Em 2008 tivemos nos Estados Unidos uma sequência de falências começando pelo City Bank e estendendo-se por várias outras empresas bancárias e inclusive automobilísticas.
A crise teve origem em empréstimos que geravam ativos e esses ativos eram renegociados no mercado. Com o tempo toda a economia ficou lastreada com esses ativos, mas eles não tinham na verdade sustentação pois os que tomavam emprestado eram pessoas do povo. Com a crise de desemprego que grassava nos Estados Unidos, esses empréstimos começaram a não ser honrados e isso gerou uma crise de proporções inimagináveis e que ameaçaram levar de roldão toda a infra estrutura capitalista.
Para contornar a crise várias medidas foram tomadas. Novos protocolos de governança empresarial passaram a existir tirando da mão de alguns CEOs o controle de empresas poderosas, mas não se viu uma caça as bruxas como vemos no Brasil, isso porque para a nação Norte Americana é a sua preservação que interessa.
Não é o que se vê no Brasil. Como se não interessasse a ninguém o futuro do país, a economia parou na esteira da LavaJato.
Não é uma conta fácil e, portanto, não há uma resposta única. Segundo estudo da FGV, a diminuição das atividades da Petrobras por causa da Lava Jato poderia tirar R$ 87 bilhões da economia, levar à perda de mais de 1 milhão de vagas e à queda de R$ 5,7 bilhões na arrecadação de impostos por União, Estados e municípios em 2015.
LAVA JATO CORTA VAGAS DO MERCADO DE TRABALHO.
Para a Tendências Consultoria, da queda de 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado, dois pontos estão relacionados à Lava Jato. Outra consultoria, a GO Associados, estima que o impacto custe mais de 2 milhões de empregos em até dois anos. Esses cálculos baseiam-se na queda de investimentos feitos pela Petrobras e empreiteiras.
Para 2016, a Tendências espera que a economia encolha 4% (1,2 ponto relacionado à Lava Jato) e que os investimentos caiam 6%.
Newton de Souza (R), atual presidente do grupo Odebrecht, e Marcelo Odebrecht (L), ex-CEO, agora preso |
Queremos levantar R$12 bilhões para superar a tempestade, diz presidente da Odebrecht
2016/04/01 - 09H02
DAVID FRIEDLANDER
ANA ESTELA SOUSA PINTO
DE SÃO PAULO
Sob pressão das acusações de corrupção da operação da Lava Jato da Polícia Federal e de dívidas que totalizam R$90 bilhões, a Odebrecht colocou à venda um pacote de ativos da empresa na tentativa de levantar R$12 bilhões (US$3,3 bilhões) ao longo do ano.
"Acreditamos que esse valor nos dará uma boa base para superar esta tempestade", diz Newton de Souza, presidente do grupo Odebrecht.
- Souza assumiu a presidência em junho de 2015 após a prisão de Marcelo Odebrecht - foi condenado a 19 anos de prisão por crimes como a corrupção e lavagem de dinheiro.
Como é que a tentativa de obter clemência e acordos de pacto para ajudar o grupo a sair da situação em que está agora?
Esta não é certamente uma situação confortável e torna a nossa missão organizacional difícil, mas temos a intenção de tomar todas as medidas necessárias para criar as bases para um novo ciclo em nossa organização.
Além da operação Lava Jato, há uma recessão e a Odebrecht tem uma dívida de R $ 100 bilhões [US $ 27 bilhões]. Como você pretende pagá-lo?
A dívida bruta atingiu R $ 85 bilhões em 2014 - esse foi o último dado divulgado. Não faz sentido falar sobre uma dívida financiada. Todas as empresas têm dívidas no seu fluxo de caixa. E também precisamos olhar para os prazos de pagamento.
O que você vai colocar para venda?
Alguns fatores como curto prazo de caixa, contração de empréstimos e a operação da Lava Jato nos levaram a iniciar um programa de venda de ativos no valor de R $ 12 bilhões [US $ 3,3 bilhões]. Acreditamos que esse valor nos dará uma boa base para superar esta tempestade. Colocamos à venda uma usina hidrelétrica no Peru, uma estrada no Peru, que já está sob o processo de due diligence, e alguma participação em um bloco de petróleo em Angola.
São essas ações destinadas a pagar dívidas?
Vender ativos leva a uma redução imediata das dívidas líquidas. Além disso, quando você vender um ativo, as parcelas do financiamento ir com ele. Os R $ 12 bilhões que nós pretendemos fazer tornar-se-ão renda líquida para a empresa, mas o desalavancamento é maior.
