A explicação para o fenômeno que ocorreu na Alemanha pós primeira guerra mundial e até durante e antes desta foi muito pesquisado por nós. E temos nossas próprias conclusões.
A conclusão mais óbvia é que a sociedade de então tinha se afastado dos ensinamentos de Jesus, apesar de ser uma sociedade CRISTÃ. Jesus disse: "Eu sou o caminho a verdade e a vida e ninguém vai ao pai senão por mim."
O sentimento que dominava na época era o sentimento de ódio. Um ódio que foi alimentado pelo egoismo das nações que derrotaram a Alemanha na Primeira guerra mundial e impuseram a essa grande, orgulhosa e valorosa nação um aguilhão no pescoço que a impedia de se lavantar, forçando-a a se arrastar.
O ódio coletivo é uma poderosa força, produto da força de pensamento do homem que plasma à sua volta o mundo produzido pela sua mente, e as forças do mal disso se aproveitam para ampliar seus domínios e subjulgar os homens. Entretanto se é verdade que o mal tem força, articulação e poder, o seu fim será sempre o fracasso, porque o mal a si próprio se destroi, tendo em vista que o discernimento, a lucidez e a força do amor são faculdades divinas que estão dentro de todos os homens, (mesmo que em estado latente) já que são feitos à imagem e semelhança de Deus.
Hitler que foi um portavoz do ódio conseguiu sintonizar com o ódio coletivo das massas alemães e calar pelo terror toda e qualquer oposição que sempre existiu, mesmo que veladamente e oculta. Mas no final seu gênio e sua capacidade de discernimento ficaram comprometidas pelas densas trevas que se aglutinaram em seu redor. Tinha os princípios do amor próprio pois vegetariano e abstêmio de alcool, cigarros e café, era um ser de fato preparado pelas trevas, mas a escuridão o envolveu pela absoluta falta da verdadeira paz, aquela que só Jesus pode dar. Disse Jesus. "Eu vos deixo a minha paz, não a paz que o mundo dá, mas a minha paz." A verdadeira paz.
- Um orador que se contorcia no palco, cercado de bandeiras gigantescas, músicas e enormes batalhões com movimentos coreografados - basta ver os comícios de Hitler para perceber que havia ali algo mais do que simples política. Não é à toa que o arquiteto nazista Albert Speer, a pessoa mais próxima de Hitler durante seus anos no poder, tenha afirmado que, para entender o Führer, era preciso perceber que ele se via, acima de tudo, como um artista. O costume vinha do berço: Hitler estudou piano e canto quando criança e, aos 18 anos, tentou ingressar na Academia de Artes Gráficas de Viena, Áustria.
Foi recusado duas vezes - segundo os críticos, seus trabalhos não tinham vida nem originalidade. Mesmo assim, sobreviveu por seis anos vendendo na rua suas pinturas, que continuou a fazer mesmo nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.Rejeitado pela academia, resolveu aplicar seu estilo na política. Tomou como símbolo do movimento a cruz suástica - um dos sinais mais fortes e antigos da humanidade, utilizado por centenas de etnias ao redor do mundo. Participou do desenho dos uniformes, insígnias, bandeiras e prédios nazistas. Talvez o único assunto que o obcecasse mais que o ódio aos judeus fosse a arquitetura - e nesse ponto seu estilo era muito particular. Considerava as artes modernas "degeneradas" e tentava retomar a grandiosidade que via nos estilos clássicos, com edifícios tão grandiosos quanto as pirâmides egípcias. Seus prédios deveriam demonstrar a superioridade que atribuía ao povo alemão. Um auditório para seus discursos abrigaria 17 vezes mais pessoas que a Basílica de São Pedro, em Roma. Projetou também um Arco do Triunfo 70 metros mais alto que o de Paris. Caberia a esses edifícios manter viva a imagem de Hitler: os materiais usados deveriam, milênios depois, deixar ruínas tão impressionantes quanto as romanas. Nenhuma dessas obras monumentais saiu do papel, o que, para muitos, é um sinal de que a verdadeira arte de Hitler não estava na construção, mas sim na destruição.
