Parece pouco, mas o ministro do Supremo Tribunal Federal, graças à sua dedicação e amor pela democracia, nos livrou a todos nós de vivermos tempos sombrios que só sabem o que foi, aqueles que viveram esses tempos.
Para se ter uma ideia do que foram esses tempos, existia aqui no Rio de Janeiro um grupo de policiais que eram pagos segundo informações da época por comerciantes e empresários. Eram os chamados os 12 homens de ouro.
Acusado de assassinar Marielle Franco integrou organização criada, há 60 anos, por policiais que queriam se vingar de bandido após morte de detetive; entenda.
Segundo os policiais, os tiros que atingiram o detetive de 44 anos partiram do criminoso, mas versões posteriores afirmam que ele foi acidentalmente alvejado por um disparo de dentro do seu carro. O fato é que a morte de Le Cocq revoltou os colegas. Ex-segurança de Getúlio Vargas e considerado ótimo solucionador de casos, o agente era idolatrado por seus pares. “Não foram poucos os que, junto ao cadáver, juraram matar o assassino”, informou O GLOBO na reportagem sobre a morte do detetive.
O Brasil vivia, então, o início da ditadura militar. Muitos policiais deram apoio ao golpe de 31 de março daquele ano de 1964 e, com o tempo, passaram a atuar como agentes da repressão. Escritor e colunista do GLOBO, Zuenir Ventura chama de “ovo de serpente” a época em que grupos assassinos como a Scuderie Le Cocq se consolidaram. No livro "Cidade partida" (Cia das Letras), de 1994, o autor descreve tensões sociais daquele período até a chacina de Vigário Geral, em 1993, quando 21 pessoas foram executadas por policiais que queriam vingar a morte de quatro PMs na favela.
Cara de Cavalo passou semanas em fuga, com muitos policiais em seu encalço (todos sem nenhuma intenção de prendê-lo). Na noite de 2 de outubro, o bandido chegou ao casebre de Saco de Fora. Hoje, o local faz parte da Armação de Búzios, na Região dos Lagos, mas, na época, integrava o município de Cabo Frio. O criminoso foi levado pela namorada, Nilza Ribeiro, que era amiga de Vanilda Alves, filha de Pedro Januário e Clotilde Alves, os donos da casa. Ao chegar na propriedade e respirar aquele ar de tranquilidade, Cara de Cavalo pode ter pensando que estava seguro. Mas foi só impressão.
À polícia, Nilza disse que o grupo de extermínio invadiu o imóvel às 4h30 de 3 de outubro. Dos cerca de cem disparos, 62 atingiram Cara de Cavalo, a maioria no torso. Os inspetores escalados para o caso, é claro, afirmavam que não tinham informações sobre os assassinos. Mais tarde, porém, soube-se que aquela havia sido a primeira execução da Scuderie Le Cocq. O policial José Guilherme Godinho Ferreira foi um dos autores dos disparos. Em 1990, ele se elegeu deputado estadual pelo PFL com o nome de Delegado Sivuca, repetindo uma frase que virou seu slogan: "Bandido bom é bandido morto".
Cortejo fúnebre no complexo do Alemão para o bandido Cara de Cavalo. Dizia-se que ele utilizava o produto da extorsão para promover ações sociais na comunidade. Por isso seu enterro foi acompanhado por muitas pessoas.
Com o emblema da caveira com ossos cruzados, a Scuderie tinha o jornalista David Nasser como "presidente de honra" e era liderada pelos "doze homens de ouro" da polícia. Entre eles, estavam Sivuca e o detetive Mariel Mariscot, que foi preso nos anos 1970 por ligação com tráfico e corrupção. Ele morreu em 1981, quando tentava se tornar um chefe do jogo do bicho. A organização chegou a ter 7 mil associados, com policiais, juízes, políticos, promotores e comerciantes, além de uma ramificação no Espírito Santo, com direito a CNPJ e ficha de inscrição, dissolvida pela Justiça em 2005.
No Rio, a Scuderie Le Cocq deixou de atuar entre as décadas de 1980 e 1990. Ronnie Lessa tinha 19 anos quando entrou para a organização, sob a matrícula 3.127. Ele integrou a associação depois de prestar o serviço obrigatório no Exército. Em novembro de 1991, o agente ingressou na Polícia Militar. No ano seguinte, passou pelo Batalhão de Choque. De maio de 1993 a janeiro de 1997, atuou no Batalhão de Operações Especiais (Bope), mesmo sem nunca ter feito o curso de operações táticas necessário para o exercício da função, de acordo com sua ficha como policial militar.






Castor de Andrade considerado a época o Chefão do Jogo do bicho no Rio de Janeiro ao lado de Moreira Franco que foi Governador do Estado do Rio de Janeiro. |
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