Venezuela tem mais petróleo do que Arábia Saudita. Setor é subexplorado.
O país detém 17,9% das reservas comprovadas de petróleo no mundo, à frente de Arábia Saudita (15,7%), Canadá (10,0%) e Irã (9,3%)
Recentemente, os Estados Unidos impuseram duras sanções à indústria petrolífera venezuelana com o objetivo de pressionar o presidente, Nicolás Maduro, a renunciar.
Quais são as sanções?
As sanções impedem que empresas americanas façam negócios com a PDVSA, petroleira estatal venezuelana, e congela os ativos da companhia nos Estados Unidos.
Essas medidas não eliminam totalmente as importações, mas exigem que os pagamentos sejam feitos em contas que a PDVSA não pode acessar.
Analistas consultados pela BBC Mundo afirmam que, devido às sanções, o governo venezuelano não tem como se beneficiar da venda de petróleo para os Estados Unidos, já que não pode tocar no dinheiro.
COISAS QUE NÃO TE DISSERAM SOBRE A VENEZUELA.
A principal razão da crise na Venezuela é a queda do preço do petróleo no mercado internacional a partir de 2015/2016.
A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo - e o recurso é praticamente a única fonte de receita externa do país.
Após a Primeira Guerra Mundial, sucessivos governantes venezuelanos deixaram o desenvolvimento agrícola e industrial de lado para focar em petróleo, que hoje responde por 96% das exportações - uma dependência quase total.
A aposta no petróleo foi segura durante anos e deu bons resultados nos momentos em que o preço do barril estava alto. Entre 2004 e 2015, nos governos de Hugo Chávez e no início do de Nicolás Maduro - eleito em 2013 após a morte de seu padrinho político, no mesmo ano - , o país recebeu 750 bilhões de dólares provenientes da venda de petróleo.
O governo chavista aproveitou essa chuva dos chamados "petrodólares" para financiar de programas sociais a importações de praticamente tudo que era consumido no país.
Com a queda do preço do petróleo, queda essa que foi criada pelos Estados Unidos exatamente com o fim de desestabilizar países como Venezuela e Brasil, em parceria com países do Oriente Médio, produziram efeitos catastróficos principalmente na Venezuela que depende quase que exclusivamente do Petróleo para importar tudo o que consome, já que o país direcuionou sua economia basicamente para o Petróleo.
A partir da queda do preço do petróleo no mercado internacional, economias como Venezuela e Brasil entre outras sofreram forte impacto
Os Estados Unidos tornaram-se em 2014 o maior produtor de petróleo do mundo, pela primeira vez desde 1975. O salto na produção nos últimos anos foi obtido graças ao óleo de xisto, cuja técnica não convencional envolve a injeção de água sob alta pressão e fraturação hidráulica em rochas localizadas entre 1.500 e 2.400 metros de profundidade.
A Opep culpou o grande aumento da produção de óleo de xisto pelos baixos preços do petróleo e manteve sua produção recorde, numa estratégia para impedir que o petróleo retirado do xisto conquistasse mais mercados.
Alguns países sofreram mais com a redução dos preços do petróleo, sobretudo Venezuela, Rússia e Irã, em razão do grande peso das exportações da commodity em suas economias.
As petrolíferas internacionais tiveram então mais uma vez, que cortar gastos e empregos, vender ativos e atrasar projetos, já que a queda do preço do petróleo não sinalizava uma possível recuperação.
Já bastante fragilizada, a economia Venezuelana sofreu um importante golpe em agosto do ano passado, quando os EUA impuseram sanções ao país e a alguns de seus cidadãos. O governo Trump proibiu a realização de transações com títulos da dívida venezuelana e a compra de bônus da estatal petroleira PDVSA.
Em maio deste ano, após a polêmica reeleição de Maduro, as sanções foram aprofundadas com a limitação da venda de dívida e ativos públicos do governo venezuelano em território americano.
Como a maior parte do sistema financeiro mundial tem atividades nos Estados Unidos, as sanções dificultam muito que novos empréstimos sejam feitos à Venezuela e que o país consiga vender novos ativos e renegociar suas dívidas. Por outro lado, seus efeitos são questionados, pois o país já estava isolado antes disso – organizações como o FMI já não davam dinheiro à Venezuela havia anos.
Críticos afirmam que as sanções têm conseguido apenas que Maduro se aferre mais ao poder, além de terem intensificado a escassez de produtos básicos – uma vez que, sem acesso a dólares, o país tem mais dificuldade em importar bens.
Os EUA continuam, no entanto, sendo um dos principais importadores de petróleo venezuelano – a PDVSA tem, inclusive, uma filial em solo americano, a Citgo. Segundo analistas, o governo Trump não anuncia sanções a esse setor em específico porque isso aprofundaria a crise no país, o que aumentaria a pressão sobre os EUA e seus vizinhos. Há também quem cite o fato de que parar de comprar o produto venezuelano levaria a um aumento dos preços da gasolina nas bombas americanas.
O FUTURO NA VENEZUELA
Com aproximação a esquerda, a Venezuela mantém laços estreitos com a Russia e a China.
Em 2012 uma empresa russa a ROSNEFT iniciou extração de petróleo na Venezuela.
A petroleira russa Rosneft começou a extração de petróleo na Faixa Petrolífera do Orinoco (FPO), na Venezuela, confirmou hoje o presidente da empresa estatal russa, Igor Sechín. É considerada a maior fonte de hidro carbonos líquidos do mundo.