Em 1912 era fundada a
Sociedade de Thule à qual Hitler veio ter conhecimento, mas que nunca fez parte, adquirindo porém conhecimentos desta ordem a partir de seu secretário e lugar-tenente Rudolf Hess.
- A Sociedade Alemã da Irmandade da Morte é a Sociedade de Thule. Adolf Hitler ingressou nessa sociedade em 1919, tornando-se um adepto [um ocultista avançado], sob a liderança de Dietrich Eckhart. Posteriormente, a Sociedade de Thule selecionou Hitler como seu líder da Nova Ordem Mundial, como Eckhart revelou no seu leito de morte, dizendo, "Sigam Hitler, ele dançará, mas eu dei a melodia. Eu o iniciei na Doutrina Secreta, abri seus centros de visão, e lhe dei os meios de comunicar-se com os poderes." [Trevor Ravencroft, The Spear of Destiny (leia a resenha), pg 91]
Criada pelo barão Rudolf von Sebottendorf, que em viagem à Turquia entrou em contato com iniciados drusos que afirmavam receber seus ensinamentos espirituais do "Senhor do Mundo" o senhor de Thule ou Shambala - o governo oculto do mundo, reino dos hiperbóreos. Daí o nome Thule.
Para Von Sebottendorf, a raça dos hiperbóreos (ariana) possuía um poder oculto: "quem o controlá-lo poderia dominar o mundo" - este poder seria o vril. Hitler também teve contado com a ordem do Vril, ligada à Thule.
Esta ordem é um grupo esotérico que continua vivo ainda hoje na Índia, seu país de origem, onde conta com mais de dois milhões de adeptos. A palavra vril significa uma reserva formidável de energia presente no homem e da qual ele utiliza apenas uma ínfima parte.
Dentro dos conhecimentos iogues, vril e kundalini siginifcam a mesma coisa: o fogo serpentino - o 3o Logos. Os adoradores do vril veneram o Sol levantando suas mãos em sua direção numa saudação semelhante à feita pelos nazistas e pelos antigos egípcios no culto a Rá, o Deus Sol.
Os templos deste culto estão decorados com grande variedade de cruzes gamadas, aliás, na Índia a cruz gamada é tida como um símbolo de poder, porém ela é escrita em sentido horário, onde representa a evolução e nos quadrados mágicos da numerologia judaica tem o valor 360 representando o fogo - a espiritualidade e o Logos.
Os nazistas inverteram a posição da suástica, que veio representar o elemento terra - Malchut na Cabala, tendo assim o
valor 666 - o número da Besta.
Mas em meio a tudo isto existia algo mais: haviam seitas tibetanas e sua magia. A Thule e seus seguidores foram profundamente influenciados pela magia negra tibetana e tiveram mesmo contato com os bompos tibetanos de barrete negro na Alemanha. Estes teriam sido invocados para agir politicamente na Europa através de sua magia tântrica.
O misticismo nazi tem a sua origem nas ideias racistas de
Arthur de Gobineau.
Guido von List e
Jörg Lanz von Liebenfels tiveram um papel importante no início e vieram a fundar movimentos após a guerra. Oficiais Nazistas de alta patente como
Heinrich Himmler,
Rudolf Hess e
Walther Darré foram conhecidos pelo seu interesse no misticismo e no paranormal. Pessoalmente, Hitler sempre se interessou menos por estes assuntos.
Mais uma coisa interessante sobre a personalidade de Hitler, era que ele tinha a astrologia e a geomancia em alta conta, e as consultava antes de seus ataques. Aliás, todos os ataques foram feitos seguindo as linhas de força geomânticas e telúricas da Europa.
A consulta ao pêndulo e à rabdomancia para saber a posição dos barcos aliados era algo costumeiro, feito muitas vezes por Himmler, uma brilhante mente do nazismo de Hitler.
Acredita-se que Hitler tivesse algum tipo de pacto demoníaco, onde oferecia os judeus queimados nos fornos para adquirir mais poder para rodar a suástica invertida sobre toda a Europa e assim conquistar o mundo.
