podia ler-se: «Queremos trabalho para todos»; «Exigimos o direito de voto»; «Chegou a hora de acabar com as leis segregacionistas nas escolas públicas»; «Dignidade e liberdade para o povo negro».
A marcha sobre Washington iniciava-se com um momento de apreensão para os organizadores. A televisão informava que os participantes eram apenas 25 mil. Uma má notícia, porque, pelos seus cálculos, deveriam ser pelo menos cem mil para que a iniciativa pudesse ter sucesso e impacto no Congresso. Martin Luther King e os seus amigos, Ralph Abernathy, Wyatt Tee Walk, Bayard Rustin, Walter Fauntroyr, Roy Wilkins – os verdadeiros organizadores da marcha – abandonam o Hotel Willard para se juntarem aos manifestantes reunidos por detrás da Casa Branca. Aí, surpreendidos e quase incrédulos, depararam com uma multidão de mais de 250 mil pessoas à sua espera. A marcha pôs-se então em movimento, com vários líderes à cabeça. Ao ritmo de cânticos gospel, entoados com exaltação, a longa caravana dirigiu-se ao monumento a Abraham Lincoln, pai da emancipação dos escravos, para as cerimónias oficiais. Eram 13.30 em Washington. No pódio alternavam-se os oradores com cantores de nomeada.
Um sonho improvisado
Chegou o momento. Martin Luther King, após ter sido apresentado por Abernathy, aproximou-se do microfone. O pastor, verdadeiro mago da palavra, arrastava o auditório desde as primeiras palavras. Constatava com amargura que, cem anos após a proclamação da emancipação por parte de Lincoln, o negro não tinha qualquer espécie de liberdade. Cem anos depois, a vida do negro encontrava-se ainda dolorosamente paralisada pelos grilhões da segregação e da discriminação. Cem anos depois, vivia numa ilha solitária de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o negro estava cada vez mais marginalizado pela sociedade americana e sentia-se um estranho no seu próprio país. King olhava para a multidão e exclamava: «Reunimo-nos aqui, hoje, para fazer explodir dramaticamente, à luz do sol, uma situação intolerável.» As palavras do líder negro tiveram o efeito de uma mola na multidão, já exaltada. Inebriada pela palavra do pastor, as pessoas rebentavam de entusiasmo. Aplausos e gritos de alegria iam-se alternando. Electrizado por aquela multidão febril, King esqueceu-se de que tinha apenas oito minutos para falar. Pôs de lado o discurso que preparara e falou de improviso. Dos seus lábios, como de uma fonte inexaurível, brotavam então palavras que transtornaram muita gente e que passarão à história. «O meu sonho é que um dia esta nação ressurja e viva segundo o verdadeiro sentido do seu credo, assente na evidente verdade de que todos os homens foram criados iguais. O meu sonho é que um dia, nas avermelhadas colinas da Geórgia, os descendentes dos escravos de outrora e os dos seus antigos proprietários se encontrem juntos, sentados à mesa da fraternidade. O meu sonho é que um dia também o estado do Mississípi, hoje atormentado pela violência da injustiça e da opressão, se transforme num oásis de paz e de justiça.»
Com uma tremenda salva de palmas, diante da estátua de Lincoln como testemunha, a multidão apoiava as palavras de King. Mais tarde, o pastor e os seus colaboradores no movimento pelos direitos civis foram recebidos na Casa Branca pelo Presidente John Kennedy. E quando o pano caiu definitivamente sobre esta jornada de 28 de Agosto de 1963, uma única esperança animava a maioria dos negros dos Estados Unidos: a sua liberdade e os seus direitos civis deixaram de ser uma ilusão.
Desde esse 1º de Dezembro de 1955 em Montgomery até Washington, muito caminho se fez. A marcha tornar-se-á a mais significativa e comovente manifestação em favor da liberdade e da justiça na história do país.
No ano seguinte foi atribuído a King o Prémio Nobel da Paz. A 10 de Dezembro de 1964, ao recebê-lo no Parlamento norueguês, King dirá: «Acredito que a justiça ferida, que hoje jaz nas ruas ensanguentadas dos nossos países, possa ser levantada do pó da vergonha e reine soberana entre os filhos dos homens... Creio ainda que um dia a humanidade se inclinará diante dos altares de Deus e receberá a coroa do triunfo sobre a guerra e o derramamento de sangue, ao mesmo tempo que a benevolência redentora da não-violência será proclamada lei geral. Creio ainda que nós venceremos: esta fé dá-nos a coragem para enfrentar as incertezas do futuro. Pode proporcionar novo vigor aos nossos pés cansados enquanto continuamos a avançar para a Cidade da Liberdade...» Nesse mesmo ano será recebido no Vaticano por Paulo VI.
Três meses após a marcha sobre Washington, o Presidente Kennedy foi assassinado. Lyndon Johnson, que lhe sucedeu, prometia acabar com a segregação e conseguiu a aprovação da lei sobre direitos civis. O presidente americano assinou-a a 2 de Julho de 1964, na presença de Martin Luther King. Mas, para o líder negro, esta lei não irá pôr fim à injustiça racial, porque era ambígua sobre o voto dos negros. A luta prosseguia. Terminou a 6 de Agosto de 1965, com a assinatura, por parte de Johnson, da lei sobre o direito de voto. Desta vez, o movimento pelos direitos civis realmente venceu.
Em Abril de 1968, King deslocou-se a Memphis para participar numa marcha em favor dos varredores da cidade. Enquanto se encontrava na varanda do hotel com alguns dos seus colaboradores, foram disparados, da casa em frente, dois tiros de espingarda: o pastor caiu sobre o parapeito e duas horas mais tarde falecia. Eram 17 horas do dia 4 de Abril. Dias depois, realizaram-se os funerais, em Atlanta: milhares de pessoas deram o último adeus ao grande líder negro.
Ainda hoje, os mandatários daquele assassínio continuam envoltos em mistério.