As acusações contra a Odebrecht são muito sérias, o presidente da empresa está preso e a dívida é muito alta. Você vai conseguir sobreviver?
Sim, estamos a aprender muito com esta crise e estamos a criar bases sólidas para deixar tudo para trás - são os pilares de um novo ciclo de crescimento. Estou certo de que conseguiremos deixar tudo isso para trás.
O que a Odebrecht acredita ser a melhor solução para a atual crise política?
Eu não tenho nenhum comentário.
O executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, cuja delação vazada para a imprensa provocou um terremoto no núcleo do Governo, cita Nogueira como sendo um dos funcionários da empresa “que mantinha agenda própria no Congresso Nacional”. Segundo Melo, Nogueira era próximo do Itamaraty e do Ministério da Indústria e Comércio. Entre as obras da construtora no exterior estão Porto Mariel, em Cuba, a Hidrelétrica de Cambembe, de Angola, e o metrô de Caracas, na Venezuela.
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A delação do fim do mundo, como ficou conhecida a série de depoimentos dos funcionários à Justiça, envolverá desde executivos que ocupavam a presidência da construtora, como o próprio Marcelo Odebrecht, até secretárias. Todos eles foram desligados da empresa e só Marcelo, já condenado na Lava Jato, segue detido.
Aos poucos, o conteúdo começa a ser vazado na imprensa. Nesta segunda, uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelou que em ao menos um dos depoimentos afirma-se que houve uma doação ilegal da construtora de cerca de 30 milhões de reais para a chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer, na última eleição. Isso pode repercutir no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que julga ação sobre as contas da campanha.
As novas delações devem mostrar os tentáculos do esquema que, de acordo com a força-tarefa, regia a troca de vantagens para empresas por financiamento partidário e pessoal. Se os executivos principais lidavam diretamente com o Congresso e o Planalto, os diretores-superintendentes, por exemplo, podem explicar como o esquema de troca de benefícios funcionava em Estados e municípios.
Eles lideravam times regionais, que tratavam com políticos de São Paulo, Rio de Janeiro ou Estados do Nordeste -muitos depois ganharam projeção em suas carreiras e também acabaram implicados em esquemas de Brasília.
Por isso, há um entendimento de que, se a delação de Melo Filho implodiu o Congresso e o Planalto, as demais, com exceção da do clã Odebrecht, devem envolver mais políticos regionais, incluindo, no entanto, nomes de peso, como governadores com pretensões à Presidência. Conheça abaixo quem são os principais nomes do acordo e sobre quais áreas eles devem se ater.
Clã Odebrecht
EMÍLIO ODEBRECHT |
As delações mais aguardadas da Operação Lava Jato são as do patriarca do clã Odebrecht, Emílio, e de seu filho Marcelo, preso desde junho do ano passado. Os dois sempre foram próximos aos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, e existe a expectativa de que eles impliquem os ex-presidentes em seus depoimentos. Trechos iniciais da delação de Marcelo vazados no início do mês dão conta de repasses de 8 milhões de reais em dinheiro vivo pagos para Lula – parte do montante depois que o petista havia deixado o Planalto. Além disso, Marcelo teria negociado diretamente a compra da nova sede do Instituto Lula, que não foi concretizada – a organização nega.
Mas as delações de Emílio e Marcelo podem ir muito além de Lula e Dilma. A empreiteira tem uma relação de proximidade com o poder desde os tempos da ditadura. De José Sarney a Michel Temer passando por Fernando Henrique Cardoso, a Odebrecht manteve algum grau de intimidade com todos os mandatários do país. Em seu livro de memórias, FHC faz várias menções elogiosas ao magnata da Odebrecht: “Curioso, a firma Odebrecht ficou tão marcada pela CPI dos Anões do Orçamento, com o negócio da corrupção, e no entanto o Emílio é um dos homens mais competentes do Brasil em termos empresariais”. Resta saber até onde os donos da empresa irão em sua delação.
Carlos Armando Paschoal
Carlos Armando Paschoal |
Paschoal, conhecido como CAP, era diretor-superintendente da empresa em São Paulo e, por isso, é tido como um dos principais contatos da Odebrecht com políticos paulistas. Trechos preliminares de seu acordo de delação, divulgados entre outubro e novembro, implicam dois possíveis presidenciáveis tucanos para 2018, o governador Geraldo Alckmin e o chanceler José Serra. No caso de Alckmin, o caixa 2 (dinheiro para campanha não contabilizado) teria abastecido as campanhas de 2010 e 2014. Os pagamentos teriam sido feitos a duas pessoas próximas ao político tucano: uma delas seria o empresário Adhemar Ribeiro, irmão da mulher de Alckmin. Em 2010, ele teria recebido 2 milhões de reais em espécie, pagos em seu escritório.
