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JORNAIS QUE TEM INFORMAÇÃO REAL.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

OBRIGADO ALEXANDRE DE MORAES



Parece pouco, mas o ministro do Supremo Tribunal Federal, graças à sua dedicação e amor pela democracia, nos livrou a todos nós de vivermos tempos sombrios que só sabem o que foi, aqueles que viveram esses tempos.

Para se ter uma ideia do que foram esses tempos, existia aqui no Rio de Janeiro um grupo de policiais que eram pagos segundo informações da época por comerciantes e empresários. Eram os chamados os 12 homens de ouro.

Scuderie Le Cocq: A origem do grupo de extermínio do qual Ronnie Lessa fez parte

Acusado de assassinar Marielle Franco integrou organização criada, há 60 anos, por policiais que queriam se vingar de bandido após morte de detetive; entenda.


A Scuderie Le Cocq foi criada para vingar a morte em serviço de Milton Le Cocq d’Oliveira, famoso detetive de polícia do estado do Rio de Janeiro (antigo Distrito Federal), integrante da guarda pessoal de Getúlio Vargas e primo do Brigadeiro Eduardo Gomes.[7] Ele teria sido morto por Manoel Moreira, conhecido como Cara de Cavalo, marginal que atuava na Favela do Esqueleto, na década de 1960, enquanto fazia a proteção de banqueiros do jogo do bicho para que não se roubassem seus pontos de jogo.[8][9] Segundo relatos da época, entretanto, Cara de Cavalo não reagiu aos disparos realizados por Le Cocq e mais 3 policiais, sendo o disparo que matou o detetive oriundo do próprio carro em que ele se encontrava.[10]

A morte do bandido Cara de Cavalo nos anos 60. Executado por policiais que depois vieram a fundar o grupo Scuderie Detetive Le Cocq.

A morte mobilizou diversos policiais que se apresentaram voluntariamente para participar das diligências.[9] Cara de Cavalo foi encontrado e morto poucos dias depois, com mais de 50 tiros.[9] Entre os executores se encontravam Luiz Mariano e Guilherme Godinho Ferreira, o Sivuca, que mais tarde se elegeria deputado estadual pelo Rio de Janeiro, com o bordão "bandido bom é bandido morto",[9] depois complementado por “e enterrado de pé, para não ocupar muito espaço”.[5]

Pedro Januário e Clotilde Alves da Costa moravam num casebre no Saco de Fora, onde hoje fica a Armação de Búzios, no Estado do Rio. A violência típica da cidade grande era algo distante para eles até que, na madrugada de 3 de outubro de 1964, um grupo de homens armados invadiu a residência e executou, com mais de 60 tiros, um hóspede desconhecido e recém-chegado que a filha deles tinha trazido junto com uma amiga. Pedro e Clotilde não sabiam ainda, mas o cidadão que abrigaram era o bandido Manoel Moreira, conhecido em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, como Cara de Cavalo.

Busto do detetive Milton Le Cocq, cuja morte motivou a criação de grupo de extermínio — Foto: Arquivo/Agência O GLOBO

Semanas antes, Cara de Cavalo se tornara o criminoso mais procurado da Guanabara, acusado de matar o detetive Milton Le Cocq. Jurado de morte, o bandido fugiu enquanto pôde, mas foi executado por policiais que, naquele momento, estavam fundando a Scuderie Detetive Le Cocq. Primeiro grupo de extermínio do Brasil, responsável por centenas de mortes, a organização se manteve ativa até os anos 2000. 

Principal suspeito de assassinar a vereadora Marielle Francoo ex-policial Ronnie Lessa, um dos chefes do Escritório do crime, entrou para o Scuderie em 1989, aos 18 anos de idade.

Cara de Cavalo vivia de extorquir apontadores do jogo do bicho. Armado com uma Colt 45, o homem de então 23 anos percorria ruas de Vila Isabel e da Tijuca de táxi para coletar o dinheiro de bicheiros, que, cansados de "perder" para o bandido, pediram ajuda de Le Cocq. Era o início da promiscuidade existente até hoje, entre agentes de segurança pública e chefes da contravenção. Nesta terça-feira, por exemplo, o Ministério Público do Rio liderou uma operação para prender 17 PMs suspeitos de fazer segurança armada para o bicheiro Rogério Andrade, patrono da escola de samba Mocidade.