Mas a luta de Martin Luther King Junior contra os preconceitos havia se iniciado muitos anos antes em certo dia do ano de 1955. Luther King acabara de assumir a igreja da cidade de Montgomery no estado de Alabama. Tinha então 26 anos quando um fato inusitado ocorreu naquela localidade. Uma costureira Negra de 42 anos de idade, Dona Rosa Parks, fatigada após um dia de trabalho tomou um ônibus para voltar para sua casa. Por sorte encontrou um lugar vazio à frente do coletivo e lá sentou-se. No entanto, decorridos alguns instantes, como outras pessoas adentrassem no ônibus e como algumas pessoas já estivessem de pé, o motorista estacionou o coletivo e disse:
- As pessoas negras que estão sentadas queiram se levantar e ceder o seu lugar para as pessoas brancas que estão de pé. Os senhores conhecem muito bem o regulamento da companhia de ônibus de Montgomery.
TIPO DE ÔNIBUS ONDE ROSA PARKS EMBARCOU. |
- Uma senhora negra que está sentada recusa-se a ceder o seu lugar às pessoas brancas que estão de pé.
Os policiais entraram no ônibus. Deram ordem de prisão à senhora Parks e a levaram detida para o distrito policial.
A notícia espalhou-se rapidamente. As comunidades negras daquela cidade não poderiam permanecer impassíveis. Organizaram-se conselhos, assembleias surgiram imediatamente, e foi neste dia que o jovem pastor Luther King com apenas 26 anos de idade decidiu assumir a liderança de um movimento contestatório.
- A partir de hoje, nem mais uma só pessoa negra andará em qualquer ônibus da cidade de Montgomery. Nós andaremos a pé. Nós andaremos de bicicleta. Os que tem carro levarão os que não tem carro mas a companhia de ônibus não verá um só centavo do bolso de uma pessoa negra desta cidade.
O movimento teve uma aceitação quase total. Praticamente cem por cento de adesão. E durante trezentos e oitenta e dois dias, nem uma só pessoa negra tomou qualquer coletivo naquela cidade.
Narra-se uma passagem comovente. Uma senhora idosa que fora visitar uma irmã enferma e que para isso caminhara a pé uma distância de mais de doze kilômetros, foi entrevistada por um repórter branco.
- Mas os seus pés não doem? As suas pernas não estão cansadas?
E ela disse.
-Sim. As minhas pernas doem. Ha! Os meus pés estão cansados! Mas a minha alma repousa como que dormindo!
E depois de trezentos e oitenta e dois dias a companhia de ônibus cedeu. O regulamento foi substituido. Os negros seriam tratados em pé de igualdade com as pessoas brancas. E a partir dessa vitória, Martin Luther King Júnior, iria conseguir muitas outras vitórias. Uma vitória após outra vitória sem jamais lançar mão da violência.
Martin Luther King ia estruturando a sua luta na resistência pacífica, mostrando aos milhares de homens brancos que apoiando a libertação do negro, eles se engrandeciam perante a própria consciência.
E foi no período mais difícil dessa jornada luminosa, quando o presidente John Kennedy seria cruelmente assassinado, e quando a KLU KLUX KLAN começou a atear bombas nas igrejas evangélicas, que o gigante da paz se mostraria mais radiante, mais fiel às suas convicções.
Narra-se que uma professorinha de uma escola para crianças brancas, tamanho era o ódio contra os negros, quando soube do assassinato do Presidente John Kennedy, pediu que os seus aluninhos se levantassem e batessem palmas em comemoração ao assassinato do amigo dos pérfidos negros daquela nação.
E foi nesse dia sombrio que alguém aproximou-se de Luther King e ofereceu-lhe um revolver.
- É para sua segurança reverendo. Nós precisamos do senhor vivo.
E a sua resposta é fascinante.
- Jamais! Eu sou um defensor da não violência. Eu não tenho o direito de portar arma, e depois o que realmente vale não é o "quanto se vive" mas é o "como se vive".
E Martin Luther King Junior soube viver como poucos. Centenas de viagens pelo interior da América e no exterior, muitas vezes dormindo em bancos de rodoviária. Em um só ano chegou a proferir trezentas e oitenta conferências. Movimentos pacíficos de protesto em mais de oitocentas cidades. Preso mais de vinte vezes. Vítima de vários atentados a bomba, apedrejamentos, espancamentos, e por fim o assassinato. Em apenas doze anos de vida pública sem ocupar nenhum cargo público ou político, Martin Luther King Junior fez mais pelo Negro Norte Americano, do alguém jamais o havia feito no século que o precedera.
E nesses dias em que nós estivemos revivendo a vida e a luta de Martin Luther King Junior, constatamos que examinar a luta de Martin Luther King Junior hoje é examinar a luta do homem moderno contra os preconceitos.
Nós estivemos meditando. Porque? Porque uma sociedade que tanto fala em liberdade, que tanto prega a igualdade, que tanto aspira pela solidariedade, ainda discrimina tanto?
O que tem levado o homem a odiar tão profundamente outros homens apenas pela cor da sua pele? Ou apenas pela sua condição social ou apenas pela sua condição econômica, ou por pertencer a uma minoria qualquer. Seja uma minoria religiosa, sexual, hetaria, racial. Onde estão as raízes do preconceito? Onde vamos encontrar as causas causais da discriminação? Da segregação racial e das suas diferentes modalidades?
Examinando as revelações proféticas, encontraremos as respostas para essas indagações. Os preconceitos, a discriminação a segregação tem suas raízes em outras condições muito mais graves e mais sérias. Ao lado do egoismo há outra condição muito mais grave, o câncer moral da humanidade. Trata-se essa condição do orgulho. É pelo orgulho que as humanidades tem se perdido sucessivamente.
Mas nós poderíamos perguntar aos leitores desse blog. Em que consiste o orgulho? Se nós tomarmos um dicionário e localizarmos o verbete "ORGULHO", vamos encontrar a seguinte definição. Trata-se o "ORGULHO" de um conceito muito elevado que alguém faz de si próprio. Trata-se o orgulho da exaltação da personalidade. Trata-se daquela condição em que a criatura humana se sente "MELHOR" do que os outros. Sente-se superior as outras pessoas e consequentemente atribui a si próprio direitos maiores.
E o curioso é que se nós formos fazer aqui e agora uma enquete pessoal. Uma pesquisa íntima e indagássemos de nós, quais de nós nos consideramos orgulhosos e de forma honesta, de forma sincera conosco mesmo, muito provavelmente alguns de nós responderíamos afirmativamente. Porque nós estamos acostumados a enxergar esse defeito nos outros.
