ENERGIAS QUE CIRCUNDAM A TERRA, BOAS OU MÁS ESPERAM QUEM SE SINTONIZE COM ELAS. |
Quando há uma reunião de pessoas com o mesmo pensamento e com o mesmo objetivo, há também uma atração de energias que habitam o mundo espiritual e que se sintonizam com esses pensamentos.
É o que ocorre na egrégora que é um termo utilizado para definir uma energia presente sintonizada com um grupo em especial. Isso tanto serve para o bem como para o mal.
Segundo as doutrinas que aceitam a existência de egrégoros, estão presentes em todas as coletividades, sejam nas mais simples associações, ou mesmo nas assembleias religiosas. É gerado pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade.
Assim, todos os agrupamentos humanos possuem seus egrégoros característicos: as empresas, clubes, igrejas, famílias, partidos, nos quais as energias dos indivíduos se unem formando uma entidade autônoma e mais poderosa, o egrégoro, capaz de realizar no mundo visível as suas aspirações transmitidas ao mundo invisível pela coletividade geradora. Em miúdos, um egrégoro participa ativamente de qualquer meio, físico ou abstrato.
Quando a energia é deliberadamente gerada, ela forma um padrão, ou seja, tem a tendência de se manter como está e de influenciar o meio ao seu redor. No mais, os egrégoros são esferas ou concentrações de energia comum. Quando várias pessoas têm um mesmo objetivo comum, a energia se agrupa e se aglomera em um egrégoro. Trata-se de um conceito místico-filosófico com vínculos muito próximos à teoria das formas-pensamento, onde todo pensamento e energia gerada têm existência, podendo circular livremente pelo cosmo.
Pode-se exemplificar o egrégoro ao analisar um ambiente hospitalar. O principal objetivo dos circunstantes é promover a cura, independentemente do êxito. Portanto, um hospital carregaria consigo um egrégoro que busca a cura que se localizaria no chão, nas paredes, no nome, recebendo e influenciando o espírito dos frequentadores do hospital, dos funcionários, dos pacientes e visitantes. Muitas mentes voltadas para um único objetivo que gera a concentração de energia.
Da mesma maneira, uma missa, um encontro de algumas ou muitas pessoas voltadas para promover um mesmo fim, seja a cura de alguém, o fim de um problema ou a superação de uma perda tem um grande poder de formar egrégoros.
Um egrégoro se caracteriza, em última análise, pelo espírito formado pela congregação, maior do que a soma de seus membros e cujas existências são cruciais para a sua formação.
A EGRÉGORA FORMADA PELOS FREQUENTADORES DO ROCK IN RIO. |
O ponto de vista defendido pela Teosofia encontra eco em diversas outras linhas de pensamento, especialmente religiosas.
Segundo a teosofia, as incontáveis formas pensamento em que vivemos mergulhados nos afetam continuamente, e ter conhecimento delas pode nos permitir utilizá-las em nosso favor, ou ao menos evitar que sejamos influenciados negativamente.
Funcionaríamos, segundo essa visão, de forma semelhante a um aparelho de rádio, "sintonizando" através de nossos pensamentos e emoções as frequências das egrégoras ao nosso redor, e dessa forma potencializando seus efeitos, tanto em nossos corpos quanto na própria egrégora, o que tornaria sua existência mais longa.
Percebamos que a reunião de várias pessoas com um mesmo fim, reforça o poder da egrégora. Portanto se as pessoas se reúnem para alguma obra boa, forma-se uma egrégora que atrai energias do universo inteiro sintonizadas com aquele objetivo, aumentando o seu poder, e se essas pessoas se reúnem para o mal, isso também é verdade. A atração se dá no sentido de forças sintonizadas com o mal. Forças verdadeiramente infernais.
Está claro que as energias que permeiam um meio ambiente impregnam os que estão nesse meio ambiente somando forças para aquele fim e podem influenciar seu pensamento. Se o objetivo é drogas, certamente a pessoa que estiver mergulhada nesse meio ambiente se sentirá impulsionada nesse sentido. Se o objetivo for a violência ou a revolta isso também se dará.
Claro está que se o indivíduo se envolve no mal e se deixa envolver no mal, ele ficará enredado, entrelaçado nesse mal que o irá influenciar. Sua tendência será o desequilíbrio, o que o poderá tornar agressivo, insatisfeito, irrequieto, buscando a todo o momento, uma satisfação, um bem estar, uma paz que já não conhece, porque o meio ambiente do mal não é o meio ambiente da paz, é o meio ambiente de tudo o que é negativo, inclusive o ódio. Os espíritos que habitam nas regiões das trevas e do abismo e que são em ultima essência devedores perante as leis universais, primam pelo sofrimento, pela falta de paz, pelo desespero, e pelo desequilíbrio que é da sua própria natureza.