E o teria feito se não tivesse vacilado em seu último combate. Hitler veio falecer em abril de 1945, e sua morte ainda é uma incógnita, não se sabe se ele fugiu, suicidou-se ou se foi assassinado.
Em 1914, assim que começaram os conflitos, ele se alistou no Exército alemão e, apesar de trabalhar atrás das trincheiras como mensageiro, conseguiu condecorações por bravura raras para o seu posto.
Em 1918, um ataque com gás o levou, parcialmente cego, ao hospital, onde recebeu a notícia de que a guerra havia acabado. Uma revolução havia tomado o país no momento em que o Exército alemão sofria derrotas no campo de batalha.
Instaurou-se a República de Weimar - em 1918 - e se assinou um misto de armistício e rendição que impunha duras condições à Alemanha. Para Hitler, foi uma traição. Nesse momento, ele afirma ter tido a visão que o fez seguir carreira na política.
Deveria tomar como missão vingar a Alemanha contra a "punhalada nas costas" que tinha tomado dos políticos, muitos deles judeus, que proclamaram a república. "Era uma mentira óbvia, mas uma mentira que Hitler usou como veículo para chegar ao poder", afirma Rosenbaum.
Ao sair do hospital, ele, então um cabo do Exército alemão, foi mandado para Munique para investigar grupos extremistas. A cidade vivia em um caos, com dezenas de grupos em conflito e uma seqüência de dirigentes sendo assassinados ou depostos.
Hitler começou a divulgar seu diagnóstico dos eventos nas cervejarias da cidade e fez uma descoberta, que descreveu no livro Minha Luta, de 1925: "Tive a oportunidade de falar diante de uma grande audiência e o que eu sempre pressenti se confirmava: eu sabia falar".
E sabia mesmo. Filiou-se ao pequeno Partido dos Trabalhadores da Alemanha (que logo mudou de nome para Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialistas Alemães) e chegou rapidamente ao posto de porta-voz.
Em pouco mais de um ano, em 1920, o número de membros do Partido Nazista (abreviação de "nacional-socialista") passou de cerca de 60 para mais de 2 mil pessoas graças ao impacto de seus discursos (veja quadro na página 70).
Kurt Lüdecke, um de seus primeiros admiradores, descreveu em um relato que era como se ele tivesse perdido sua capacidade crítica e estivesse "
preso em um feitiço hipnótico", uma experiência que ele comparava a uma conversão religiosa.
Qual era o conteúdo desses discursos eletrizantes? Aparentemente, nada de novo - um futuro grandioso para a Alemanha, a recuperação econômica, o fim do marxismo e dos judeus. "Para conseguir suporte das massas, foi menos decisiva a doutrina nazista que o estilo de articulação de medos, fobias e expectativas espalhadas pela população.
E, quando a questão era representar, Hitler era inigualável", afirma o historiador inglês Ian Kershaw, da Universidade de Sheffield, Inglaterra. Em meio à crise econômica e ao sentimento de humilhação trazidos pela derrota da Alemanha, grande parte da população já estava disposta a aceitar as idéias de Hitler ou de qualquer outro líder populista de igual calibre. Ao ouvi-lo, a conversão era imediata.
A aura que foi se formando em volta do líder nazista lhe permitia ganhar votos mesmo entre o público pouco disposto a aceitar suas idéias. Havia, desde o século 19, a busca quase religiosa por um líder que uniria a Alemanha e a levaria à grandeza. A profecia se fortaleceu após a derrota na guerra, principalmente entre os protestantes, bastante nacionalistas. "Hitler construiu para si a imagem de ser o escolhido, no sentido bíblico da palavra.
A insistência dele em um poder e um mistério quase do outro mundo tinha um grande apelo, o que lhe deu a sensação de ser de fato o salvador", afirma o historiador Fritz Stern, da Universidade de Colúmbia, Estados Unidos. Em seus discursos, não era apenas a sua vontade que o levava a querer reconstruir a Alemanha - seus feitos e sua missão seriam obra da providência divina.