Eu me recordo de que não a muito tempo, dirigíamos um estudo na congregação em que estamos estudando e falávamos dos dois vícios capitais. Do egoismo e do orgulho e falávamos da família do egoismo, dos defeitos que se originam do egoismo e da família do orgulho, os defeitos que nascem do orgulho e quando terminávamos a nossa exposição, uma companheira da casa, uma companheira honesta bem intencionada dizia-nos muito triste, decepcionada mesmo. "Jamais eu poderia imaginar que fosse tão orgulhosa".
O orgulho é daqueles defeitos que as pessoas menos confessam a si mesmas.
Procuremos então examinar a família do orgulho. Os defeitos que nascem da exaltação da personalidade. E poderíamos começar por um defeito extremamente comum. O personalismo. O personalismo é o defeito do "EU". EU SOU, EU MANDO, EU QUERO, EU DETERMINO, EU ESCOLHO, EU DIRIJO PORQUE EU SOU MELHOR, porque eu sou superior e então as minhas opiniões são as melhores opiniões, as minhas idéias são sempre as idéias mais originais. Os meus feitos são os feitos mais notáveis. A minha capacidade de renúncia é a capacidade de renúncia mais sublime. As minhas preocupações são as preocupações mais afligentes. Os meus problemas são os maiores problemas, as minhas desgraças são sempre as maiores desgraças, porque eu sou o CENTRO DO UNIVERSO. EGOCENTRISMO Então eu vejo o mundo a partir de mim mesmo. Sou o parâmetro para tudo o que ocorre ao redor de mim. Meço-me como exemplo para tudo. "FAÇA COMO EU". Seja como eu. Conduza-se como eu, porque eu não cometo erros. INFALIBILIDADE, ARROGÂNCIA, PREPOTÊNCIA, AUTORITARISMO.
Então eu vou responder de forma agressiva a qualquer comentário depreciativo que surja a meu respeito. Não admito críticas. Questiono todas as idéias que partem de fora. Eu estarei sempre diminuindo, ironizando, depreciando todo pensamento ou todo trabalho que vem de fora.
Conta-se que quando surgiu o primeiro aparelho de televisão ainda na década de 30, foram ouvir de um célebre engenheiro Norte Americano, o que ele pensava a respeito desse invento, a televisão, e a sua resposta hoje é cômica.
Quando surgiu o primeiro computador na década de 40/50, foram ouvir um outro físico também Norte Americano, o que pensava do computador. A sua resposta é também cômica nos dias de hoje.
Mas ao lado do personalismo poderemos citar outra viciação moral que se origina também do orgulho. Trata-se da vaidade. A vaidade que o escritor e psicólogo Brasileiro, Flávio Gikovate, considera como sendo o vício dos vícios.
Trata-se a vaidade, do desejo de merecer a aprovação dos outros. Consiste a vaidade, do prazer de chamar a atenção. Do desejo de ser elogiado, de destacar-se. Consiste a vaidade naquele desejo íntimo de ser considerado uma pessoa especial, uma pessoa diferente. De chamar a atenção, e lembra-nos o escritor Flavio Gikovate que poucas condições estão tão inerentemente ligadas à criatura humana, quanto a vaidade.
Se uma criança recebe uma correntinha de ouro, coloca no pescoço e fica toda alegrinha quando alguém observa, é vaidade. Se eu apresento para os meus amigos a minha namoradinha nova e ela é bonitinha, é vaidade. Se ela é feia é burrice. Se eu compro o carro novo, o carro do ano, alguém vê, faz algum comentário e eu estico o meu ouvido para perceber o que estão falando, é vaidade. Se mostro para os meus amigos a minha gorda caderneta de poupança ou falo das minhas ultimas conquistas amorosas, é vaidade. Se faço um prato saboroso e os amigos comem até cansar mas ninguém diz nada e eu então pergunto.
Nada escapa da vaidade, acrescenta Flavio Gikovate. Nem mesmo a atividade intelectual. E diz esse autor. Ninguém é mais vaidoso do que o intelectual. Aquele que julga saber muita coisa. Não perde a oportunidade de mostrar o seu talento, de mostrar a sua cultura, e ele então, cita datas, enumera nomes, mostra o seu conhecimento. VAIDADE.
Se falo excessivamente de mim mesmo, dos meus feitos, ou dos feitos dos meus filhos ou dos meus netos ou se falo ainda excessivamente dos meus problemas ou das minhas desgraças, é VAIDADE. Mas se não falo nada com medo do que os outros vão pensar, não é timidez. É VAIDADE.
E finalmente acrescenta Flávio Gikovate, se alguém afirma "EU NÃO TENHO VAIDADE!", está dando provas de VAIDADE. A vaidade de não ser vaidoso.
Duas jovens conversavam animadamente, quando uma disse para a outra:
A HUMILDADE o antídoto contra o orgulho e suas manifestações. Analisemos agora os recursos que teremos para compreender na sua essência o conceito de humildade.
Porque há ainda muito embaraço, muita confusão, muita má interpretação dessa virtude. A HUMILDADE. É que nós nos acostumamos a confundir Humildade com duas condições. Confundimos humildade em primeiro lugar com um condição. Falo da aparência exterior. Com a maneira de vestir-se, com trajes ou com propriedades, com posses.
Narram as tradições, que a roupa que Jesus usava era uma roupa de ótima qualidade. Roupa usada pelos príncipes. Segundo as tradições, Maria a mãe de Jesus, era uma espécie de costureira. Ela tecia para as famílias ricas. Então recebia panos e fazia trajes para Jesus. E Jesus usava.
Há um fato registrado na história da filosofia que é um exemplo marcante. Certo filósofo cínico de nome Antistenes, que acreditava que a humildade estivesse em não ter nada, desfez-se de todos os seus bens e andava com um manto todo andrajoso cheio de buracos. Certa feita, Antístenes foi visitar o notável filósofo Sócrates. Adentrou-se na residência do Filósofo e disse a êle.
Pode-se viver na mais sublime modéstia ou no ambiente do mais requintado luxo e pode-se igualmente expirar-se orgulho por todos os poros, na mais absoluta miséria.
