“Lava Jato”, a mentira brasileira
Um magistrado julgado “tendencioso”, uma equipa de promotores cujos métodos às vezes eram ilegais, a intervenção dos Estados Unidos e, por fim, um escândalo retumbante: “Lava Jato” serviu a muitos interesses, mas não à democracia. Meses de investigação, entrevistas e pesquisas foram necessários para “Le Monde” definir a cena nos bastidores.
Algo está podre no estado do Brasil. O país inteiro está sendo atingido por uma série de crises simultâneas, uma espécie de tempestade perfeita - recessão econômica, desastres ambientais, polarização política extrema, Covid-19 ... e agora o naufrágio do sistema judicial. Outro trovão em um céu já pesado, mas cheio de esperança há sete anos, quando um jovem juiz chamado Sergio Moro lançou, em 17 de março de 2014, uma vasta operação anticorrupção chamada “Lava Jato” (“Lava Jato” ), envolvendo a gigante do petróleo Petrobras, empresas de construção e um número expressivo de líderes políticos.
De uma só vez, o impetuoso Dallagnol e sua equipe de promotores, apoiados pelo judiciário e pela mídia, iam, enfim, limpar e salvar o Brasil! Os números foram impressionantes: 1.450 mandados de prisão foram emitidos, 533 acusações foram feitas e 174 pessoas condenadas. Nada menos que doze chefes de estado ou ex-chefes de estado brasileiros, peruanos, salvadorenhos e panamenhos foram implicados. E a colossal soma de 4,3 bilhões de reais (610 milhões de euros) foi recuperada para os cofres públicos de Brasília. Até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, adorado pela maioria dos brasileiros, não resistiu à onda, pois se viu atrás das grades.
E então, de repente, nada ou quase nada. Em menos de dois meses, a extensa investigação desmoronou como um suflê. No início de fevereiro, o Ministério Público Federal anunciou o fim da “Lava Jato”, desmontando sua principal equipe de promotores com uma frieza nunca vista. Em seguida, um ministro do Supremo Tribunal ordenou que as acusações contra Lula fossem retiradas. Quinze dias depois, em 23 de março, foi a vez da mais alta corte do Brasil decidir que o juiz Moro havia sido "tendencioso" em sua investigação.
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