Com os policiais Hermenegildo dos Santos, Aníbal Beckman e o delegado Hélio Vigio, Le Cocq armou a tocaia para "prender" Cara de Cavalo em Vila Isabel. Na noite de 27 de agosto de 1964, o grupo localizou a mulher que recolhia dinheiro de bicheiros, a mando do ladrão. Ela pegou o pagamento de um apontador na Favela do Esqueleto e, sem saber que era seguida, andou até o Largo do Maracanã, onde o bandido a esperava em um táxi. Ao perceber os policiais, Cara de Cavalo tentou fugir de carro, mas os agentes o alcançaram na Rua Teodoro da Silva. Houve tiroteio, e Le Cocq foi morto.

Segundo os policiais, os tiros que atingiram o detetive de 44 anos partiram do criminoso, mas versões posteriores afirmam que ele foi acidentalmente alvejado por um disparo de dentro do seu carro. O fato é que a morte de Le Cocq revoltou os colegas. Ex-segurança de Getúlio Vargas e considerado ótimo solucionador de casos, o agente era idolatrado por seus pares. “Não foram poucos os que, junto ao cadáver, juraram matar o assassino”, informou O GLOBO na reportagem sobre a morte do detetive.

O Brasil vivia, então, o início da ditadura militar. Muitos policiais deram apoio ao golpe de 31 de março daquele ano de 1964 e, com o tempo, passaram a atuar como agentes da repressão. Escritor e colunista do GLOBO, Zuenir Ventura chama de “ovo de serpente” a época em que grupos assassinos como a Scuderie Le Cocq se consolidaram. No livro "Cidade partida" (Cia das Letras), de 1994, o autor descreve tensões sociais daquele período até a chacina de Vigário Geral, em 1993, quando 21 pessoas foram executadas por policiais que queriam vingar a morte de quatro PMs na favela.


Cara de Cavalo passou semanas em fuga, com muitos policiais em seu encalço (todos sem nenhuma intenção de prendê-lo). Na noite de 2 de outubro, o bandido chegou ao casebre de Saco de Fora. Hoje, o local faz parte da Armação de Búzios, na Região dos Lagos, mas, na época, integrava o município de Cabo Frio. O criminoso foi levado pela namorada, Nilza Ribeiro, que era amiga de Vanilda Alves, filha de Pedro Januário e Clotilde Alves, os donos da casa. Ao chegar na propriedade e respirar aquele ar de tranquilidade, Cara de Cavalo pode ter pensando que estava seguro. Mas foi só impressão.


À polícia, Nilza disse que o grupo de extermínio invadiu o imóvel às 4h30 de 3 de outubro. Dos cerca de cem disparos, 62 atingiram Cara de Cavalo, a maioria no torso. Os inspetores escalados para o caso, é claro, afirmavam que não tinham informações sobre os assassinos. Mais tarde, porém, soube-se que aquela havia sido a primeira execução da Scuderie Le Cocq. O policial José Guilherme Godinho Ferreira foi um dos autores dos disparos. Em 1990, ele se elegeu deputado estadual pelo PFL com o nome de Delegado Sivuca, repetindo uma frase que virou seu slogan: "Bandido bom é bandido morto".


Cortejo fúnebre no complexo do Alemão para o bandido Cara de Cavalo. Dizia-se que ele utilizava o produto da extorsão para promover ações sociais na comunidade. Por isso seu enterro foi acompanhado por muitas pessoas.

Com o emblema da caveira com ossos cruzados, a Scuderie tinha o jornalista David Nasser como "presidente de honra" e era liderada pelos "doze homens de ouro" da polícia. Entre eles, estavam Sivuca e o detetive Mariel Mariscot, que foi preso nos anos 1970 por ligação com tráfico e corrupção. Ele morreu em 1981, quando tentava se tornar um chefe do jogo do bicho. A organização chegou a ter 7 mil associados, com policiais, juízes, políticos, promotores e comerciantes, além de uma ramificação no Espírito Santo, com direito a CNPJ e ficha de inscrição, dissolvida pela Justiça em 2005.

No Rio, a Scuderie Le Cocq deixou de atuar entre as décadas de 1980 e 1990. Ronnie Lessa tinha 19 anos quando entrou para a organização, sob a matrícula 3.127. Ele integrou a associação depois de prestar o serviço obrigatório no Exército. Em novembro de 1991, o agente ingressou na Polícia Militar. No ano seguinte, passou pelo Batalhão de Choque. De maio de 1993 a janeiro de 1997, atuou no Batalhão de Operações Especiais (Bope), mesmo sem nunca ter feito o curso de operações táticas necessário para o exercício da função, de acordo com sua ficha como policial militar.