A ASCENSÃO
Hitler havia se tornado popular, mas para chegar ao poder era preciso muito mais astúcia e, principalmente, sorte. Em meados da década de 20, a situação não era nada boa para os nazistas. O partido tinha se esfacelado depois de uma tentativa frustrada de golpe em 1923, que foi combatida pela polícia e deixou Hitler na prisão por 13 meses. Ao ser libertado, a crise econômica e política tinha se acalmado e as propostas nazistas se tornariam menos atraentes à população.
Eles talvez nunca tivessem deixado de ser um partido pequeno se o mundo inteiro não fosse chacoalhado pela crise econômica internacional de 1929. O modo como os nazistas exploraram o colapso financeiro e político que se seguiu permitiu a eles, em 1930, passar de 12 para 107 cadeiras no Parlamento alemão e se tornar o segundo maior partido da casa. Confiante no sucesso eleitoral, Hitler concorreu - e perdeu - ao cargo de presidente em 1932, mas não desistiu de controlar o governo. Meses depois, seu partido ganhou 43,9% dos votos e se tornou a força política majoritária do país.
Hitler começou a pressionar o presidente eleito, Paul von Hindemburg, a lhe dar o cargo de chanceler, que lhe permitiria controlar o Poder Executivo. O presidente ignorou o pedido. Frustrado na tentativa de chegar ao poder, o partido começou a sofrer dissidências e obteve um número menor de votos nas eleições realizadas no final de 1932, marcadas depois que o chanceler dissolvera o Parlamento. Foi o momento em que os jornais conservadores começaram a comemorar o fim do Partido Nazista e, curiosamente, foi quando Hitler chegou ao poder. Mais uma vez, ele teve astúcia e sorte para tirar proveito das fraquezas da república.
O Parlamento alemão estava em grande parte dividido entre nazistas e comunistas, uma mistura tão explosiva que poderia facilmente levar a uma guerra civil. Para governar, o Executivo tinha que driblar o Parlamento por meio de "decretos de emergência" e concentrar o máximo de poder em seu gabinete. Os industriais e proprietários rurais, cansados de tanto impasse, havia muito tempo tentavam trocar a república por um governo autoritário. Os chanceleres, influenciados por essa elite, bem que tentaram acabar com a democracia, mas todos caíram diante de intrigas políticas ou de decisões erradas. Foi quando uma parcela do poder econômico, em especial os ruralistas, começou a achar Hitler uma boa solução. Surgiu então a proposta de dar ao líder nazista o cargo de chanceler, mas em um gabinete composto quase somente por conservadores. Ou seja, queriam fazê-lo de fantoche, aproveitar seu apoio popular para dar base ao governo autoritário que desejavam. Assim, em janeiro de 1933, Hitler assumiu o cargo de chanceler alemão.
Como você deve imaginar, a decisão dos conservadores figura hoje na galeria das maiores idiotices já feitas por um grupo de políticos. Apenas um mês depois de assumir o poder, um incêndio criminoso destruiu o Parlamento e deu a Hitler a chance de consolidar seu poder.
Declarando o incidente como sinal de uma revolta comunista, ele ordenou a prisão de milhares de marxistas e opositores políticos e obteve um decreto que suspendia todos os direitos e liberdades individuais no país. Violência contra opositores não era novidade para ele: o braço armado de seu partido espancava e assassinava inimigos políticos desde a época dos discursos nas cervejarias de Munique, com a conivência dos juízes da região, simpatizantes do movimento nazista.
"Hitler desconsiderava nossa noção de moralidade. Para ele, isso era uma construção judaica. Não tinha nenhum escrúpulo e era contra os direitos individuais", afirma Christopher Browning.
Com dois meses de governo, toda a oposição estava morta, reduzida a organizações clandestinas ou presa em um recém-inaugurado campo de concentração em Dachau. O pouco que restava para consolidar seu poder veio nos anos seguintes: em 1934, com a morte do presidente Hindemburg, ele assumiu controle total sobre o Executivo. Em 1938, utilizou intrigas para afastar os comandantes conservadores do Exército.
