Por que Garrincha?
Posso dizer que vivi a era Garrincha. Mas nunca o vi jogar. Eu era garoto quando o Anjo das pernas tortas brilhava. Em 1958 quando o Brasil foi pela primeira vez campeão do mundo eu tinha só sete anos.
Mas sei o quanto era brilhante o futebol desse que se denominou A ALEGRIA DO POVO. A memória vai acabando. Poucos são os que presenciaram seus dribles em uma época em que os meios de comunicação não eram tão generosos como hoje e por isso existem muitas poucas imagens de Garrincha, mas a memória dos que o presenciaram e que aos poucos vão desaparecendo revela o quão ele era fantástico. Muito mais do que Messi e outros que hoje atraem a atenção. Ele era um jogador cuja presença fazia a diferença.
Não tomava conhecimento de marcadores como Newton Santos ou outros marcadores famosos. Por sinal Newton Santos teve a bola passada por baixo de suas pernas quando o garoto Manoel chegou ao botafogo e foi fazer um de seus primeiros treinos. Chegou a seleção como reserva, mas logo Newton santos pediu para escala-lo. "Coloca ele que o resto fica fácil". Depois disso a posição passou a ser dele.
Figura mítica do futebol brasileiro e mundial, e apesar de ter carregado o selecionado brasileiro quase que nas costas na conquista do Mundial de 1962, Garrincha tem caído no esquecimento ao longo dos anos.
Mas sei o quanto era brilhante o futebol desse que se denominou A ALEGRIA DO POVO. A memória vai acabando. Poucos são os que presenciaram seus dribles em uma época em que os meios de comunicação não eram tão generosos como hoje e por isso existem muitas poucas imagens de Garrincha, mas a memória dos que o presenciaram e que aos poucos vão desaparecendo revela o quão ele era fantástico. Muito mais do que Messi e outros que hoje atraem a atenção. Ele era um jogador cuja presença fazia a diferença.
Não tomava conhecimento de marcadores como Newton Santos ou outros marcadores famosos. Por sinal Newton Santos teve a bola passada por baixo de suas pernas quando o garoto Manoel chegou ao botafogo e foi fazer um de seus primeiros treinos. Chegou a seleção como reserva, mas logo Newton santos pediu para escala-lo. "Coloca ele que o resto fica fácil". Depois disso a posição passou a ser dele.
Figura mítica do futebol brasileiro e mundial, e apesar de ter carregado o selecionado brasileiro quase que nas costas na conquista do Mundial de 1962, Garrincha tem caído no esquecimento ao longo dos anos.
Contra ele jogam juntos: seu alcoolismo, seu desdém para com as regras – todas elas muito certinhas, retilíneas – e o profissionalismo do futebol de hoje. Como se não bastasse isso, suprema ironia do capitalismo, telenovelas da TV Tupi chegaram a ser gravadas sobre fintas do Mané. Mas todas as telenovelas não valem um drible de Garrincha.
Enfim, por que Mané Garrincha? Porque Garrincha “é o nome de um passarinho inútil e feio.” Garrincha era tudo que não daria certo.
Garrincha era um homem do povo. E, entrentanto, esse homem de pernas tortas foi capaz de driblar todos os infortúnios. Foi quiçá “parábola do homem comum, roçando o céu.”
Garrincha foi “a alegria do povo”, e povo sem alegria é povo submisso, incapaz de amar a vida e de lutar por ela. A Garrincha rendemos nossa homenagem: viva Mané! Em Garrincha buscamos nossa inspiração, quiçá sejamos capazes de fintar como o genial ponta direita.
Garrincha era um homem do povo. E, entrentanto, esse homem de pernas tortas foi capaz de driblar todos os infortúnios. Foi quiçá “parábola do homem comum, roçando o céu.”
Em 1962 ele só, levou a seleção ao BI. |
A dentada
A tarde de uma quinta-feira, dia da pelada semanal, estava chuvosa. Era uma pelada muito concorrida, disputada no campo circundado por uma vala negra e que ficava atrás de nossa casa na Barra da Tijuca.