As iniciais "E.M." no brasão da Scuderie Le Cocq significam "Esquadrão Motorizado", divisão da Polícia Especial à qual pertencia o detetive Milton Le Cocq na época em que ele era integrante da policia especial, e não Esquadrão da Morte.[9] 

ADESIVO DA SCUDERIE DETETIVE LE COCQ EM UM CARRO PARADO NO DIA DA MISSA EM HOMENAGEM AO MORTO. Essa história de que a sigla "EM" significava "esquadrão motorizado" é para enganar quem pergunto. Conta outra história para ver se eu acredito.

O emblema da Scuderie Le Cocq era uma caveira em cima de ossos cruzados.[9] Com a extinção da Polícia Especial, Le Cocq, além de seus colegas Sivuca e Euclides, passaram para a Polícia Civil.[9]

Doze Homens de Ouro

A associação era liderada pelos chamados "Doze Homens de Ouro"[11], que eram doze famosos policiais escolhidos pelo Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Luis França, para "limpar" a cidade e eliminar criminosos, travestis e moradores de rua.[5] O grupo era integrado pelos seguintes policiais civis: Aníbal Beckman dos Santos, conhecido como "Cartola"

Elinto Pires[11]
Euclides Nascimento Marinho
Hélio Guahyba Nunes
Humberto de Matos
Jaime de Lima
José Guilherme Godinho, conhecido como Sivuca
Lincoln Monteiro
Neils Kaufman, conhecido como "Diabo Loiro"
Nelson Duarte
Vigmar Ribeiro

O mais famoso deles era Mariel Mariscot que muito tempo depois viria a se desentender com a cúpula do Jogo do Bicho, sendo assassinado.


Mariel Moryscötte foi um dos "Homens de Ouro" da polícia fluminense. Galã, poeta e pintor, Mariel, na verdade, era um dos líderes do Esquadrão da Morte, grupo de extermínio composto por policiais civis e militares, e que mantinha relações estreitas com os bandidos, como o próprio Lúcio Flávio. Sua ligação promíscua com os criminosos provocou sua expulsão da polícia. Morreu assassinado no Centro do Rio, em 1981, quando estacionava seu carro para um reunião com a cúpula do jogo do bicho.

A Rua Alcântara Machado é um corredor estreito, quase uma travessa, espremido entre sobrados antigos, que liga as ruas Acre e Mayrink Veiga, no Centro do Rio. É lá que fica o prédio de três andares e fachada de mármore conhecido, no passado, como a "fortaleza" do contraventor Raul Capitão. No dia 8 de outubro de 1981, depois entrar naquela via ao volante de seu Passat LS, o ex-policial Mariel Mariscot dirigia devagar quase parando. Estava chegando para uma reunião com chefões do jogo do bicho. Antes de estacionar, porém, foi interceptado por dois homens diante de seu carro. Mariscot portava duas pistolas: uma calibre 45 e uma 6.35. Mas não teve tempo de usá-las. Um dos homens apontou para ele uma submetralhadora automática Ingram M11 e fez vários disparos.
 


Eram 17h30m daquela quinta-feira, há exatos 40 anos. O fotógrafo Chiquito Chaves tomava uma cerveja em um bar próximo quando ouviu o barulho de tiros e correu até a redação do jornal "Repórter", onde trabalhava, para pegar sua câmera. Pensou que se tratava de um assalto, mas, ao chegar lá..."O carro estava com os vidros estilhaçados e, lá dentro, Mariel estrebuchava, com a cabeça pendendo de um lado para outro. Um soldado da PM entrou no carro, que tinha o toca-fitas funcionando, empurrou Mariel para o banco do lado e arrancou em direção ao Hospital Souza Aguiar. Quando o carro ia saindo, Mariel enrijeceu. Acho que morreu ali", contou Chiquito, de acordo com a edição do GLOBO no dia seguinte.

Mariel Mariscot: O Passat LS com o para-brisa estilhaçado pelos tiros do assassino | Foto de João Roberto Ripper/Agência O GLOBO

A execução foi assunto dominante na primeira página do jornal. Mariscot era uma espécie de celebridade do crime. Integrante da linha dura da Polícia Civil, foi expoente do famigerado grupo de extermínio Scuderie Detetive Le Cocq, fundado em 1965. Em 1969, o governo de Negrão de Lima o escolheu como um dos "homens de ouro", divisão de "elite" formada por 12 policiais com fama de atiradores que deveriam eliminar a "bandidagem" do Estado da Guanabara (semelhanças com a ordem para "atirar na cabecinha", do ex-juiz que virou governador, não são mera coincidência). Boêmio e com jeito de galã de western italiano, Mariel era visto frequentemente com mulheres famosas. Mas achou que estivesse acima da lei. Em 1971, foi expulso da polícia após ser preso por crimes como falsificação de cheques, exploração de prostitutas, corrupção e assassinato.