Eles buscam adeptos, mas não nutrem por esses adeptos sentimentos de afeição. No fundo odeiam a todos a sua volta. São como bandidos que não exitam em matar seus companheiros, se isso lhes proporcionar a mais leve vantagem. Não se respeitam uns aos outros. Isso é totalmente diferente nas regiões da luz, onde a força que move seus circunstantes é o AMOR. Todos se amam e tem um grande potencial para se amarem. O respeito uns pelos outros é regra fundamental e está na própria natureza desses seres de luz. Proporcionam a verdadeira paz, a única que só Jesus que é quem os chefia, pode dar. No lado trevoso em oposição o que existe é a total falta de paz.
Quando aparecem para o público com suas caras fantasmagóricas, não precisam nem mesmo esconder a natureza do pensamento e das energias que os envolvem.
Buscam chocar as pessoas e leva-las a um delírio coletivo. Multidões ficam enlouquecidas e o delírio procura instalar-se hipnotizando as multidões. (MULTIDÕES TÊM O POTENCIAL DE SE DEIXAREM HIPNOTIZAR POR LÍDERES HIPNOTIZADORES E MUDAM INCLUSIVE SUAS OPINIÕES POR FORÇA DO ARRASTAMENTO DESSAS ENERGIAS).
Antes de Sympathy for the Devil (SIMPATIA PELO DEMÔNIO) (Música dos ROLLING STONES) nunca uma música sobre o diabo havia tido tanta popularidade, sendo cantada coletivamente por grandes multidões nos shows dos Stones. Curiosamente, durante uma execução dela no festival de Altamont em dezembro de 1969, um espectador foi assassinado a facadas e as imagens registradas e publicadas no filme oficial do Show, levando o oportunista Jagger a comentar que algo estranho sempre acontecia quando tocavam a canção. Mais tarde, Jagger afirmou que Lavey foi uma das grandes inspirações para Sympathy for the Devil – pura balela – ele já deu um zilhão de versões para a origem da música.
O AMBIENTE TREVOSO NÃO ESCONDIDO. |
Essa influência então ganha força a um tal ponto que pessoas desmaiam, e registrou-se até casos de crimes violentos terem ocorrido no meio da multidão, como produto de um delírio de alguns totalmente envolvidos com essas forças do mal.
ESSE É O SÍMBOLO OFICIAL DO DIABO. OU BODE. OS DEDOS ESTENDIDOS REPRESENTAM CHIFRES. NÃO É MERA COINCIDÊNCIA QUE ESSE SÍMBOLO TENHA SIDO ESCOLHIDO COMO SÍMBOLO DO ROCK IN RIO. |
É importante que se saiba de onde são provenientes essas forças malignas do mundo espiritual e qual a influenciação fluídica que se dá em quem se deixa envolver por elas, e por isso eu vou aqui relatar uma visita feita a uma região trevosa do mundo espiritual nas palavras da conhecida médium YVONNE DO AMARAL PEREIRA.
Precisamente no mês de janeiro do ano da graça de 1891, fora eu surpreendido com meu aprisionamento em região do Mundo Invisível cujo desolador panorama era composto por vales profundos, a que as sombras presidiam: gargantas sinuosas e cavernas sinistras, no interior das quais uivavam, quais maltas de demônios enfurecidos, Espíritos que foram homens, dementados pela intensidade e estranheza, verdadeiramente inconcebíveis, dos sofrimentos que os martirizavam.
Nessa paragem aflitiva a vista torturada do grilheta não distinguiria sequer o doce vulto de um arvoredo que testemunhasse suas horas de desesperação; tampouco paisagens confortativas, que pudessem distraí-lo da contemplação cansativa dessas gargantas onde não penetrava outra forma de vida que não a traduzida pelo supremo horror!
O solo, coberto de matérias enegrecidas e fétidas, lembrando a fuligem, era imundo, pastoso, escorregadio, repugnante! O ar pesadíssimo, asfixiante, gelado, enoitado por bulcões ameaçadores como se eternas tempestades rugissem em torno; e, ao respirarem-no, os Espíritos ali ergastulados sufocavam-se como se matérias pulverizadas, nocivas mais do que a cinza e a cal, lhes invadissem as vias respiratórias, martirizando-os com suplício inconcebível ao cérebro humano habituado às gloriosas claridades do Sol - dádiva celeste que diariamente abençoa a Terra - e às correntes vivificadoras dos ventos sadios que tonificam a organização física dos seus habitantes.
Não havia então ali, como não haverá jamais, nem paz, nem consolo, nem esperança: tudo em seu âmbito marcado pela desgraça era miséria, assombro, desespero e horror.
Dir-se-ia a caverna tétrica do Incompreensível, indescritível a rigor até mesmo por um Espírito que sofresse a penalidade de habitá-la.
O vale dos leprosos, lugar repulsivo da antiga Jerusalém de tantas emocionantes tradições, e que no orbe terráqueo evoca o último grau da abjeção e do sofrimento humano, seria consolador estágio de repouso comparado ao local que tento descrever.
Pelo menos, ali existiria solidariedade entre os renegados! Os de sexo diferente chegavam mesmo a se amar!