João XXIII o mais querido Papa da história, respirava e vivia modéstia absoluta, vivendo no mais requintado luxo do mundo, o Vaticano.
De certa feita um garoto de oito anos, disse ao Papa João XXIII que ele estava em dúvida, sobre se quando crescesse seria Papa ou policial.
João XXIII disse-lhe então.
Certa Feita, Ford foi convidado pelo Presidente dos Estados Unidos da América para um jantar na Casa Branca, em homenagem ao Rei e a Rainha da Inglaterra.
Ford recusou o convite muito gentilmente, mandando dizer ao presidente que aquela noite ele não poderia ir. O clube de jardinagem de sua esposa, tinha uma reunião e ele não gostaria de faltar.
Mas nós confundimos ainda humildade com uma segunda condição. Confundimos humildade com subserviência. Com submissão sistemática.
Tomemos como exemplo, um oficial Nazista da Segunda grande Guerra. Era submisso? SIM. Extremamente submisso, ao regimento, aos oficiais superiores, ao imperador. Era humilde? NÃO.
Busquemos nos evangelhos a figura de Jesus. A alma da humildade. Era Jesus subserviente? Era o Cristo submisso? JAMAIS! Tão altivo e digno que rompeu com diversos dogmas do Judaismo. Fazia questão de curar nos Sábados, para mostrar a inutilidade de se reservar um dia. Rompeu com inúmeros dogmas. Não oferecia sacrifícios a Deus Jeová como rezava a tradição Judaica, e quando Jesus vai ser entrevistado por Pilatos, vamos encontrar o Cristo com toda a sua humildade mas com altivez, com dignidade, mantendo as suas idéias, pois sabia serem as suas idéias as idéias corretas.
E há uma passagem no evangelho que é notável. Quando Jesus vai ser interrogado pelo sumo sacerdote Anás. Em certo momento Jesus dá uma resposta a Anás, e o soldado que o escoltava considera aquela resposta algo atrevida. Então aproxima-se do Cristo e o esbofeteia na face, e é um ato de extrema covardia porque Jesus estava com as mãos atadas. Mas o Cristo volta-se para ele e diz.
Porque a humildade caro leitor, é uma conquista interior. A humildade é uma atitude íntima. Vamos encontrar a humildade na renúncia, na abnegação, na paciência, na tolerância sem subserviência, no perdão. Vamos encontrar a humildade, na calma, na mansuetude, na resignação, no sentimento de igualdade para com todos, no respeito a opinião do próximo, por mais absurda que seja essa opinião.
Vamos ver ainda a humildade, naquelas almas que trazem os corações sensíveis à concórdia, à renovação ou naquelas mentes abertas ao progresso, sensíveis que são ao auxílio que vem de fora, ao esclarecimento que vem de fora.
Disse notável pensador americano Emmerson.
Alex Halley, autor do livro Raízes, tinha em seu escritório um quadro a óleo muito estranho. O quadro mostrava uma cerca de madeira e em cima da cerca uma imensa tartaruga. Certa feita um amigo foi visitar Halley, e indagou.
E ensina-nos a providência. "O excesso de escrúpulos é tão prejudicial quanto a sua falta."
Quando o grande missionário que foi São Francisco de Assis foi convidado pelos prepostos de Jesus para reerguer a igreja do Cristo, Francisco com a sua humildade incomparável começou a reunir pedras para reerguer uma velha igreja fincada no território da Umbria. Mas quando o Cristo aparece para ele e lhe diz.
São Francisco com a mesma humildade se agiganta e vai falar com o Papa e dizer onde estavam os erros e qual o caminho a seguir.
Eu me recordo de uma experiência que presenciei envolvendo uma atendente de enfermagem, mas jovem notável. Estava um psiquiatra de plantão em uma clínica psiquiátrica da cidade, quando a enfermeira chefe o chama ao telefone, e o pede que vá conversar com um doente internado. Tratava-se de um psicopata, um doente mental. Esse doente se recusava a tomar o remédio. Esse doente fora internado naquela manhã. O seu médico atendente fizera a prescrição e fora embora, e agora no horário da tarde ele se recusara a tomar a droga. Ela já tinha conversado com ele vários minutos e não conseguira convencê-lo. Pediu então que eu fosse fazer uma tentativa.
O psiquiatra então foi, chegou-se à enfermaria, sentou-se do lado do doente, e ele muto agitado não queria a internação, fora internado obrigado, e o psiquiatra tentava convence-lo argumentando que se tomasse o remédio iria melhorar mais rápido, e melhorando mais rápido iria embora mais cedo, e foi falando vários minutos e nada.Ele não queria tomar. O psiquiatra então chamou o enfermeiro e foi enfático.
Chegou-se então o psiquiatra para a Atendente de enfermagem e disse.
A humildade em primeiro lugar em dividir o mérito, em reduzir a vitória, e a humildade de tentar fazer quando outros teoricamente mais capazes haviam fracassado.
Porque a humildade está sobretudo em fazer, em produzir, em gerar frutos, apesar de nós mesmos, apesar de nossas limitações, apesar de nossas fraquezas, mas sem culpas, sem cobranças, sem remorços. Porque o complexo de inferioridade como já dissemos é manifestação do orgulho. O medo de errar é igualmente manifestação do orgulho, mas a vitória de tentar acertar é a vitória da humildade.
Para concluirmos nos reportamos a um fato admirável narrado por um psiquiatra dos Estados Unidos o Dr. Louile Dailler.
A história se passa com uma sua cliente uma jovem de dezesseis anos de nome LUAN.
Luan era a melhor aluna do colégio desde o primeiro ano em que se iniciara nos estudos. Luan fora sempre uma estudante nota dez. Sempre tirara a melhor nota em tudo. Mas era Luan extremamente neurótica. Cheia de tiques, de fraquezas, passando por períodos graves de angústia, de depressão e ela não podia entender. A melhor aluna da turma, a melhor sempre e tão cheia de problemas. Decidiu então procurar um terapeuta. O Dr. Louile Dailler. O Dr. Dailler começou a conversar com ela. Perguntou a ela sobre o seu namorado. Ela nunca o tivera. Perguntou sobre a igreja que frequentava. Das atividades sociais em que estava engajada. Ela jamais ia a igreja. Perguntou de suas amigas intimas, dos seus amigos. Ela não os tinha. Perguntou sobre os seus ídolos da juventude, seus cantores prediletos, os seus romances. Ela também não os tinha.