Carlos Armando Paschoal, conhecido como CAP. CREA
Já Serra teria recebido 23 milhões de reais da empreiteira em 2010, via caixa 2, durante sua campanha presidencial. Parte do dinheiro, segundo a delação, foi repassado para uma conta na Suíça. Ronaldo Cezar Coelho, ex-deputado federal (ex-PSDB e atual PSD) teria articulado o repasse na condição de coordenador político da campanha de Serra. Todos os citados negam qualquer malfeito. Alckmin disse, na ocasião, que "é prematura qualquer conclusão com base em informações vazadas de delações não homologadas".
Benedicto Barbosa Júnior
O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura é apontado como um dos principais interlocutores da empresa com políticos. Preso em março deste ano durante a 26ª fase da Lava Jato, era um dos coordenadores do Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, conhecido como o setor da propina. Este setor, segundo o movimentado ao menos 66 milhões de reais para ao menos 30 pessoas. O Ministério Público Federal acredita que estes valores foram repassados para políticos das esferas municipal, estadual e federal. De acordo com a denúncia apresentada contra Barbosa, ele seria “a pessoa acionada por Marcelo para tratar de assuntos referentes ao meio político, inclusive a obtenção de apoio financeiro”.
Ex governador Sergio Cabral |
A delação de Barbosa pode complicar ainda mais a situação do ex-governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB), preso no início do mês. Isso porque os investigadores esperam que ele confirme outras denúncias de que o peemedebista cobrava 5% de propina para obras de grande porte no Estado, como a reforma do estádio do Maracanã, por exemplo. O executivo frequentava a casa de Cabral, e construiu sua mansão no mesmo condomínio que o então governador. Barbosa também era próximo do ex-ministro de Lula José Dirceu, já condenado na Lava Jato. Do setor controlado pelo executivo também teriam saído, segundo a força-tarefa da Lava Jato, pagamentos não declarados para o casal de publicitários Monica Moura e João Santana pelas campanhas de Lula e Dilma Rousseff.
Alexandrino Alencar
Alexandrino Alencar |
Ao lado do clã Odebrecht, Alencar é uma das figuras-chave das delações da empresa. Ex-diretor de Relações Institucionais da construtora, ele ficou preso entre junho e outubro deste ano e sua delação chegou a ser recusada pela força-tarefa da Lava Jato, que considerou que ele tentava poupar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele é apontado como o executivo da construtora responsável pela relação com Lula. Seria ele também o contato da empresa com Antonio Palocci, réu na Lava Jato e preso durante a 35ª fase da Operação Lava Jato, chamada de Omertà.
Alexandrino Alencar |
Do depoimento de Alencar, se espera que ele esclareça as questões relativas às obras feitas em um sítio de Atibaia, que, segundo a acusação, pertenceriam a Lula, que nega ser proprietário. Ele também deve relatar detalhes das viagens feitas ao lado do ex-presidente para países da África e da América Latina. Segundo os procuradores, Lula praticou tráfico de influência em benefício da construtora em troca de vantagens indevidas, o que ele também nega.
Sérgio Luiz Neves
Neves é diretor superintendente da Odebrecht Infraestrutura para Minas Gerais e Espírito Santo. A expectativa dos procuradores é que ele detalhe em sua delação pagamentos e propinas pagos a políticos mineiros. Ele já foi citado pela secretária da empresa Maria Lúcia Tavares – que também colabora com a Justiça – como sendo o responsável pelo pedido de pagamento de 15 milhões de reais para uma pessoa identificada nas planilhas da empreiteira apenas como “Mineirinho” em 2014. Claudio Melo Filho, cuja delação veio a público na semana passada, afirmou que o apelido se refere ao senador e ex-candidato à presidência Aécio Neves (PSDB-MG), que negou.
O ex-funcionário era subordinado a Benedicto Barbosa Júnior, diretor da Odebrecht Infraestrutura e um dos articuladores do setor de operações estruturadas da empreiteira – conhecido como setor de propinas. Ele também pode jogar luz sobre algumas denúncias da Operação Acrônimo, que enredaram a Odebrecht e o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), em um esquema de pagamentos de propina no Estado em novembro deste ano.