Adotavam-se em boas amizades, irmanando-se no seio da dor para suavizá-la! Criavam a sua sociedade, divertiam-se, prestavam-se favores, dormiam e sonhavam que eram felizes!
Mas no presídio de que vos desejo dar contas nada disso era possível, porque as lágrimas que se choravam ali eram ardentes demais para se permitirem outras atenções que não fossem as derivadas da sua própria intensidade!
No vale dos leprosos havia a magnitude compensadora do Sol para retemperar os corações! Existia o ar fresco das madrugadas com seus orvalhos regeneradores! Poderia o precito ali detido contemplar uma faixa do céu azul... Seguir, com o olhar enternecido, bandos de andorinhas ou de pombos que passassem em revoada!... Ele sonharia, quem sabe? Lenido de amarguras, ao poético clarear do plenilúnio, enamorando-se das cintilações suaves das estrelas que, lá no Inatingível, acenariam para a sua desdita, sugerindo-lhe consolações no insulamento a que o forçavam as férreas leis da época!...
E, depois, a Primavera fecunda voltava, rejuvenescia as plantas para embalsamar com seus perfumes cariciosos as correntes de ar que as brisas diariamente tonificavam com
outros tantos bálsamos generosos que traziam no seio amorável... E tudo isso era como dádivas celestiais para reconciliá-lo com Deus, fornecendo-lhe tréguas na desgraça.
Mas na caverna onde padeci o martírio que me surpreendeu além do túmulo, nada disso havia!
Aqui, era a dor que nada consola, a desgraça que nenhum favor ameniza, a tragédia que idéia alguma tranqüilizadora vem orvalhar de esperança! Não há céu, não há
luz, não há sol, não há perfume, não há tréguas!
O que há é o choro convulso e inconsolável dos condenados que nunca se harmonizam! O assombroso "ranger de dentes" da advertência prudente e sábia do sábio Mestre de Nazaré!
A blasfêmia acintosa do réprobo a se acusar a cada novo rebate da mente flagelada pelas recordações penosas! A loucura inalterável de consciências contundidas pelo vergastar infame dos remorsos. O que há é a raiva envenenada daquele que já não pode chorar, porque ficou exausto sob o excesso das lágrimas! O que há é o desaponto, a surpresa aterradora daquele que se sente vivo a despeito de se haver arrojado na morte! É a revolta, a praga, o insulto, o ulular de corações que o percutir monstruoso da expiação transformou em feras! O que há é a consciência conflagrada, a
alma ofendida pela imprudência das ações cometidas, a mente revolucionada, as faculdades espirituais envolvidas nas trevas oriundas de si mesma! O que há é o "ranger de dentes nas trevas exteriores" de um presídio criado pelo crime, votado ao martírio e consagrado à emenda! É o inferno, na mais hedionda e dramática exposição, porque,
além do mais, existem cenas repulsivas de animalidade, práticas abjetas dos mais sórdidos instintos, as quais eu me pejaria de revelar aos meus irmãos, os homens!
ESSA IMAGEM TE LEMBRA ALGO? |
Quem ali temporariamente estaciona, como eu estacionei, são grandes vultos do crime! É a escória do mundo espiritual - falanges de suicidas que periodicamente para seus canais afluem levadas pelo turbilhão das desgraças em que se enredaram, a se despojarem das forças vitais que se encontram, geralmente intactas, revestindo-lhes os envoltórios físico-espirituais, por seqüências sacrílegas do suicídio, e provindas, preferentemente, de Portugal, da Espanha, do Brasil e colônias portuguesas da África, infelizes carentes do auxílio confortativo da prece; aqueles, levianos e inconseqüentes, que, fartos da vida que não quiseram compreender, se aventuraram ao Desconhecido, em procura do Olvido, pelos despenhadeiros da Morte!
O Além-túmulo acha-se longe de ser a abstração que na Terra se supõe, ou as regiões paradisíacas fáceis de conquistar com algumas poucas fórmulas inexpressivas.
Ele é, antes, simplesmente a Vida Real, e o que encontramos ao penetrar suas regiões é Vida! Vida intensa a se desdobrar em modalidades infinitas de expressão, sabiamente dividida em continentes e falanges como a Terra o é em nações e raças; dispondo de organizações sociais e educativas modelares, a servirem de padrão para o progresso da Humanidade. É no Invisível, mais do que em mundos planetários, que as criaturas humanas colhem inspiração para os progressos que lentamente aplicam no orbe.
Não sei como decorrerão os trabalhos correcionais para suicidas nos demais núcleos ou colônias espirituais destinadas aos mesmos fins e que se desdobrarão sob
céus portugueses, espanhóis e seus derivados. Sei apenas é que fiz parte de sinistra falange detida, por efeito natural e lógico, nessa paragem horrenda cuja lembrança ainda hoje me repugna à sensibilidade. É bem possível que haja quem ponha a discussões mordazes a veracidade do que vai descrito nestas páginas. Dirão que a fantasia mórbida de um inconsciente exausto de assimilar Dante terá produzido por conta própria a exposição aqui ventilada... esquecendo-se de que, ao contrário, o vate florentino é que conheceria o que o presente século sente dificuldades em aceitar...