Luan colocara todo o peso da sua convicção em ser a melhor, em ser a primeira aluna da turma, em ser uma estudante de sucesso.
O Dr. Dailler começou então a dizer para ela.
E foi falando, falando durante vários meses.
Certo dia o Dr. Dailler está em seu escritório quando toca o telefone. Ele vai atender. É a mãe de Luan, mais neurótica do que a filha. E a mão de Luan diz a ele:
E o Dr. Dailler então diz a ela.
Que nós possamos caros leitores, incorporarmos aos nossos corações essas palavras do Dr. Dailler.
Nós podemos fracassar em qualquer coisa na vida sem sermos um fracasso como pessoas. Nós não podemos permitir que aquilo que ainda não sabemos fazer, interfira com aquilo que nós já sabemos fazer.
MUITA PAZ.
Mas nós poderíamos perguntar aos leitores desse blog. Em que consiste o orgulho? Se nós tomarmos um dicionário e localizarmos o verbete "ORGULHO", vamos encontrar a seguinte definição. Trata-se o "ORGULHO" de um conceito muito elevado que alguém faz de si próprio. Trata-se o orgulho da exaltação da personalidade. Trata-se daquela condição em que a criatura humana se sente "MELHOR" do que os outros. Sente-se superior as outras pessoas e consequentemente atribui a si próprio direitos maiores.
E o curioso é que se nós formos fazer aqui e agora uma enquete pessoal. Uma pesquisa íntima e indagássemos de nós, quais de nós nos consideramos orgulhosos e de forma honesta, de forma sincera conosco mesmo, muito provavelmente alguns de nós responderíamos afirmativamente. Porque nós estamos acostumados a enxergar esse defeito nos outros.
Eu me recordo de que não a muito tempo, dirigíamos um estudo na congregação em que estamos estudando e falávamos dos dois vícios capitais. Do egoismo e do orgulho e falávamos da família do egoismo, dos defeitos que se originam do egoismo e da família do orgulho, os defeitos que nascem do orgulho e quando terminávamos a nossa exposição, uma companheira da casa, uma companheira honesta bem intencionada dizia-nos muito triste, decepcionada mesmo. "Jamais eu poderia imaginar que fosse tão orgulhosa".
O orgulho é daqueles defeitos que as pessoas menos confessam a si mesmas.
Procuremos então examinar a família do orgulho. Os defeitos que nascem da exaltação da personalidade. E poderíamos começar por um defeito extremamente comum. O personalismo. O personalismo é o defeito do "EU". EU SOU, EU MANDO, EU QUERO, EU DETERMINO, EU ESCOLHO, EU DIRIJO PORQUE EU SOU MELHOR, porque eu sou superior e então as minhas opiniões são as melhores opiniões, as minhas idéias são sempre as idéias mais originais. Os meus feitos são os feitos mais notáveis. A minha capacidade de renúncia é a capacidade de renúncia mais sublime. As minhas preocupações são as preocupações mais afligentes. Os meus problemas são os maiores problemas, as minhas desgraças são sempre as maiores desgraças, porque eu sou o CENTRO DO UNIVERSO. EGOCENTRISMO Então eu vejo o mundo a partir de mim mesmo. Sou o parâmetro para tudo o que ocorre ao redor de mim. Meço-me como exemplo para tudo. "FAÇA COMO EU". Seja como eu. Conduza-se como eu, porque eu não cometo erros. INFALIBILIDADE, ARROGÂNCIA, PREPOTÊNCIA, AUTORITARISMO.
Então eu vou responder de forma agressiva a qualquer comentário depreciativo que surja a meu respeito. Não admito críticas. Questiono todas as idéias que partem de fora. Eu estarei sempre diminuindo, ironizando, depreciando todo pensamento ou todo trabalho que vem de fora.
Conta-se que quando surgiu o primeiro aparelho de televisão ainda na década de 30, foram ouvir de um célebre engenheiro Norte Americano, o que ele pensava a respeito desse invento, a televisão, e a sua resposta hoje é cômica.
- Acho esse invento, a televisão, muito pouco interessante. Fadado ao fracasso total. Duvido que haja em todo o mundo, meia dúzia de pessoas que vão ficar em frente a uma televisão assistindo a essas bobagens todas.ORGULHO.
Quando surgiu o primeiro computador na década de 40/50, foram ouvir um outro físico também Norte Americano, o que pensava do computador. A sua resposta é também cômica nos dias de hoje.
- Interessante esse negócio de computador, mas muito pouco prático. Duvido que haja em todo o mundo três ou quatro grandes empresas que irão ter o seu computador e utiliza-lo de maneira útil.ORGULHO.
Mas ao lado do personalismo poderemos citar outra viciação moral que se origina também do orgulho. Trata-se da vaidade. A vaidade que o escritor e psicólogo Brasileiro, Flávio Gikovate, considera como sendo o vício dos vícios.
FLAVIO GIKOVATE - Tem um programa na Radio CBN onde responde a Perguntas de leitores sobre psiquiatria. |
Trata-se a vaidade, do desejo de merecer a aprovação dos outros. Consiste a vaidade, do prazer de chamar a atenção. Do desejo de ser elogiado, de destacar-se. Consiste a vaidade naquele desejo íntimo de ser considerado uma pessoa especial, uma pessoa diferente. De chamar a atenção, e lembra-nos o escritor Flavio Gikovate que poucas condições estão tão inerentemente ligadas à criatura humana, quanto a vaidade.
Se uma criança recebe uma correntinha de ouro, coloca no pescoço e fica toda alegrinha quando alguém observa, é vaidade. Se eu apresento para os meus amigos a minha namoradinha nova e ela é bonitinha, é vaidade. Se ela é feia é burrice. Se eu compro o carro novo, o carro do ano, alguém vê, faz algum comentário e eu estico o meu ouvido para perceber o que estão falando, é vaidade. Se mostro para os meus amigos a minha gorda caderneta de poupança ou falo das minhas ultimas conquistas amorosas, é vaidade. Se faço um prato saboroso e os amigos comem até cansar mas ninguém diz nada e eu então pergunto.