A operação resulta de acordos assinados pelos dois países em 2011; a Rússia prevê investir uns 20 bilhões de dólares no desenvolvimento do bloco Junín 6 durante os próximos 40 anos, enquanto no Carabobo -também incluído nos acordos bilaterais- o investimento ficará entre 16 e 20 bilhões de dólares em igual período.
A FPO ocupa uma área de 55.314 quilômetros quadrados situada a partir da parte norte do rio Orinoco, nos estados de Guárico, Anzoátegui, Monagas e Delta Amacuro, e é considerada a maior acumulação do mundo de petróleo pesado e extrapesado.
Maduro (e) e Putin fecharam investimento bilionário no fim de 2018 Maxim Shemetov / Reuters / 5.12.2018
Entenda os motivos que explicam o apoio da Rússia a Nicolás Maduro.
Fatores financeiros e geopolíticos influenciam no apoio que o presidente russo Vladimir Putin tem dado ao colega venezuelano, segundo especialistas
Maduro (e) e Putin fecharam investimento bilionário no fim de 2018 Maxim Shemetov / Reuters / 5.12.2018
Isolado perante uma grande parte dos países do mundo, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, conta com um importante aliado estrangeiro em sua luta para manter-se no cargo: o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Antes mesmo de explodir a atual crise da ajuda humanitária, o governo russo vinha ajudando Maduro a contornar as duras sanções econômicas impostas contra o regime pelos EUA de Donald Trump.
Em dezembro, durante uma visita a Moscou, Maduro anunciou investimentos russos de US$ 6 bilhões (cerca de R$ 22,5 bilhões). Nos dias seguintes, aviões militares enviados por Putin chegaram a Caracas, em demonstração de apoio.
Na última semana, enquanto Maduro e seu governo recusavam doações dos EUA e outros países como o Chile e fechavam as fronteiras com a Colômbia e o Brasil, toneladas de medicamento chegaram da Rússia.
Apoio geopolítico
Mas o que pode explicar essa tomada de posição de Putin, em um momento em que a maior parte da comunidade internacional se apressa em condenar Maduro e reconhecer o líder do parlamento, Juan Guaidó, como autoproclamado presidente interino do país?
Para Victor Jeifets, professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual de São Petesburgo (Rússia), existe um motivo financeiro e outro geopolítico para o posicionamento de Putin em relação à Venezuela.
"Eu não definiria como um simples apoio a Maduro. Nos discursos de Putin e seus ministros não existe uma defesa da política interna dele. O que a Rússia apoia é a legitimidade do governo Maduro e considera Venezuela um aliado geopolítico. Os EUA claramente querem aumentar sua influência na Venezuela e na América Latina toda. A Rússia não pode ficar assistindo isso acontecer", analisou, em entrevista ao R7.
De acordo com o professor, a escalada na disputa EUA-Rússia lembra a Guerra Fria da segunda metade do século XX. "Nesse cenário, mesmo sendo Maduro um aliado debilitado internacionalmente, não se abandona um aliado facilmente", explica.
A questão financeira
Além da disputa por espaço no cenário mundial, a Rússia possui muitos investimentos na Venezuela, especialmente nos últimos anos e, de acordo com Jeifets, isso tem um peso importante nas decisões de Putin.
"A Venezuela é hoje o terceiro maior parceiro comercial da Rússia na América do Sul, depois do Brasil e da Argentina. Não chega a ser uma balança comercial favorável ao comércio russo, mas é muito dinheiro. A Rússia investe no petróleo e transfere tecnologias de extração para a Venezuela", relata.
O conflito entre o governo Maduro e a Assembleia Nacional da Venezuela, controlada pela oposição desde 2016, é um fator importante, detalha o professor. E isso é importante para entender também porque a China se mostra favorável ao regime venezuelano.
"Nem todos os contratos de investimento estariam protegidos pelas leis internacionais, já que o governo Maduro fechou acordos que não foram aprovados pela Assembleia Nacional, e por isso estão em uma zona de risco. Se Maduro cair, eles podem ser anulados. É a mesma posição da China, nenhum dos países quer perder seus investimentos. No caso da Rússia, são de cerca de US$ 17 bilhões (cerca de R$ 63 bilhões), é um valor muito grande", diz.
Não haveria um componente ideológico nisso. "Acredito que a Rússia poderia ter negócios com qualquer governo venezuelano. No Brasil, por exemplo, a situação não mudou após a saída de Dilma Rousseff. Mas, obviamente, dava vantagens ao comércio com a Rússia e a China e não há garantias de que elas seriam mantidas em caso de uma mudança de regime", finaliza.
Parceria antiga
Na análise de Paulo Velasco, professor de Relações Internacionais da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), a parceria da Rússia com a Venezuela é antiga e envolve diversos fatores.
"São relações econômicas importantes, que vêm desde o tempo do Hugo Chávez, especialmente vendas de armamentos e veículos. Há também o interesse russo de conquistar mercados em áreas não comuns", afirma.
O posicionamento russo também pode ser entendido como uma resposta à interferência dos EUA, ainda no governo Barack Obama, durante o conflito com a Ucrânia, que culminou com a anexação da Crimeia, em 2014. "Putin dá um recado claro, mostra que ele também pode interferir na América Latina", alerta.