Não os convidarei a crer. Não é assunto que se imponha à crença, simplesmente, mas ao raciocínio, ao exame, à investigação. Se sabem raciocinar e podem investigar - que o façam, e chegarão a conclusões lógicas que os colocarão na pista de verdades assaz interessantes para toda a espécie humana! O a que os convido, o que ardentemente desejo e para que tenho todo o interesse em pugnar, é que se eximam de conhecer essa realidade através dos canais trevosos a que me expus, dando-me ao suicídio por desobrigar-me da advertência de que a morte nada mais é do que a verdadeira forma de existir!...
De outro modo, que pretenderia o leitor existisse nas camadas invisíveis que contornam os mundos ou planetas, senão a matriz de tudo quanto neles se reflete?!... Em
nenhuma parte se encontraria a abstração, ou o nada, pois que semelhantes vocábulos são inexpressivos no Universo criado e regido por uma Inteligência Onipotente! Negar o que se desconhece, por se não encontrar à altura de compreender o que se nega, é insânia incompatível com os dias atuais. O século convida o homem à investigação e ao
livre exame, porque a Ciência nas suas múltiplas manifestações vem provando a inexatidão do impossível dentro do seu cada vez mais dilatado raio de ação. E as provas da realidade dos continentes superterrenos encontram-se nos arcanos das ciências psíquicas transcendentais, às quais o homem há ligado muito relativa importância até hoje.
O que conhece o homem, aliás, do próprio planeta onde tem renascido desde milênios, para criteriosamente rejeitar o que o futuro há de popularizar sob os auspícios do Psiquismo?... O seu país, a sua capital, a sua aldeia, a sua palhoça ou, quando mais avantajado de ambições, algumas nações vizinhas cujos costumes se nivelam aos que lhe são usuais?...
Por toda a parte, em torno dele, existem mundos reais, exarando vida abundante e intensa: e se ele o ignora será porque se compraz na cegueira, perdendo tempo com futilidades e paixões que lhe sabem ao caráter. Não perquiriu jamais as profundidades oceânicas – não poderá mesmo fazê-lo, por enquanto. Não obstante, debaixo das águas verdes e marulhentas existe não mais um mundo perfeitamente organizado, mas um universo que assombraria pela grandiosidade e ideal perfeição!
No próprio ar que respira, no solo onde pisa encontraria o homem outros núcleos organizados de vida, obedecendo ao impulso inteligente e sábio de leis magnânimas fundamentadas no Pensamento Divino, que os aciona para o progresso, na conquista do mais perfeito! Bastaria que se munisse de aparelhamentos precisos, para averiguar a veracidade dessas coletividades desconhecidas que, por serem invisíveis umas, e outras apenas suspeitadas, nem por isso deixam de ser concretas, harmoniosas, verdadeiras!
Assim sendo, habilite-se, também, desenvolvendo os dons psíquicos que herdou da sua divina origem... Impulsione pensamento, vontade, ação, coração, através das vias alcanforadas da Espiritualidade superior... e atingirá as esferas astrais que circundam a
Terra!
Era eu, pois, presidiário dessa cova ominosa do horror!
Não habitava, porém, ali sozinho. Acompanhava-me uma coletividade, falange extensa de delinqüentes, como eu.
Então ainda me sentia cego. Pelo menos, sugestionava-me de que o era, e, como tal, me conservava, não obstante minha cegueira só se definir, em verdade, pela inferioridade moral do Espírito distanciado da Luz. A mim cego não passaria, contudo, despercebido o que se apresentasse mal, feio, sinistro, imoral, obsceno, pois conservavam meus olhos visão bastante para toda essa escória contemplar - agravando-se destarte a minha desdita.
Dotado de grande sensibilidade, para maior mal tinha-a agora como superexcitada, o que me levava a experimentar também os sofrimentos dos outros
mártires meus compares, fenômeno esse ocasionado pelas correntes mentais que se despejavam sobre toda a falange e oriundas dela própria, que assim realizava impressionante afinidade de classe, o que é o mesmo que asseverar que sofríamos também as sugestões dos sofrimentos uns dos outros, além das insídias a que nos submetiam os nossos próprios sofrimentos. (1)
(1) Após a morte, antes que o Espírito se oriente, gravitando para o verdadeiro "lar espiritual" que lhe cabe,
será sempre necessário o estágio numa "antecâmara", numa região cuja densidade e aflitivas configurações locais corresponderão aos estados vibratórios e mentais do recém-desencarnado. Aí se deterá até que seja naturalmente "desanimalizado", isto é, que se desfaça dos fluidos e forças vitais de que são impregnados todos os corpos materiais. Por aí se verá que a estada será temporária nesse umbral do Além, conquanto geralmente penosa. Tais sejam o caráter, as ações praticadas, o gênero de vida, o gênero de morte que teve a entidade desencarnada - tais serão o tempo e a penúria no local descrito. Existem aqueles que aí apenas se demoram algumas horas. Outros levarão meses, anos consecutivos, voltando à reencarnação sem atingirem a Espiritualidade. Em se tratando de suicidas o caso assume proporções especiais, por dolorosas e complexas. Estes aí se demorarão, geralmente, o tempo que ainda lhes restava para conclusão do compromisso da existência que prematuramente cortaram. Trazendo carregamentos avantajados de forças vitais animalizadas, além das bagagens das paixões criminosas e uma desorganização mental, nervosa e vibratória completas, é fácil entrever qual será a situação desses infelizes para quem um só bálsamo existe: a prece das almas caritativas!