Mesmo sem nunca ganhar uma eleição presidencial, Hitler obteve poder absoluto e apoio popular em pouquíssimo tempo. Apesar de matar oponentes em uma escala nunca antes vista na Alemanha, Hitler estava agindo da maneira que muitos alemães esperavam de um dirigente. A classe média, os industriais, os proprietários rurais saíram ilesos de sua ação. E, atacando as minorias, ele conseguiu dar à população a impressão da unidade nacional com que eles tanto sonhavam.
"Hitler usou a propaganda de forma espetacular para unificar o país. Havia os inimigos comuns, os judeus e os comunistas, e o alvo, o Tratado de Versalhes, que tinha imposto ao país condições muito desconfortáveis ao final da Primeira Guerra", diz Stern.
O ESTILOO novo Führer era vegetariano. Não bebia, não fumava, não tomava café. Seguia rotinas fixas e era aficionado por arquitetura (veja quadro na página 65). Não tinha a menor paciência para resolver problemas administrativos.
Hitler evitava situações em que tivesse que escolher entre duas opções conflitantes. Limitava-se a aprovar ou reprovar as medidas que chegavam até ele. Aplicava à administração o princípio que dominava toda sua visão de mundo: a idéia de que o mais forte deve vencer.
Vários departamentos de seu governo se sobrepunham e os choques entre eles eram constantes. A melhor maneira de fazer um projeto andar em meio às disputas (e de ganhar promoções) era obter a aprovação do Führer. "O estilo de Hitler levava menos a um governo bem dirigido que ao oportunismo e a iniciativas arbitrárias e sem coordenação", diz Kershaw.
A vantagem para Hitler é que sua vontade era cumprida sem que ele se esforçasse ou se envolvesse em disputas que pudessem abalar sua imagem.
O governo só funcionava porque havia a disposição de seguir a vontade do Führer. "Por volta de 1939, a maioria da população encontrava algo para admirar em Hitler", afirma Kershaw. Além da propaganda intensa do regime, a economia alemã sofreu aquecimento durante o novo governo - porque o mundo inteiro já se recuperava da crise de 1929 e também por conta dos crescentes gastos com a indústria bélica. Por fim, a conquista de territórios e o reforço do Exército promovidos por Hitler atraíam a admiração até dos não-partidários do governo.
A ordem internacional permanecia frágil desde 1918. Hitler se aproveitou disso com uma espantosa habilidade para o blefe. "Ele tinha uma sagacidade extraordinária e brutal para explorar a fraqueza dos outros", diz Stern. Assim como tirou proveito do fim da Primeira Guerra, das fraquezas da República de Weimar e do incêndio no Parlamento alemão para consolidar seu poder, ele agora explorava o impasse entre as potências européias para quebrar os termos do Tratado de Versalhes.
Usando como desculpa o rearmamento promovido pela Inglaterra e pela França, Hitler promoveu alistamento militar para ampliar seu Exército - uma desobediência aos termos do tratado. Um ano depois, invadiu a Renânia, uma região desmilitarizada na fronteira com a França.
As demais nações, presas a disputas diplomáticas, não fizeram nenhum protesto. Enquanto isso, assinou tratados de não-agressão com a Polônia e com a União Soviética sabendo que uma hora precisaria rompê-los. Em 1938, Hitler aproveitou crises internas na Áustria e usou seus exércitos para anexá-la ao território alemão. Em março de 1939, fez o mesmo com a Tchecoslováquia e com regiões da Lituânia. A reação da França e da Inglaterra só veio quando, seis meses depois, ele invadiu a Polônia.
O sonho de Hitler começava a virar realidade. Havia aumentado o território alemão e agora se preparava para aplicar sua política racial. Desde 1935, os judeus estavam proibidos de ter casamentos e relações sexuais com não-judeus, além de terem negada a cidadania alemã. As medidas se tornaram mais drásticas em novembro de 1938.
Com a autorização de Hitler, anti-semitas queimaram em uma só noite dezenas de sinagogas, mataram uma centena de judeus e levaram mais de 30 mil pessoas para os campos de concentração. Apesar da violência em enorme escala, Hitler percebeu que esse tipo de ação não era suficiente para eliminá-los da Alemanha. "Mesmo após cinco anos de intensa propaganda anti-semita, a participação popular foi pequena, houve críticas contra a destruição das propriedades e até simpatia pelas vítimas", diz Richard Levy, autor de vários estudos sobre o anti-semitismo europeu e professor da Universidade de Illinois, Estados Unidos.