- E ai? gostaram?É VAIDADE.
Nada escapa da vaidade, acrescenta Flavio Gikovate. Nem mesmo a atividade intelectual. E diz esse autor. Ninguém é mais vaidoso do que o intelectual. Aquele que julga saber muita coisa. Não perde a oportunidade de mostrar o seu talento, de mostrar a sua cultura, e ele então, cita datas, enumera nomes, mostra o seu conhecimento. VAIDADE.
Se falo excessivamente de mim mesmo, dos meus feitos, ou dos feitos dos meus filhos ou dos meus netos ou se falo ainda excessivamente dos meus problemas ou das minhas desgraças, é VAIDADE. Mas se não falo nada com medo do que os outros vão pensar, não é timidez. É VAIDADE.
E finalmente acrescenta Flávio Gikovate, se alguém afirma "EU NÃO TENHO VAIDADE!", está dando provas de VAIDADE. A vaidade de não ser vaidoso.
Duas jovens conversavam animadamente, quando uma disse para a outra:
-Li um artigo de um psicólogo onde ele diz que toda moça bonita é convencida.A outra então disse assim.
-Discordo. Eu não sou nem um pouco convencida.Mas a vaidade, prezados leitores, estará gerando para a nossa vida inúmeros problemas.
- É a vaidade que nos torna hipócritas,
- é a vaidade que vai fazer com que nós nos mostremos como não somos.
- É a vaidade que vai fazer com que nós não assumamos as nossas imperfeições.
- É a vaidade que vai impedir que nós identifiquemos em nós mesmos os nosso defeitos. Passo inicial para a mudança.
E existe um problema que tem afetado com muita frequência, aqueles portadores de conflitos emocionais, angustia e depressão. Pessoas que muitas vezes não conseguem partir para um processo de cura, porque não assumem as suas deficiências, porque estão sempre querendo identificar nos outros as causas para os seus problemas. É a VAIDADE. Que impede que nós assumamos as nossas deficiências.
Eu me recordo que foi atendida em um consultório uma senhora de quarenta e poucos anos extremamente obesa. Ela queria um remédio para emagrecer. Foi então dito a ela que não existe remédio para emagrecer. O dia que for criado um remédio para emagrecer, quem o inventar vai ficar mais rico do que Silvio Santos e Xuxa porque todo mundo vai querer tomar, inclusive eu. Ela então argumentou.
- Não mas tem, tem sim... Uma amiga minha tomou e conseguiu emagrecer dez, doze quilos.
Então foi-lhe dito.
- Não não existe. O que existe é remédio para reduzir o apetite. Mesmo assim vai agir durante poucas semanas. Depois acaba o efeito. para emagrecer só tem um jeito. Fazer dieta. Não tem outra solução.
Ela então disse.
- Ha! Fazer regime para mim não adianta. Não resolve porque o meu problema é diferente. O meu problema é de metabolismo. Quando eu era criança a minha mãe me obrigou a comer coisas que eu não gostava. Isso então alterou o meu metabolismo, e depois de casada o meu marido e os meus filhos me tratando sempre com indiferença, isso gerou uma alteração no meu psiquismo. Eu então engordo sem comer. Eu não como nada e vivo gorda. Eu fico gorda de ansiedade, de insegurança, de depressão...
Então foi lhe dito.
- Não minha senhora. Ninguém engorda sem comer. É possível casos raros de doenças das glândulas. É possível que casos de depressão ou insegurança possam aumentar o nosso apetite como uma forma de compensar a própria angustia, mas não é a causa da obesidade. Eu lhe garanto, se a senhora fizer uma dieta vai emagrecer.
Ela então agradeceu, foi-lhe passada a dieta e ela foi para a fila com outro médico marcar outra consulta com outro médico que lhe desse o remédio para emagrecer.
É a VAIDADE que irá nos tornar pessoas frustradas, decepcionadas, por ter querido mostrar aquilo que não somos, e a própria lenda do jovem Narciso pode nos mostrar tudo isso.
Diz a lenda grega que Narciso era um jovem, tão lindo, que quando viu o seu rosto refletido nas águas do lago, apaixonou-se por si mesmo e naquele estado de fixação veio a deixar de se alimentar, decorrendo que morreu devido a um estado de inanição. Fruto da VAIDADE, o NARCISISMO.
Nós vamos ver que da vaidade vai surgir a INVEJA. A INVEJA, aquele sentimento de desgosto interior frente ao sucesso do outro. A INVEJA que é a infelicidade diante da felicidade do outro. Filha da VAIDADE. Vamos ver que da vaidade vai surgir a CULPA DOENTIA, que é aquela emoção que surge por exigirmos de nós mesmos mais do que possamos dar. Pelo fato de nos considerarmos pessoas superiores, nós não admitimos o nosso erro. Não admitimos o nosso deslize, e quando isso acontece iniciamos um processo de cobrança auto-destrutivo, um processo neurótico grave, INVEJA - CULPA - VAIDADE. Filhos do ORGULHO.
Poderíamos citar ainda dois outros defeitos que andam sempre muitos juntinhos, filhos do ORGULHO. A impaciência e a intolerância. A impaciência que é a pouca capacidade de esperar, e a intolerância que é a pouca capacidade de conviver com o defeito dos outros.
A intolerância muitas das vezes acompanhada de crises de cólera, de momentos de irritabilidade. Como eu sou superior quero que tudo e todos funcionem ao meu bel prazer. Quero que tudo e todos ocorram como eu desejar, na hora que eu desejar, da maneira que eu desejar. E quando isso não acontece vem a impaciência. Ao mesmo tempo em que apresentamos o problema, apresentamos também a solução.
Para que possamos vencer essas dificuldades é necessário que incorporemos à nossa personalidade a sublime virtude. A HUMILDADE.
Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas. - JESUS
Porque há ainda muito embaraço, muita confusão, muita má interpretação dessa virtude. A HUMILDADE. É que nós nos acostumamos a confundir Humildade com duas condições. Confundimos humildade em primeiro lugar com um condição. Falo da aparência exterior. Com a maneira de vestir-se, com trajes ou com propriedades, com posses.
- Fulano é tão humilde! Olha só como ele se veste mal. Olha só como ele se veste com pobreza.