Se, por muito longo, esse estágio exorbite das medidas normais ao caso - a reencarnação imediata será a terapêutica indicada, embora acerba e dolorosa, o que será preferível a muitos anos em tão desgraçada situação, assim se completando, então, o tempo que faltava ao término da existência cortada.
As vezes, conflitos brutais se verificavam pelos becos lamacentos onde se enfileiravam as cavernas que nos serviam de domicílio. Invariavelmente irritados, por motivos insignificantes nos atirávamos uns contra os outros em lutas corporais violentas,
nas quais, tal como sucede nas baixas camadas sociais terrenas, levaria sempre o melhor
aquele que maior destreza e truculência apresentasse. Freqüentemente fui ali insultado, ridiculizado nos meus sentimentos mais caros e delicados com chistes e sarcasmos que me revoltavam até o âmago; apedrejado e espancado até que, excitado por fobia idêntica, eu me atirava a represálias selvagens, ombreando com os agressores e com eles refocilando na lama da mesma ceva espiritual!
A fome, a sede, o frio enregelador, a fadiga, a insônia; exigências físicas martirizantes, fáceis de o leitor entrever; a natureza como que aguçada em todos os seus desejos e apetites, qual se ainda trouxéssemos o envoltório carnal; a promiscuidade, muito vexatória, de Espíritos que foram homens e dos que animaram corpos femininos; tempestades constantes, inundações mesmo, a lama, o fétido, as sombras perenes, a desesperança de nos vermos livres de tantos martírios sobrepostos, o supremo
desconforto físico e moral - eis o panorama por assim dizer "material" que emoldurava os nossos ainda mais pungentes padecimentos morais!
Nem mesmo sonhar com o Belo, dar-se a devaneios balsamizantes ou a recordações beneficentes era concedido àquele que porventura possuísse capacidade para o fazer.
Naquele ambiente superlotado de males o pensamento jazia encarcerado nas fráguas que o contornavam, só podendo emitir vibrações que se afinassem ao tono da própria perfídia local... E, envolvidas em tão enlouquecedores fogos, não havia ninguém que pudesse atingir um instante de serenidade e reflexão para se lembrar de Deus e bradar por Sua paternal misericórdia!
Não se podia orar porque a oração é um bem, é um bálsamo, é uma trégua, é uma esperança! e aos desgraçados que para lá se atiravam nas torrentes do suicídio impossível seria atingir tão altas mercês!
Não sabíamos quando era dia ou quando voltava a noite, porque sombras perenes rodeavam as horas que vivíamos. Perdêramos a noção do tempo. Apenas esmagadora sensação de distância e longevidade do que representasse o passado ficara para açoitar nossas interrogações, afigurando-se-nos que estávamos há séculos jungidos a tão ríspido calvário! Dali não esperávamos sair, conquanto fosse tal desejo uma das causticantes obsessões que nos alucinavam... pois o Desânimo gerador da desesperança que nos armara o gesto de suicidas afirmava-nos que tal estado de coisas seria eterno!
A contagem do tempo, para aqueles que mergulhavam nesse abismo, estacionara no momento exato em que fizera para sempre tombar a própria armadura de carne! Daí para cá só existiam - assombro, confusão, enganosas induções, suposições insidiosas!
Igualmente ignorávamos em que local nos encontrávamos, que significação teria nossa espantosa situação.
Tentávamos, aflitos, furtarmo-nos a ela, sem percebermos que era cabedal de nossa própria mente conflagrada, de nossas vibrações entrechocadas por mil malefícios indescritíveis! Procurávamos então fugir do local maldito para voltarmos aos nossos lares; e o fazíamos desabaladamente, em insanas correrias de loucos furiosos!
A asveros malditos, sem consolo, sem paz, sem descanso em parte alguma... ao passo que correntes irresistíveis, como ímãs poderosos, atraíam-nos de volta ao tugúrio sombrio, arrastando-nos de envolta a um atro turbilhão de nuvens sufocadoras e estonteantes!
De outras vezes, tateando nas sombras, lá íamos, por entre gargantas, vielas e becos, sem lograrmos indício de saída... Cavernas, sempre cavernas – todas numeradas-; ou longos espaços pantanosos quais lagos lodosos circulados de muralhas abruptas, que nos afiguravam levantadas em pedra e ferro, como se fôramos sepultados vivos nas profundas tenebrosidades de algum vulcão! Era um labirinto onde nos perdíamos sem podermos jamais alcançar o fim! Por vezes acontecia não sabermos retornar ao ponto de partida, isto é, às cavernas que nos serviam de domicílio, o que forçava a permanência ao relento até que deparássemos algum covil desabitado para outra vez nos abrigarmos.