A confirmação veio no ano seguinte, com os protestos populares contra o "programa de eutanásia", uma iniciativa que matou mais de 70 mil doentes mentais e portadores de deficiências. Os dois episódios convenceram Hitler de que ele não poderia contar com a população para aplicar suas políticas raciais. "Ele percebeu que não podia depender das massas para resolver a questão judaica. Quando chegasse o momento, a solução deveria ser encaminhada secretamente e sem a participação popular", afirma Richard Levy. Esse momento estava chegando.
A QUEDA
A vitória rápida sobre a Polônia e a França, entre 1939 e 1940, estimulou Hitler a tentar seu objetivo final: a invasão da União Soviética. A operação seria diferente das que havia deflagrado até então - dessa vez, era uma "guerra de extermínio".
Segundo Christopher Browning, "a expectativa era que os soviéticos fossem derrotados em duas a quatro semanas. Hitler aprovou a eliminação total e sistemática dos judeus russos".
Browning está no centro do debate sobre quando e por que Hitler decidiu que os judeus deveriam ser exterminados.
Ele afirma que a primeira idéia dos nazistas era apenas expulsá-los: mandá-los para a Sibéria, para Madagáscar ou mantê-los em campos de concentração.
A decisão de matá-los teria vindo com as vitórias de setembro de 1941 na campanha soviética, quando Hitler se sentiu confiante e percebeu que podia levar a idéia adiante. "Não foi uma hesitação moral. Ele apenas quis garantir que não iria fracassar", diz Browning.
No outro lado da discussão estão aqueles que acreditam que o extermínio de judeus já estava na cabeça de Hitler muito tempo antes.
Para Richard Breitman, o plano teria surgido no início de 1941, antes da invasão soviética. Ele cita um documento do serviço de inteligência britânico de agosto de 1941, que informava que os alemães estariam matando todos os judeus que caíssem em suas mãos - uma evidência não só de que o extermínio pode ter começado antes da data proposta por Browning como de que os aliados sabiam do genocídio desde o início, mas nada fizeram a respeito.
Tanto Breitman quanto Browning afirmaram à Super que, apesar de ainda discordarem em relação às datas, boa parte dessa discussão está sendo superada. "Nunca teremos evidência suficiente para precisar quando os nazistas decidiram pela 'solução final' - o extermínio total dos judeus", afirma Breitman.
Existem vários pontos em que eles parecem chegar a um consenso. Um deles é que não coube a Hitler decidir os detalhes. O líder nazista nunca foi a um campo de concentração, não viu os judeus serem mortos e, para alguns, talvez nem tenha dado uma ordem direta para que o holocausto começasse. Ninguém nega, no entanto, que ele foi uma figura-chave no genocídio. Coube a ele expressar o desejo de ver o fim dos judeus e autorizar seus subordinados a começar a matança. A partir daí, eles formaram pequenos batalhões voltados para o extermínio, que foram se juntando e ganhando força de acordo com o que julgavam ser a vontade do Führer.
O resultado foi uma terrível indústria da morte com vários escalões hierárquicos. O comando cabia aos nazistas convictos. Abaixo deles, profissionais, técnicos e burocratas que emprestavam seu conhecimento ao genocídio. Por último estavam pessoas comuns, recrutadas aleatoriamente, que se viam obrigadas a matar. "Foi uma novidade, um Estado moderno e industrializado usando seus recursos organizacionais e tecnológicos para eliminar inteiramente um povo", afirma Breitman.
O plano deu horrivelmente certo. "Eles tiveram contratempos e precisaram improvisar, porque esse tipo de coisa nunca havia sido feito antes. É terrível pensar que o número de vítimas poderia ser muito maior se tudo desse certo para eles. Mas, no geral, o plano funcionou melhor do que esperavam", diz Breitman.