Nesse dia, a não ser que caísse um dilúvio, a pelada tinha de ser realizada. Mais uma vez, aparecera gente de fora e conhecidos querendo vaga num dos times ou simplesmente para ter o privilégio de ver Garrincha e alguns de seus convidados famosos, como Oliveira (Au) e Mário Tilico e Vermelho (ambos do Bangu), entre outros, darem show sem a responsabilidade profissional.
Geralmente, era pai contra fllhos, ou seja, Mané contra Carlinhos, Gfison e eu. Não preciso dizer que éramos fregueses de caderno do time escolhido por Mané, mas mantínhamos nossa esperança diante dos craques e tentávamos, no grito, vencer. Vencemos algumas vezes. As que perdemos, os culpados foram os árbitros, que torciam por Mané.
Antes de seguirmos para o campo, fizemos um rápido lanche.
Quando digo rápido, refiro-me a Carlinhos, Mané e eu. Gílson permaneceu, como de hábito, à mesa, degustando lentamente pães, queijos, presunto, bolo, tudo muito bem acompanhado de um copo duplo de café com leite. Por isso, tinha uma obesidade, combatida, inutilmente, por Mané e Elza.
Mas meu irmão nem ligava, ele gostava de comer e não escondia isso. Dificilmente poderia fazer regime, diante da fartura de guloseimas na casa. Fato que o impedia de atender aos apelos dos pais para emagrecer.
Ainda batíamos bola no campo, enquanto os capitães escolhiam os times no par ou ímpar, e Gílson chegou, mastigando um dos sanduíches, arrastando seus quilos e requisitando a sua vaga. Confesso que a maioria não gostava de jogar do seu lado, pois era o ponto fraco do time.
Mas a escalação era sempre assegurada por Mané, que gostava do menino e exigia que jogasse.
Nesse dia, porém, Mané se arrependeu de defender sua participação na pelada. GiIson jogou na lateral. E como todos sabiam ser ali o ponto fraco, os melhores jogadores do adversário tramavam por seu lado, para desespero dos companheiros do time de Gílson.
Mané, que gostava de brincar com zagueiros profissionais, divertia-se ao fazer Gílson de João e resolveu jogar como ponta-direita, sua verdadeira posição. Foi um passeio. Ele dribiava meu irmão como se não houvesse ninguém a marcá-lo. Então, Carilnhos, irritado, ao término do primeiro tempo mexeu com os brios do irmão mais novo.
Chamou-o no canto, deu-lhe um puxão de orelhas, exigiu que não se deixasse ser ridicularizado diante de tanta gente e que marcasse Mané com mais dureza, evitando de qualquer forma a progressão das jogadas por seu lado. Como se isso fosse fácil ou possível.
Gílson encheu-se de orgulho, dizendo que na segunda etapa seria outro, que não seria feito de bobo. Prometeu segurar o ponta de qualquer jeito. Não acreditamos. Mané jogava como queria, como gostava, brincava com qualquer um que tentasse marcá-lo.
Mas algo inusitado aconteceu. No primeiro lance, Mané partiu despreocupadamente para cima de Gílson, que se agarrou ao seu corpo e o jogou ao chão. No segundo lance, Gílson, segurou com firmeza sua camisa e para não tê-la rasgada Mané parou. E mais uma vez Mané não conseguiu driblá-lo, para espanto e surpresa de todos, que, mesmo de maneira irregular, viram que meu gordinho irmão estava conseguindo o seu objetivo.
Nos dois lances seguintes, Gílson segurou a camisa de Mané, que não prosseguiu a jogada. Então, Mané teve a idéia de tirá-la Gílson, não tendo onde agarrar, passou a se pendurar no seu calção. Agora Mané não corria o risco de perder a camisa, mas sim de ficar nu. E foi parado. Melhor dizendo, anulado.
Mas Gílson começou a sentir cansaço. Conseqüência, claro, da obsedidade, das muitas horas que passava todos os dias à mesa. Para ser mais claro, conseqüência do pequeno (?) lanche que fizera pouco antes da pelada que não podia deixar de ser disputada naquela quinta-feira chuvosa. Mané, então, sorrindo, driblou Gílson seguidas vezes.