Nossa mais vulgar impressão era de que nos encontrávamos encarcerados no subsolo, em presídio cavado no seio da Terra, quem sabia se nas entranhas de uma cordilheira, da
qual fizesse parte também algum vulcão extinto, como pareciam atestar aqueles imensuráveis poços de lama com paredes escalavradas lembrando minerais pesados?!...
Aterrados, entrávamos então a bramir em coro, furiosamente, quais maltas de chacais danados, para que nos retirassem dali, restituindo-nos à liberdade! As mais violentas manifestações de terror seguiam-se então; e tudo quanto o leitor imaginar possa, dentro da confusão de cenas patéticas inventadas pela fobia do Horror, ficará muito aquém da expressão real por nós vivida nessas horas criadas pelos nossos próprios pensamentos distanciados da Luz e do Amor de Deus! Como se fantásticos espelhos perseguissem obsessoramente nossas faculdades, lá se reproduzia a visão macabra: - o corpo a se decompor sob o ataque dos vibriões esfaimados; a faina detestável da podridão a seguir o curso natural da destruição orgânica, levando em roldão nossas carnes, nossas vísceras, nosso sangue pervertido pelo fétido, nosso corpo enfim, que se sumia para sempre no banquete asqueroso de milhões de vermes vorazes, nosso corpo, que era carcomido lentamente, sob nossas vistas estupefatas!... que morria, era bem verdade, enquanto nós, seus donos, nosso Ego sensível, pensante, inteligente, que dele se utilizara apenas como de um vestuário transitório, continuava vivo, sensível, pensante, inteligente, desapontado e pávido, desafiando a possibilidade de também morrer! E - ó tétrica magia que ultrapassava todo o poder que tivéssemos de refletir e compreender! - ó castigo irremovível, punindo o renegado que ousou insultar a Natureza destruindo prematuramente o que só ela era competente para decidir e realizar: - Vivos, nós, em espírito, diante do corpo putrefato, sentíamos a corrupção atingir-nos!... Doíam em nossa configuração astral as picadas monstruosas dos vermes!
Enfurecia-nos até à demência a martirizante repercussão que levava nosso perispírito, ainda animalizado e provido de abundantes forças vitais, a refletir o que se passava com seu antigo envoltório limoso, tal o eco de um rumor a reproduzir-se de quebrada em quebrada da montanha, ao longo de todo o vale...
Enfurecia-nos até à demência a martirizante repercussão que levava nosso perispírito, ainda animalizado e provido de abundantes forças vitais, a refletir o que se passava com seu antigo envoltório limoso, tal o eco de um rumor a reproduzir-se de quebrada em quebrada da montanha, ao longo de todo o vale...
Nossa covardia, então, a mesma que nos brutalizara induzindo-nos ao suicídio, forçava-nos a retroceder.
Retrocedíamos.
Mas o suicídio é uma teia envolvente em que a vítima - o suicida - só se debate para cada vez mais confundir-se, tolher-se, embaraçar-se. Sobrepunha-se a confusão. Agora, a persistência da auto-sugestão maléfica recordava as lendas supersticiosas, ouvidas na infância e calcadas por longo tempo nas camadas da sub-consciência; corporificava-se em visões extravagantes, a que emprestava realidade integral.
Julgávamo-nos nada menos do que à frente do tribunal dos infernos!... Sim! Vivíamos na plenitude da região das sombras!... E Espíritos de ínfima classe do Invisível - obsessores que pululam por todas as camadas inferiores, tanto da Terra como do Além; os mesmos que haviam alimentado em nossas mentes as sugestões para o suicídio, divertindo-se com nossas angústias, prevaleciam-se da situação anormal para a qual resvaláramos, a fim de convencer-nos de que eram juízes que nos deveriam julgar e castigar, apresentando-se às nossas faculdades conturbadas pelo sofrimento como seres fantásticos, fantasmas impressionantes e trágicos. Inventavam cenas satânicas, com que nos supliciavam. Submetiam-nos a vexames indescritíveis! Obrigavam-nos a torpezas e deboches, violentando-nos a compactuar de suas infames obscenidades!
Donzelas que se haviam suicidado, desculpando-se com motivos de amor, esquecidas de que o vero amor é paciente, virtuoso e obediente a Deus; olvidando, no egoísmo passional de que deram provas, o amor sacrossanto de uma mãe que ficara inconsolável; desrespeitando as cãs veneráveis de um pai - os quais jamais esqueceriam o golpe em seus corações vibrados pela filha ingrata que preferiu a morte a continuar no tabernáculo do lar paterno, eram agora insultadas no seu coração e no seu pudor por essas entidades animalizadas e vis, que as faziam crer serem obrigadas a se escravizarem por serem eles os donos do império de trevas que escolheram em detrimento do lar que abandonaram! Em verdade, porém, tais entidades não passavam de Espíritos que também foram homens, mas que viveram no crime: sensuais, alcoólatras, devassos, intrigantes, hipócritas, perjuros, traidores, sedutores, assassinos perversos, caluniadores, sátiros - enfim, essa falange maléfica que infelicita a sociedade terrena, que muitas vezes tem funerais pomposos e exéquias solenes, mas que na existência espiritual se resume na corja repugnante que mencionamos... até que reencarnações expiatórias, miseráveis e rastejantes, venham impulsioná-la a novas tentativas de progresso.