- Mariscot amealhou fama graças ao velho clamor da sociedade por enfrentamento a bandidos. Os "homens de ouro" foram mais uma tentativa fajuta do governo para dar um basta no crime. O grupo atuava na lógica do extermínio, que vê o pobre de comunidade como vilão. Só serviu para aumentar a violência, matando inocentes - explica o repórter do GLOBO Chico Otávio, coautor de "Porões da contravenção" (Record), junto com Aloy Jupiara, sobre o elo de agentes da lei com bicheiros na ditadura. - Mariscot foi arregimentado pela corrupção e entrou para o crime. Sua história é como a de outros militares e policiais que viraram bandidos, como o Capitão Guimarães, o Paulo Malhães, o Ronnie Lessa e o Adriano da Nóbrega.


Mariel Mariscot escoltado por guardas durante um julgamento em 1978 | Foto de Luiz Pinto/Agência O GLOBO

Alto, forte e de pavio curto, Mariel Araújo Mariscot de Mattos saiu da Escola de Paraquedistas aos 18 anos com a ideia fixa de se tornar policial. Niteroiense de família humilde, trabalhou primeiramente como guarda-vidas em Copacabana. Pouco depois, entrou via concurso na Polícia Civil e se aproximou de agentes da linha dura, como Hélio Vigio e Nelson Duarte, que viriam a dar apoio para a repressão na ditadura. Mariscot gostava de contar que, no golpe militar de 1964, estava no Palácio Guanabara apoiando a "revolução". Sua fama de matador crescia impulsionada pela própria vontade de se divulgar como tal. Entrou para o grupo de extermínio Scuderie Le Cocq, fundado após a morte do detetive Milton Le Cocq, baleado pelo bandido Cara de Cavalo. Em 1969, veio o convite para ser um dos "homens de ouro".


Inicialmente criado para combater os "bandidos da bandeira 2", que assaltavam e matavam taxistas, os "homens de ouro" chegaram a prender banqueiros poderosos do jogo do bicho, como Tio Patinhas e Castor de Andrade. Mas se notabilizaram pela matança de centenas de suspeitos e desafetos. O extrato da população que muito os aplaudia é antepassado deste que, hoje, idolatra Capitão Nascimento e compartilha posts em redes sociais com a expressão "CPF cancelado". Em menos de dois anos de atuação, porém, os "homens de ouro" viram sua reputação escoar pelo ralo devido ao elo deles com o mundo do crime. Mariscot foi o primeiro a entrar nessa espiral.


Mariel Mariscot com Dom Eugênio Salles após missa em presídio, em 1977 | Foto de Otávio Magalhães/Agência O GLOBO

O policial chamava atenção demais. Morador de Copacabana, frequentava as boates locais armado com uma pistola. De tanto bancar o xerife do bairro, recebeu o apellido de "Ringo de Copacabana" (não o Ringo Starr, dos Beatles, mas o personagem de filmes de faroeste dos anos 60). Quando aparecia em colunas sociais, estava sempre ao lado de artistas e socialites. Além de ter sido casado com a atriz Elza de Castro, que atuou em filmes como "No paraíso das solteironas" (1969) e "Soninha toda pura" (1971), ele namorou a modelo Rose di Primo e a também atriz Darlene Glória, com quem teve um filho. O próprio Mariel foi retratado em alguns longas da época, como "Eu matei Lúcio Flávio" (1977), de Jece Valadão.


A imagem de herói virou do avesso em 1971. Ele foi preso acusado de se envolver com uma quadrilha que aplicava golpes em turistas, falsificando cheques de viagem. Também era suspeito de receber propina do ladrão de automóveis Lúcio Flávio, além de ter elo com tráfico de drogas e extorsão de prostitutas. Segundo investigações, Mariscot era membro do "Esquadrão da morte" e tinha pelo menos sete assassinatos nas costas. A resposta dele ao GLOBO, na época, mostra a noção distorcida que tinha do próprio trabalho: "Matei, sim. Mas nunca fugi do local nem me omiti. Não matei desafetos policiais e, sim, inlmigos da sociedade. Acho que agi corretamente, porque essa sociedade me deu um revólver e uma carteirinha para que eu a defendesse".