Num dos lances, depois de mais uma seqüência de dribles, Gílson, suando muito, boca aberta, implorando por ar, agarrou-se às costas de Mané. De nada adiantou. Gílson foi sendo arrastado por Mané.
A cada passo do ponta-direita, Gílson mais escorregava. E escorregou até chegar à altura do calção.
Desesperado, imaginando que seu ato fosse uma forma de vingança contra Mané, Gílson não resistiu: deu uma dentada na bunda de Mané. Sem resistir à dor, Mané gritou. E para alívio de Gílson, abandonou a pelada.
Garrincha marcou seu nome na história do futebol brasileiro com o apelido de "alegria do povo". Foi o legítimo representante do futebol-arte brasileiro, com seu estilo original de jogar, com seus dribles abusados e com suas jogadas divertidas.
Manoel Francisco dos Santos, o "Mané", pertencia a uma família pobre de 15 irmãos. O apelido Garrincha veio de um tipo de pássaro, comum na região serrana, que Mané gostava de caçar com seu bodoque.
Na cidade onde nasceu, no Estado do Rio de Janeiro, havia uma fábrica de tecidos de propriedade de um grupo inglês que mantinha um time de futebol amador, o Pau Grande Esporte Clube. Aos 15 anos, Mané começou a trabalhar na fábrica, e não demorou a treinar no time, mas não teve chance de jogar logo porque, além da sua pouca idade, o técnico Carlos Pinto temia expor o garoto aos fortes zagueiros dos times adversários.
Cansado de não ter uma chance de jogar, Mané registrou-se no time Serrano, da cidade vizinha de Petrópolis e jogou durante quase um ano. Depois disso, o técnico Carlos Pinto decidiu dar uma chance ao Mané e, com sua entrada na ponta direita, o time do Pau Grande cresceu.
Depois de algum tempo, Garrincha foi tentar a sorte em algum clube da capital. Procurou o Flamengo, o Fluminense e o Vasco, mas com suas pernas tortas, não lhe deram atenção.
Garrincha ficou desiludido, até o dia que foi convidado para fazer um teste no Botafogo e encantou o técnico Carlos Pinto. Fez parte do melhor time do Botafogo de todos os tempos, que contava com Zagalo, Didi, Amarildo e Nilton Santos, entre outros. Sua melhor jogada era o drible para a direita, o arranque e o cruzamento para a área. Mesmo com uma diferença de 6 cm que separava seus joelhos, sempre levava vantagem sobre o marcador.
Em 1962, quando começou o romance com a cantora Elza Soares, Garrincha já tinha sete filhas com Nair, sua mulher; um casal de filhos com Iraci, sua amante e um filho sueco concebido em junho de 1959. Além destes, teve uma oitava filha com Nair, um filho com Elza e mais uma filha com Vanderléa, sua última mulher, totalizando 13 filhos.
Jogou 60 partidas pela seleção brasileira e encantou a todos em três Copas do Mundo: da Suécia (1958) e do Chile (1962), das quais o Brasil foi campeão, e daInglaterra (1966). Com Garrincha, o Brasil obteve 52 vitórias e sete empates.
No final da carreira, jogou também no Corinthians, no Flamengo, no Olaria e em outros times brasileiros e estrangeiros. Morreu em decorrência da cirrose hepática, em 1983.
Eternamente admirado, foi homenageado com o poema "O Anjo de Pernas Tortas", de Vinicius de Moraes, o documentário "Garrincha, Alegria do Povo", deJoaquim Pedro de Andrade, a biografia "Estrela Solitária", de Ruy Castro, e os versos de Carlos Drummond de Andrade: "Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios.(...)".
Entre 1963, quando o seu futebol começa a sofrer por causa de uma artrose no joelho, e 1983, quando morre em conseqüência do alcoolismo, Garrincha enfrenta uma série de episódios trágicos: tentativas de suicídio, acidentes de automóvel e dezenas de internações por alcoolismo.
Não deixe de ver a trajetória de garrincha no filme documentário "GARRINCHA" que você baixa clicando aqui.