Como conseguiram transformar tantas pessoas em assassinos frios? Não existe ainda uma resposta satisfatória para a questão. Um fato surpreendente revelado pelos arquivos soviéticos é que a maior parte da matança no país foi feita por agricultores locais. Em alguns grupos de extermínio, havia dez pessoas de outras etnias para cada alemão. "Os nazistas se aproveitaram de rivalidades internas em várias regiões. O cenário agora é muito mais complexo: precisamos estudar a história das relações entre ucranianos, poloneses, judeus e alemães em cada lugar para entender quais eram os interesses desses grupos", diz Browning.
No final de 1941, ficou claro que a guerra na Rússia não podia ser ganha. Foi quando a ambição de Hitler tornou-se mais evidente: ele dispensou os generais e assumiu o controle da guerra, recusou-se a recuar ou adotar uma postura defensiva e perdeu divisões inteiras em ataques desesperados.
À medida que os exércitos aliados começaram a se aproximar de Berlim, ele ordenou que as cidades alemãs fossem destruídas para não serem utilizadas pelos inimigos.
Os estudos recentes indicam que, nessa época, Hitler começava a apresentar sinais de mal de Parkinson, mas continuava a governar como antes.
Segundo escreveu Albert Speer, arquiteto e ministro da produção e armamento de Hitler, o ditador tentou acabar com as chances da Alemanha de sobreviver a ele. O povo alemão, aos seus olhos, teria merecido a destruição, uma vez que não foi forte o suficiente para derrotar o inimigo soviético.
A autoridade de Hitler permaneceu absoluta até o momento em que ele se matou, em 1945, aos 56 anos. Por mais irracionais que fossem as suas ordens, sempre houve alguém disposto a cumpri-las. Boas explicações para esse fenômeno estão na centralização do governo em sua figura e no assassinato daqueles que tentaram se opor. Mas mesmo essas razões não explicam a devoção que muitos alemães tiveram pelo Führer. "Hitler deve ter tido um efeito carismático estonteante em algumas pessoas", diz Fritz Stern. "Eu não sei explicar.
Não sei quanto disso é de seu magnetismo pessoal, quanto é da atração das massas pelo poder e quanto é do mito que se erigiu à sua volta, do personagem obscuro e fracassado que chegou ao topo do poder."
"Não há nada que permaneça como um legado positivo dos anos de Hitler no poder", diz Kershaw. Apesar de ter estimulado as artes, as iniciativas foram para impor a sua noção particular de beleza, que desestimulava qualquer inovação. Seu estilo de administração não serviu de modelo para ninguém. A economia era predatória por natureza, inflada pelos gastos da guerra e dependente em grande parte do trabalho de escravos obtidos nos territórios conquistados.
Seu único legado talvez seja a lição do que não deve ser feito. "Acho que a Alemanha está imunizada contra um novo Hitler. Mas a lição é bastante instrutiva para muitos países democráticos em que os movimentos de direita podem querer assumir uma forma mais autoritária, ainda que com apoio popular e econômico", diz Stern.
Existem várias explicações para cada detalhe da vida de Hitler e os livros que são lançados quase todo dia sobre o assunto mostram que muitas outras teorias surgirão nos próximos anos. Permanece, no entanto, a questão: Hitler pode mesmo ser explicado? Há quem diga que não devemos fazê-lo porque isso diminuiria a culpa de Hitler. Achar um motivo colocaria a responsabilidade do holocausto em qualquer outro fator - seja ele os ancestrais do ditador, o anti-semitismo de Viena ou a desestruturação do povo alemão na época.
Há também aqueles que acreditam que entender Hitler é impossível: alguns dos principais documentos e testemunhas foram perdidos para sempre e, além disso, talvez não tenhamos a capacidade de compreender a dimensão das suas motivações hediondas. Finalmente, existem aqueles que, apesar do perigo e da dificuldade de explicar o holocausto, fazem o possível para torná-lo compreensível.
"Temos que ter a esperança de que podemos aprender com isso", diz o historiador Fritz Stern, um judeu alemão que foi com 12 anos para os Estados Unidos para fugir do nazismo. "É difícil intelectual e emocionalmente, mas é absolutamente necessário. A emoção também é o que nos faz persistir para encontrar essas explicações".