Mariscot foi condenado a mais de 20 anos de cadeia. Só que, dias depois de chegar à prisão de Benfica, ele fugiu e ficou "sumido" durante 16 meses. Esteve com namoradas, encontrou-se com a mãe, jantou no restaurante Fiorentina, no Leme, e até visitou a seleção brasileira no Retiro dos Jesuítas, na Gávea, sem ser incomodado pelos agentes federais que faziam a segurança do elenco. Foi recapturado após brincar tranquilamente o carnaval de Salvador, em 1973, quando estava perto de dar uma entrevista ao vivo no famoso programa de TV de Flávio Cavalcanti. Transferido para o Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande, continuou com vida mansa. Ele morava numa casa para presos-colonos. Passava o dia jogando bola na praia e fazia animadas peixadas para os amigos. "Tenho as costas largas", dizia.

Mesmo assim, Mariscot voltou a fugir e foi recapturado mais uma vez, em 1976, antes de ser beneficiado com a prisão-albergue, em 1979. Ele podia, então, trabalhar ou estudar de dia, mas tinha que dormir no xadrez. O ex-policial passou a atuar como assessor do juiz Francisco Horta, da Vara de Execuções Penais do Rio. Mas ninguém jamais o vira no Instituto Penal Romeiro Neto, onde ele deveria passar a noite, em Niterói.


Policiais chegam no IML carregando o corpo de Mariel Mariscot | Foto de João Roberto Ripper/Agência O GLOBO

Naquela época, Mariscot estava articulando para se tornar banqueiro do jogo do bicho. Queria "subir na vida" seguindo os passos do amigo Capitão Guimarães. Ex-militar que se tornou contraventor em meados dos anos 70, dominando posições do bicho num território de Niterói ao Espírito Santo, Guimarães foi presidente da Liga das Escolas de Samba de 1987 a 1993 e de 2001 a 2007. Segundo investigações, para ganhar seu próprio espaço, Mariscot havia matado um bicheiro do segundo escalão conhecido como China da Saúde e estava tentando "herdar" suas posições, também em Niterói. Mas a cúpula da contravenção concordou que não era a hora do ex-policial, decisão que o "homem de ouro" não aceitou. Ele continuou pressionando e estava em meio a essas negociações quando foi morto.


Mariscot se encantou com o sucesso do amigo Capitão Guimarães e quis o mesmo para ele. Naquela época, a ligação entre policiais, militares e bicheiros estava consolidada. O assassinato coincidiu com a ascensão do jogo do bicho, que começou a ganhar a forma atual de organização criminosa - explica Chico Otávio. - A participação dos policiais e militares foi fundamental para a contravenção. Eles deram a cobertura e a demonstração de força que os bicheiros precisavam. Vem desse período a instituição de um caixa regular para corrupção. Alguns cálculos estimam que 40% dos lucros do bicho são destinados a propina para policiais em geral.


Caixão com o corpo de Mariel é erguido sobre multidão no cemitério do Caju, em 1981 | Foto de Manoel Soares/Agência O GLOBO

A reação ao assassinato mostrou que Mariscot ainda desfrutava de status. Dezenas de policiais foram ao Hospital Souza Aguiar e invadiram o necrotério duas vezes, apesar de um funcionário que tentou impedi-los. Pegaram o corpo e colocaram numa caravan branca com o adesvio de uma caveira atravessada por uma espada. Saíram em direção ao IML sem a guia de liberação do cadáver do hospital. No dia do enterro, havia centenas de policiais no Cemitério do Caju. Eles anunciaram a criação da Scuderie Mariel Mariscot, exibindo um emblema com a sigla "EM", que muitos identificaram como "Esquadrão da Morte". Em meio a modelos, juízes, bicheiros e jogadores de futebol, os agentes deram uma saraivada de tiros para o alto, antes de o caixão baixar para a sepultura ao som da oração do "Pai Nosso".


O que mais se ouvia de agentes de segurança no enterro eram juras de vingança. Diversos contraventores e até mesmo policiais foram listados como suspeitos. Houve uma queda brutal nas apostas do jogo do bicho, em meio a uma série de operações que, ao longo de alguns dias, prenderam mais de 50 pessoas envolvidas com a contravenção. Bicheiros como Raul Capitão e Jorge Elefante, este último um dos principais rivais de Mariscot, foram detidos. Mas o crime nunca foi solucionado. Até o amigo Capitão Guimarães foi considerado suspeito de ser o mandante. Entretanto, em entrevista ao GLOBO, duas semanas após o assassinato, ele garantiu que não tinha nada a ver com o crime e disse que foi a própria ambição de Mariel que o matou.