- Beltrano é um poço de vaidade, olha as suas jóias, olha só os seus trajes,...Ou ainda.
- Sicrano é extremamente orgulhoso e vaidoso. Troca de carro todos os anos.Concepções errôneas. Vestir-se bem, trajar-se conforme a moda, ter um carro do ano, ter uma boa casa, não é questão de humildade. Não é questão de orgulho. Os hippies vestiam-se aos andrajos. Era por humildade? NÃO! Era desprezo pela sociedade.
Narram as tradições, que a roupa que Jesus usava era uma roupa de ótima qualidade. Roupa usada pelos príncipes. Segundo as tradições, Maria a mãe de Jesus, era uma espécie de costureira. Ela tecia para as famílias ricas. Então recebia panos e fazia trajes para Jesus. E Jesus usava.
ANTISTENES |
- Veja só Sócrates como eu sou humilde! Olha só a minha humildade!E Sócrates lhe teria dito.
- Oh Antistenes! Eu vejo a tua vaidade pelos buracos do teu manto.Porque a humildade não está naquilo que se tem. A humildade está em como se vive com aquilo que se tem.
Pode-se viver na mais sublime modéstia ou no ambiente do mais requintado luxo e pode-se igualmente expirar-se orgulho por todos os poros, na mais absoluta miséria.
PAPA JOÃO XXIII |
De certa feita um garoto de oito anos, disse ao Papa João XXIII que ele estava em dúvida, sobre se quando crescesse seria Papa ou policial.
João XXIII disse-lhe então.
- Há meu filho, eu se fosse você seria policial. Papa, qualquer um pode ser. Olha só para mim. Barrigudo, careca, bobo. Sou Papa!Henry Ford, uma das mais avantajadas fortunas do século, vivia com tal simplicidade, que chegava a incomodar os amigos mais íntimos.
HENRY FORD |
Certa Feita, Ford foi convidado pelo Presidente dos Estados Unidos da América para um jantar na Casa Branca, em homenagem ao Rei e a Rainha da Inglaterra.
Ford recusou o convite muito gentilmente, mandando dizer ao presidente que aquela noite ele não poderia ir. O clube de jardinagem de sua esposa, tinha uma reunião e ele não gostaria de faltar.
Mas nós confundimos ainda humildade com uma segunda condição. Confundimos humildade com subserviência. Com submissão sistemática.
- Fulano é tão humilde! Olha só! Anda sempre de cabeça baixa. Está sempre dizendo "sinsinhô", "sinsinhô". Concorda com tudo! Tão humilde!Não é humildade. Pode se ser extremamente orgulhoso e ao mesmo tempo subserviente. Submisso. Por interesse, por covardia, por conveniência, por disciplina, por formação.
Tomemos como exemplo, um oficial Nazista da Segunda grande Guerra. Era submisso? SIM. Extremamente submisso, ao regimento, aos oficiais superiores, ao imperador. Era humilde? NÃO.
Busquemos nos evangelhos a figura de Jesus. A alma da humildade. Era Jesus subserviente? Era o Cristo submisso? JAMAIS! Tão altivo e digno que rompeu com diversos dogmas do Judaismo. Fazia questão de curar nos Sábados, para mostrar a inutilidade de se reservar um dia. Rompeu com inúmeros dogmas. Não oferecia sacrifícios a Deus Jeová como rezava a tradição Judaica, e quando Jesus vai ser entrevistado por Pilatos, vamos encontrar o Cristo com toda a sua humildade mas com altivez, com dignidade, mantendo as suas idéias, pois sabia serem as suas idéias as idéias corretas.
E há uma passagem no evangelho que é notável. Quando Jesus vai ser interrogado pelo sumo sacerdote Anás. Em certo momento Jesus dá uma resposta a Anás, e o soldado que o escoltava considera aquela resposta algo atrevida. Então aproxima-se do Cristo e o esbofeteia na face, e é um ato de extrema covardia porque Jesus estava com as mãos atadas. Mas o Cristo volta-se para ele e diz.
-"Soldado. Porque me bateste? Se eu disse algo de errado corrija-me, mas se eu nada disse de incorreto, porque me bateste?"Olha a humildade! A humildade de quem ficou em posição favorável para ouvir a crítica. "Se eu errei corrija-me" mas a mesma humildade que não admite a covardia. " Se eu não errei porque me bates-te? "
Porque a humildade caro leitor, é uma conquista interior. A humildade é uma atitude íntima. Vamos encontrar a humildade na renúncia, na abnegação, na paciência, na tolerância sem subserviência, no perdão. Vamos encontrar a humildade, na calma, na mansuetude, na resignação, no sentimento de igualdade para com todos, no respeito a opinião do próximo, por mais absurda que seja essa opinião.
Vamos ver ainda a humildade, naquelas almas que trazem os corações sensíveis à concórdia, à renovação ou naquelas mentes abertas ao progresso, sensíveis que são ao auxílio que vem de fora, ao esclarecimento que vem de fora.
Disse notável pensador americano Emmerson.
- Em todo homem há algo que eu posso aprender com ele.- E nisso eu sou seu discípulo.
ALEX HALLEY |
- Sabe aquele quadro esquisito? Explique-me por favor. O que representa este desenho? Uma grande cerca! Uma tartaruga sobre a cerca!E Alex Halley teria dito.
- Todas as vezes que você observar uma tartaruga em cima de uma cerca, pode ter a certeza absoluta de que alguém a ajudou a chegar lá. Pois é! Quando eu fico assim muito alegrinho com as minhas vitórias! Quando eu começo a me envaidecer dos meus feitos! Do meu talento, eu olho para este quadro e penso.
- Oh! meu Deus. Como a tartaruga que eu sou conseguiu subir em cima da cerca?Porque a humildade, caro leitor, está na identificação de nossos defeitos, está no reconhecimento das nossas imperfeições, mas sem culpas. Sem cobranças desnecessárias. Sem remorso paralisante, porque o complexo de inferioridade é manifestação do orgulho.
E ensina-nos a providência. "O excesso de escrúpulos é tão prejudicial quanto a sua falta."