Antonio Anastasia |
A Odebrecht é responsável por uma série de obras de grande porte em Minas Gerais, que vão desde estações de tratamento de água e subestações elétricas. Dentre as principais estão as obras de manutenção do Sistema Rio Manso, responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte com água tratada. O contrato para a realização dessa iniciativa foi firmado durante o Governo do agora senador Antonio Anastasia (PSDB), relator da comissão especial do impeachment de Dilma Rousseff no Congresso.
Luiz Antonio Bueno Junior
Luiz Antonio Bueno Junior |
Procurador Carlos Lima dos Santos |
Uma das obras que também está na mira das autoridades é a construção da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo. A empreiteira integra o Consórcio Move – ao lado de Queiroz Galvão, UTC Participações e Eco Realty Fundo de Investimentos. A Move venceu uma licitação bilionária com custo previsto em 22 bilhões de reais. No entanto, em setembro deste ano o consórcio anunciou a suspensão das obras alegando dificuldades na contratação de crédito. Além disso, obras nas linhas 2-Verde e 4-Amarela também são investigadas por suspeita de propina. Uma série de e-mails e documentos apreendidos pela Lava Jato indicam que a empresa pagou para conseguir vencer as licitações durante governos do PSDB, entre eles o do atual governador
Geraldo Alckmin, que pretende disputar a presidência em 2018. No final de novembro, ele defendeu a lava jato e afirmou que não foi beneficiário de nenhum repasse ilegal de campanha.
Governador de São Paulo Geraldo Alckmin |
João Carlos Nogueira
João Carlos Nogueira (E), da Odebrecht, Paulo Paim, economista José Carlos de Assis e Klaus Curt Muller, da Abimaq. |
Ex-diretor da área internacional da Odebrecht, Nogueira conhece bem os negócios da empreiteira firmados em outros países, como Angola, República Dominicana, Cuba, Gana, México e Venezuela. Ele chegou a ser alvo de condução coercitiva em setembro deste ano, alvo da Operação Acrônimo, que investiga pagamentos de propina por parte da empreiteira ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). O Ministério Público Federal acredita que Nogueira era um dos responsáveis pelo esquema de pagamentos ilegais em troca de financiamento do banco estatal.
João Antônio Pacífico Ferreira
Diretor superintendente para as áreas Norte, Nordeste e Centro-Oeste da construtora, ele deve revelar detalhes de como atuava junto aos políticos para viabilizar obras nessas regiões. Foi citado pelo delator Melo como a pessoa que aprovou pagamentos no valor de 500.000 reais ao presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), que apareceria em planilhas da construtora com o codinome "justiça". Segundo o mesmo executivo, Pacífico teria afirmado para ele que tinha interesse na obra do Canal do Sertão Alagoano, uma espécie de minitransposição do rio São Francisco. "Depois eu fui informado que haviam sido doados 1,2 milhão de reais a título de campanha", afirmou o delator. A obra do canal é feita pelo Governo do Estado, em parceria com o Governo federal, por meio do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC).
A Odebrecht é responsável pelo quarto trecho da obra, ainda em construção, que foi, ao lado de outros trechos, questionado por indícios de sobrepreço pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A ordem de serviço deste trecho foi emitida em junho de 2013, na gestão do tucano Teotônio Vilela Filho.
TUCANO TEOTÔNIO VILELA FILHO |
João Pacífico, como é conhecido, também poderá esclarecer se a construtora pagou propina para realizar as obras do projeto de irrigação Tabuleiros Litorâneos de Parnaíba, no Piauí, executada pela construtora em um consórcio com a Queiroz Galvão. A obra já havia sido apontada em uma lista de obras sob suspeita da Polícia Federal, em setembro deste ano. Na delação de Melo, ele afirma que houve um acerto de pagamento de 3% dos valores repassados para a obra pelo Ministro da Integração, que em 2008, época dos fatos, era Geddel Vieira Lima, que deixou o Governo de Michel Temer por ter seu nome envolvido em outra denúncia.
Leandro Azevedo
LEANDRO AZEVEDO |
Dentre as obras sob suspeita estão a Linha 4 do Metrô do Rio e a concessão do Maracanã a Odebrecht. Esta última, segundo reportagem do Fantástico teria envolvido, segundo ele, o pagamento de propina ao atual presidente do Tribunal de Contas do Estado, Jonas Lopes, para que o edital fosse liberado pelo órgão. No último dia 13, ele foi conduzido coercitivamente para a sede da Polícia federal para prestar depoimento. Ele não falou com a imprensa sobre o fato.