"A contravenção nada tem a ver com a morte de Mariel, e a polícia vai provar isso, com a nossa ajuda. Quem o matou foi a ambição dele. Era um megalomaníaco. Eu era amigo, irmão, companheiro das horas difíceis, várias vezes dei guarida a ele... E agora sou acusado de mandar matá-lo. Parece brincadeira".

O Capitão Guimarães no carnaval de 1988, quando era presidente da LiesaO Capitão Guimarães no carnaval de 1988, quando era presidente da Liesa | Foto de Ricardo Belliel/Agência O GLOBO
Esses caras que formavam o famoso "esquadrão da morte", matavam todos os dias, pessoas que retiravam das prisões do Rio de Janeiro, muitos que tinham sido presos por infrações leves. Eles recebiam por cada corpo que deixavam nas encruzilhadas com o cartaz com os dizeres "ESQUADRÃO DA MORTE".

A polícia nessa época prendia facilmente. Eles podiam passar pela frente da sua casa e ver um casal namorando e resolver prender o rapaz. Pediam documentos. Se não tivesse uma carteira de trabalho ativa, poderiam prende-lo, leva-lo para a delegacia. Esse ficava em uma prisão na delegacia e poderia dali ser levado para a morte. A família nunca iria saber o que realmente aconteceu.

Como o esquadrão da morte recebia por corpo, pouco importava se era bandido, pego por engano, morador de rua, mendigo, travesti ou o que quer que fosse, então assim eles recebiam encomendas para eliminar desafetos ou inimigos menos importantes.

O Jogo do Bicho campeava, os chefões do Jogo apareciam ao lado até dos futuros Presidentes da República.

Uma matéria publicada na época retrata como eles matavam. Gostavam de matar por enforcamento utilizando um fio de aço que passavam pelo pescoço e apertavam até a morte. Segundo relato deles a vítima tinha o costume de defecar nas calças nos estertores da morte.

Castor de Andrade considerado a época o Chefão do Jogo do bicho no Rio de Janeiro ao lado de Moreira Franco que foi Governador do Estado do Rio de Janeiro.


Essas histórias a respeito do Jogo do bicho e o poder que atingiram, quando seus chefões passaram a ser personalidades famosas com poder de matar, e sua associação com políticos, policiais e criminosos matadores, é apenas uma pequena face do que a ditadura militar promoveu. Na verdade a corrupção e o crime tomaram forte impulso com a ditadura militar. A instituição do "jeitinho" tornou-se lugar comum seja com o guarda de transito, seja nas repartições públicas.

Muitos morreram e foram torturados, e sobre esses ninguém fala mais. Pessoas foram jogadas dos helicópteros em alto mar, e muitas assassinadas.

Noventa e seis dias. Esse foi o tempo que durou o "calvário" de Inês Etienne Romeu (1942-2015) na "Casa da Morte", em Petrópolis, na região serrana do Rio.


O termo é empregado pela historiadora Isabel Cristina Leite, doutora em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para descrever o período em que a militante política esteve presa no aparelho clandestino montado pelo Centro de Informações do Exército (CIE) para torturar e matar guerrilheiros com papel de destaque em suas respectivas organizações — no caso dela, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), um dos grupos que lutaram contra a ditadura militar.


De oito de maio a 11 de agosto de 1971, Inês sofreu tortura, estupro e humilhação de agentes do governo. Dos ativistas levados para a "Casa da Morte", foi a única que conseguiu sobreviver para contar a história. Pelo menos 22 adversários do regime, segundo estimativas oficiais, não resistiram às torturas ou foram executados. O advogado goiano Paulo de Tarso Celestino da Silva, capturado em 12 de julho de 1971, foi um deles.

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), Inês contou que Paulo de Tarso foi colocado no pau de arara e, durante quase 30 horas ininterruptas, torturado com choques elétricos. "Obrigaram-no a ingerir uma grande quantidade de sal", diz um trecho do depoimento de Inês. "Durante muitas horas, eu o ouvi suplicando por um pouco d'água". Até hoje, o corpo de Paulo de Tarso não foi localizado.