Quando o grande missionário que foi São Francisco de Assis foi convidado pelos prepostos de Jesus para reerguer a igreja do Cristo, Francisco com a sua humildade incomparável começou a reunir pedras para reerguer uma velha igreja fincada no território da Umbria. Mas quando o Cristo aparece para ele e lhe diz.
-Francisco! A igreja a que nos referimos não é essa igreja de pedra. É a igreja do próprio pensamento do Cristo é o cristianismo. O poverelo de Assis.
São Francisco com a mesma humildade se agiganta e vai falar com o Papa e dizer onde estavam os erros e qual o caminho a seguir.
Eu me recordo de uma experiência que presenciei envolvendo uma atendente de enfermagem, mas jovem notável. Estava um psiquiatra de plantão em uma clínica psiquiátrica da cidade, quando a enfermeira chefe o chama ao telefone, e o pede que vá conversar com um doente internado. Tratava-se de um psicopata, um doente mental. Esse doente se recusava a tomar o remédio. Esse doente fora internado naquela manhã. O seu médico atendente fizera a prescrição e fora embora, e agora no horário da tarde ele se recusara a tomar a droga. Ela já tinha conversado com ele vários minutos e não conseguira convencê-lo. Pediu então que eu fosse fazer uma tentativa.
O psiquiatra então foi, chegou-se à enfermaria, sentou-se do lado do doente, e ele muto agitado não queria a internação, fora internado obrigado, e o psiquiatra tentava convence-lo argumentando que se tomasse o remédio iria melhorar mais rápido, e melhorando mais rápido iria embora mais cedo, e foi falando vários minutos e nada.Ele não queria tomar. O psiquiatra então chamou o enfermeiro e foi enfático.
- Olha. Não tem jeito. Comunique ao médico assistente e ele vai decidir o que fazer.Dito isso o psiquiatra saiu para outras atividades. Passados alguns minutos ele retornou para a enfermaria quando foi notificado de que o doente tinha tomado o remédio. A atendente, auxiliar de enfermagem, conversando com ele conseguiu convencê-lo. Então o psiquiatra começou a sentir-se algo frustrado. Era a inveja. A inveja é exatamente isso. É aquela sensação ruim que nós sentimos diante do sucesso do outro. É aquela sensação de fracasso ante a vitória do outro. Então pensou o psiquiatra. "Vou conversar com ela (A auxiliar de enfermagem que tinha conseguido convencer o doente a tomar o remédio.). Pelo menos aprendo a tática. imaginou.
Chegou-se então o psiquiatra para a Atendente de enfermagem e disse.
- Minha filha! O que é que você fez? O que você usou para conseguir que ele tomasse o remédio?Ela então disse.
-Nada, nada. Eu ouvi o que a enfermeira chefe falou, eu ouvi o que o senhor falou, e falei a mesma coisa. Cheguei lá e falei as mesmas coisas que vocês haviam dito. Mas eu acho que ele já estava tão enjoado de todo mundo pedir para ele. Toma o remédio! Toma o remédio! que para ficar livre da gente, ele resolveu tomar. Não fui eu que consegui nada. Fomos nós que conseguimos!Eu então fiquei pensando. Que HUMILDADE!
A humildade em primeiro lugar em dividir o mérito, em reduzir a vitória, e a humildade de tentar fazer quando outros teoricamente mais capazes haviam fracassado.
Porque a humildade está sobretudo em fazer, em produzir, em gerar frutos, apesar de nós mesmos, apesar de nossas limitações, apesar de nossas fraquezas, mas sem culpas, sem cobranças, sem remorços. Porque o complexo de inferioridade como já dissemos é manifestação do orgulho. O medo de errar é igualmente manifestação do orgulho, mas a vitória de tentar acertar é a vitória da humildade.
Para concluirmos nos reportamos a um fato admirável narrado por um psiquiatra dos Estados Unidos o Dr. Louile Dailler.
A história se passa com uma sua cliente uma jovem de dezesseis anos de nome LUAN.
Luan era a melhor aluna do colégio desde o primeiro ano em que se iniciara nos estudos. Luan fora sempre uma estudante nota dez. Sempre tirara a melhor nota em tudo. Mas era Luan extremamente neurótica. Cheia de tiques, de fraquezas, passando por períodos graves de angústia, de depressão e ela não podia entender. A melhor aluna da turma, a melhor sempre e tão cheia de problemas. Decidiu então procurar um terapeuta. O Dr. Louile Dailler. O Dr. Dailler começou a conversar com ela. Perguntou a ela sobre o seu namorado. Ela nunca o tivera. Perguntou sobre a igreja que frequentava. Das atividades sociais em que estava engajada. Ela jamais ia a igreja. Perguntou de suas amigas intimas, dos seus amigos. Ela não os tinha. Perguntou sobre os seus ídolos da juventude, seus cantores prediletos, os seus romances. Ela também não os tinha.
Luan colocara todo o peso da sua convicção em ser a melhor, em ser a primeira aluna da turma, em ser uma estudante de sucesso.
O Dr. Dailler começou então a dizer para ela.
- Luan. Nós podemos fracassar em qualquer coisa na vida, sem sermos um fracasso como pessoas. Nós somos seres perfectíveis sim, mas não somos ainda perfeitos e como seres involuídos nós podemos ainda errar.
- Luan. É preciso que você entenda que mais importante do que pensar bem, é estar e sentir bem. É preciso que você entenda que se a humanidade está da forma que está hoje é porque nós temos muitos gênios e poucos homens bons.
E foi falando, falando durante vários meses.
Certo dia o Dr. Dailler está em seu escritório quando toca o telefone. Ele vai atender. É a mãe de Luan, mais neurótica do que a filha. E a mão de Luan diz a ele:
-Dr. Dailler, o que é que o Sr. está fazendo com a minha filha? Luan pela primeira vez na sua vida tirou uma nota vermelha em Inglês.
E o Dr. Dailler então diz a ela.
- Minha senhora. Reúna a família. Convoque os amigos. Faça um banquete. Luan está começando a melhorar.
Que nós possamos caros leitores, incorporarmos aos nossos corações essas palavras do Dr. Dailler.
Nós podemos fracassar em qualquer coisa na vida sem sermos um fracasso como pessoas. Nós não podemos permitir que aquilo que ainda não sabemos fazer, interfira com aquilo que nós já sabemos fazer.
MUITA PAZ.