ESSA FOTO NÃO É DO MUNDO ESPIRITUAL. É DE UMA DAS BANDAS DO ROCK IN RIO. QUALQUER SEMELHANÇA NÃO É MERA COINCIDÊNCIA. |
A tão deploráveis seqüências sucediam-se outras não menos dramáticas e rescaldantes: - atos incorretos por nós praticados durante a encarnação, nossos erros, nossas quedas pecaminosas, nossos crimes mesmo, corporificavam-se à frente de nossas consciências como outras visões acusadoras, intransigentes na condenação perene a que nos submetiam. As vítimas do nosso egoísmo reapareciam agora, em reminiscências vergonhosas e contumazes, indo e vindo ao nosso lado em atropelos pertinazes, infundindo em nossa já tão combalida organização espiritual o mais angustioso desequilíbrio nervoso forjado pelo remorso!
Sobrepondo-se, no entanto, a tão lamentável acervo de iniqüidades, acima de tanta vergonha e tão rudes humilhações existia, vigilante e compassiva, a paternal misericórdia do Deus Altíssimo, do Pai justo e bom que "não quer a morte do pecador, mas que ele viva e se arrependa".
Nas peripécias que o suicida entra a curtir depois do desbarato que prematuramente o levou ao túmulo, o Vale Sinistro apenas representa um estágio temporário, sendo ele para lá encaminhado por movimento de impulsão natural, com o qual se afina, até que se desfaçam as pesadas cadeias que o atrelam ao corpo físicoterreno,
destruído antes da ocasião prevista pela lei natural. Será preciso que se desagreguem dele as poderosas camadas de fluidos vitais que lhe revestiam a organização física, adaptadas por afinidades especiais da Grande Mãe Natureza à organização astral, ou seja, ao perispírito, as quais nele se aglomeram em reservas suficientes para o compromisso da existência completa; que se arrefeçam, enfim, as mesmas afinidades, labor que na individualidade de um suicida será acompanhado das mais aflitivas dificuldades, de morosidade impressionante, para, só então, obter possibilidade vibratória que lhe faculte alívio e progresso.
De outro modo, tal seja a feição do seu caráter, tais os deméritos e grau de responsabilidades gerais - tal será o agravo da situação, tal a intensidade dos padecimentos a experimentar, pois, nestes casos, não serão apenas as conseqüências decepcionantes do suicídio que lhe afligirão a alma, mas também o reverso dos atos pecaminosos anteriormente cometidos.
(2) As impressões e sensações penosas, oriundas do corpo carnal, que acompanham o Espírito ainda materializado, chamaremos repercussões magnéticas, em virtude do magnetismo animal, existente em todos os seres vivos, e suas afinidades com o perispírito.
Trata-se de fenômeno idêntico ao que faz a umhomem que teve o braço ou a perna amputados sentir coceiras na palma da mão que já não existe com ele, ou na sola do pé, igualmente inexistente. Conhecemos em certo hospital um pobre operário que teve ambas as pernas amputadas senti-las tão vivamente consigo, assim como os pés, que, esquecido de que já não os possuía, procurou levantar-se, levando, porém, estrondosa queda e ferindo-se. Tais fenômenos são fáceis de observar.
Periodicamente, singular caravana visitava esse antro de sombras.
Era como a inspeção de alguma associação caridosa, assistência protetora de instituição humanitária, cujos abnegados fins não se poderiam pôr em dúvida.
Vinha à procura daqueles dentre nós cujos fluidos vitais, arrefecidos pela desintegração completa da matéria, permitissem locomoção para as camadas do Invisível intermediário, ou de transição.
Supúnhamos tratar-se, a caravana, de um grupo de homens. Mas na realidade eram Espíritos que estendiam a fraternidade ao extremo de se materializarem o suficiente para se tornarem plenamente percebidos à nossa precária visão e nos infundirem confiança no socorro que nos davam.
Trajados de branco, apresentavam-se caminhando pelas ruas lamacentas do Vale, de um a um, em coluna rigorosamente disciplinada, enquanto, olhando-os atentamente, distinguiríamos, à altura do peito de todos, pequena cruz azul-celeste, o que parecia ser um emblema, um distintivo.