Então, ditadura nunca mais.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

COMBATE A TOXOPLASMOSE, QUE PODE INDUZIR A DIABETES TIPO II




A toxoplasmose, uma síndrome infecciosa e inflamatória, é uma das doenças transmitidas por alimentos mais importantes, causando hospitalização e morte nos EUA. 

O toxoplasma infecta células nucleadas, incluindo as pancreáticas, e destrói as células β. O toxoplasma é uma infecção classificada como Categoria B pelo CDC e pelo NIH, que, uma vez infectado, os organismos residem nos tecidos na forma de cistos para a reativação ao longo da vida do hospedeiro. 

A toxoplasmose congênita ocorre por transmissão transplacentária durante a infecção materna ou reativação de organismos e se manifesta com aborto espontâneo ou graves defeitos físicos e mentais. 

Atualmente, não há modalidade terapêutica segura e eficaz contra a toxoplasmose congênita ou a infecção crônica persistente. Aqui, a toxoplasmose e o possível envolvimento da infecção na indução de pancreatite, e a eficácia de um medicamento experimental são discutidos.

O Toxoplasma gondii (toxon = arco, plasma = forma, grego) é um protozoário do reino chromalvelata na classificação dos 8 reinos, microscópico do filo Apicomplexa, de ciclo de vida facultativamente heterogéneo, tendo os felídeos como hospedeiros definitivos, enquanto que as outras espécies de mamíferos e as aves funcionam como hospedeiros intermediários.[1] O Toxoplasma gondii é a única espécie conhecida do gênero Toxoplasma.




T. gondii é o agente causador da toxoplasmose, uma protozoonose de distribuição mundial. Estima-se que 1/3 da população global já tenha sido infectada por esse microorganismo, com algumas regiões chegando a 90% de infectados. 

Ela causa mudanças comportamentais nos seus hospedeiros, para que eles sejam predados por felinos, que são os hospedeiros definitivos do T. gondii. Umas das principais mudanças é a perda da aversão natural ao cheiro de urina de felinos, por exemplo, pelos ratos e chimpanzés, que tem felinos como principais predadores naturais. 

Isso também ocorre com seres humanos, que perdem a aversão a urina de gato, por exemplo.[2] As principais espécies que são infectadas pelo T. gondii são as aves e os mamíferos, inclui o Homem e o gato, o principal felino hospedeiro da espécie,[3] no entanto, ele é capaz de infectar qualquer animal homeotérmico. Possui três formas infetantes: oocistosbradizoítos e taquizoítos[3]


Hospedeiros intermediários podem se infectar por diversas vias, sendo as mais comuns a fecal-oral, a partir da ingestão de oocistos presentes em alimentos e água contaminada; o carnivorísmo, pela ingestão de cistos teciduais presentes em carne crua ou mal cozida; e a transmissão materno-fetal, onde taquizoítas atravessam a placenta e infectam o feto. No caso dos oocistos e dos cistos teciduais, uma vez que alcançam o intestino, a parede presente nessas estruturas é digerida por enzimas, permitindo que o T. gondii possa invadir as células do epitélio intestinal e linfócitos intra-epiteliais. 


Uma vez que o parasita obtém sucesso na invasão da célula hospedeira, ele estabelece seu vacúolo parasitóforo, para que então possa promover sua conversão para o estágio de taquizoíta. 


Estes protozoários tem cerca de 6 μm[10] de comprimento por 2 μm. Após a conversão, replicação e evasão das células, o T. gondii utiliza o sistema vascular do hospedeiro para se disseminar de forma sistêmica, alcançando diversos órgãos. Passados alguns dias da infecção, inicia-se uma resposta imune contra o parasito, que faz com que ele se estabeleça em alguns locais de tropismo: o tecido muscular esquelético, muscular cardíaco e neuronal. Estabelecido nesses locais, inicia-se a produção da parede cística, para que então ocorra a conversão para seu estágio de bradizoíta, conhecido como seu estado de latência.

Já nos hospedeiros definitivos, além da forma assexuada, o T. gondii também pode assumir a forma sexuada. Esta fase ocorre no intestino dos felinos. Os felinos se contaminam através da ingestão de animais contaminados por taquizoítas ou bradizoítas. Menos de 50% dos felinos que ingerem taquizoitos eliminam oocistos, e 100% quando ingerem bradizoitos eliminam oocistos nas fezes. Na fase assexuada, o parasita passa por um processo chamado esquizogonia, onde o núcleo do parasita se divide várias vezes formando o esquizonte. Este passa por um outro processo chamado gametogonia, onde esses esquizontes se dividirão em microgametas ou macrogamentas. A fecundação dos macrogamentas pelos microgametas dá origem a zigotos, que irão formar os oocistos.



Manifestações clínicas

Na maior parte dos casos de toxoplasmose em pacientes imunocompetentes, a infecção ocorre de forma assintomática. No entanto, em mulheres grávidas e indivíduos imunocomprometidos, o risco de manifestações severas é elevado.

Mulheres grávidas que entram em contato com o parasita pela primeira durante a gravidez correm sério risco de transmissão vertical. Em casos como esse, podem ocorrer para no bebê quadros de miosite, encefalite, miocardite e retinocoroidite. Além disso, dependendo do estágio da gravidez, há o risco de má formação do feto e, até mesmo, aborto.

Em indivíduos imunocomprometidos, como portadores do HIV e utilizadores de terapias imunossupressoras, pode ocorrer uma reativação da fase crônica da doença, resultando em diversas complicações. Podem ocorrer quadros de encefalite, hemiparesia, convulsões e danos oculares, levando a cegueira parcial ou total.

Alguns estudos postulam que, apesar de assintomáticos, indivíduos com toxoplasmose em sua fase crônica podem sofrer com processos neuro-inflamatórios, em decorrência da presença de cistos teciduais no sistema nervoso.

Tratamentos

Atualmente, opções terapêuticas para toxoplasmose são escassas, sendo a combinação de Sulfadiazina e Pirimetamina, além da suplementação de Ácido Folínico, a estratégia mais utilizada. 

Em alguns casos bem específicos, onde mulheres grávidas contraem a doença, porém o feto não foi infectado, utiliza-se o antibiótico Espirimicina, a fim de evitar a transmissão via placenta.

Referências

  1.  Ryan KJ, Ray CG (eds) (2004). Sherris Medical Microbiology (em inglês) 4° ed. [S.l.]: McGraw Hill. ISBN 0-8385-8529-9
  2.  «Parasitas manipulam a mente de chimpanzés para que eles virem comida de leopardo». Superinteressante. 10 de fevereiro de 2016
  3.  «Toxoplasma gondii». Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  4.  «Toxoplasma gondii: 1908-2008, homage to Nicolle, Manceaux and Splendore. - PubMed - NCBI». Consultado em 1 de fevereiro de 2016
  5.  «Biology and epidemiology of Toxoplasma gondii in man and animals. - PubMed - NCBI». Consultado em 1 de fevereiro de 2016
  6.  «Brazilian contribution for a better knowledge on the biology of Toxoplasma gondii - Scielo.br». Consultado em 1 de fevereiro de 2016
  7.  «Toxoplasmose - etallcorp.xpg.uol.com.br». Consultado em 1 de fevereiro de 2016

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Os medicamentos para o tratamento da doença são financiados pelo Ministério da Saúde e estão disponíveis nas unidades básicas de saúde de referência. São eles:

  • Ácido folínico comprimido 500mg
  • Espiramicina comprimido 500 mg (1.500.000 ui)
  • Pirimetamina comprimido 25mg
  • Sulfadiazina comprimido 500mg

Para a retirada dos medicamentos, o paciente deve comparecer a uma das unidades de referências (Clique aqui), portando os seguintes documentos: 

1. Receita original (ou eletrônica) e cópia contendo:

  • Nome do local de atendimento;
  • Nome completo do paciente;
  • Nome do medicamento, pela Denominação Comum Brasileira (nome genérico do medicamento);
  • Descrição de concentração, forma farmacêutica, posologia e quantidade do medicamento (em algarismos arábicos) suficiente para o tratamento prescrito;
  • Duração do tratamento;
  • Data da prescrição;
  • Assinatura do prescritor e carimbo com o número de inscrição no Conselho Regional de Classe.

2. Documento de identidade do usuário com foto, original ou cópia. Para menores de idade será permitido apresentação de Certidão de Nascimento

3. Cartão Nacional de Saúde ou Identificação SES/DF do usuário;

4. Nº do SINAN ou ficha de notificação devidamente preenchida (clique aqui).

5. ATENÇÃO!!! A gestante deverá apresentar também a caderneta da gestante para informações quanto a semana gestacional.


Protocolo de notificação e investigação: Toxoplasmose gestacional e congênita

TRATAMENTO NATURAL:
CURCUMA INDIANA + COENZIMA Q10 + PICOLINATO DE CROMO