Senhoras faziam parte dessa caravana. Precedia, porém, a coluna, pequeno pelotão de lanceiros, qual batedor de caminhos, ao passo que vários outros milicianos da mesma arma rodeavam os visitadores, como tecendo um cordão de isolamento, o que esclarecia serem estes muito bem guardados contra quaisquer hostilidades que pudessem surgir do exterior. Com a destra o oficial comandante erguia alvinitente flâmula, na qual se lia, em caracteres também azul-celeste, esta extraordinária legenda, que tinha o dom de infundir insopitável e singular temor: - LEGIÃO DOS SERVOS DE MARIA.
Os lanceiros, ostentando escudo e lança, tinham tez bronzeada e trajavam-se com sobriedade, lembrando guerreiros egípcios da antiguidade. E, chefiando a expedição, destacava-se varão respeitável, o qual trazia avental branco e insígnias de médico a par da cruz já referida. Cobria-lhe a cabeça, porém, em vez do gorro característico, um turbante hindu, cujas dobras eram atadas à frente pela tradicional esmeralda, símbolo dos esculápios.
Entravam aqui e ali, pelo interior das cavernas habitadas, examinando seus ocupantes. Curvavam-se, cheios de piedade, junto das sarjetas, levantando aqui e acolá algum desgraçado tombado sob o excesso de sofrimento; retiravam os que apresentassem condições de poderem ser socorridos e colocavam-nos em macas conduzidas por varões que se diriam serviçais ou aprendizes.
Voz grave e dominante, de alguém invisível que falasse pairando no ar, guiava-os no caridoso afã, esclarecendo detalhes ou desfazendo confusões momentaneamente suscitadas. A mesma voz fazia a chamada dos prisioneiros a serem socorridos, proferindo seus nomes próprios, o que fazia que se apresentassem, sem a necessidade de serem procurados, aqueles que se encontrassem em melhores condições, facilitando destarte o serviço dos caravaneiros. Hoje posso dizer que todas essas vozes amigas e protetoras eram transmitidas através de ondas delicadas e sensíveis do éter, com o sublime concurso de aparelhamentos magnéticos mantidos para fins humanitários em determinados pontos do invisível, isto é, justamente na localidade que nos receberia ao sairmos do Vale. Mas, então, ignorávamos o pormenor e muito confusos nos sentíamos.
As macas, transportadas cuidadosamente, eram guardadas pelo cordão de isolamento já referido e abrigadas no interior de grandes veículos à feição de comboios, que acompanhavam a expedição. Esses comboios, no entanto, apresentavam singularidade interessante, digna de relato.
Em vez de apresentarem os vagões comuns às estradas de ferro, como os que conhecíamos, lembravam, antes, meio de transporte primitivo, pois se compunham de pequenas diligências atadas uma às outras e rodeadas de persianas muito espessas, o que impediria ao passageiro verificar os locais por onde deveria transitar. Brancos, leves, como burilados em matérias específicas habilmente laqueadas, eram puxados por formosas parelhas de cavalos também brancos, nobres animais cuja extraordinária beleza e elegância incomum despertariam nossa atenção se estivéssemos em condições de algo notar para além das desgraças que nos mantinham absorvidos dentro de nosso âmbito pessoal.
Dir-se-iam, porém, exemplares da mais alta raça normanda, vigorosos e inteligentes, as belas crinas ondulantes e graciosas enfeitando-lhes os altivos pescoços quais mantos de seda, níveos e finalmente franjados.
Nos carros distinguia-se também o mesmo emblema azul-celeste e a legenda respeitável. Geralmente, os infelizes assim socorridos encontravam-se desfalecidos, exânimes, como atingidos de singular estado comatoso. Outros, no entanto, alucinados ou doloridos, infundiriam compaixão pelo estado de supremo desalento em que se conservavam.
Depois de rigorosa busca, a estranha coluna marchava em retirada até o local em que se postava o comboio, igualmente defendido por lanceiros hindus. Silenciosamente
cortava pelos becos e vielas, afastava-se, afastava-se... desaparecendo de nossas vistas enquanto mergulhávamos outra vez na pesada solidão que nos cercava... Em vão clamavam por socorro os que se sentiam preteridos, incapacitados de compreenderem que, se assim sucedia, era porque nem todos se encontravam em condições vibratórias para emigrarem para regiões menos hostis. Em vão suplicavam justiça e compaixão ou se amotinavam, revoltados, exigindo que os deixassem também seguir com os demais. Não respondiam os caravaneiros com um gesto sequer; e se algum mais desgraçado ou audacioso tentasse assaltar as viaturas a fim de atingi-las e nelas ingressar, dez, vinte lanças faziam-no recuar, interceptando-lhe a passagem.
Então, um coro hediondo de uivos e choro sinistros, de pragas e gargalhadas satânicas, o ranger de dentes comum ao réprobo que estertora nas trevas das males por si próprio forjados, repercutiam longa e dolorosamente pelas ruas lamacentas, parecendo que loucura coletiva atacara os míseros detentos, elevando suas raivas ao incompreensível no linguajar humano!
E assim ficavam... quanto tempo?... Oh! Deus piedoso! Quanto tempo?...
Até que suas inimagináveis condições de suicidas, de mortos-vivos, lhes permitissem também a transferência para localidade menos trágica...