Data:
17/08/2016
Fonte:
Brasil 247 Autor: Renato Rebelo
Costumo falar para os apoiadores do golpe, muitos deles jovens que não conheceram os anos FHC. Sabe como era naquele tempo? RECESSÃO ECONÔMICA, DESEMPREGO, DESESPERANÇA, AUMENTO DA VIOLÊNCIA, INFLAÇÃO, O DÓLAR A R$4,00 E SUBINDO. ECONOMIA EM CAOS, BRASIL DE 5º MUNDO, VENDA DAS EMPRESAS ESTATAIS, BRASIL UM PAÍS QUE LEVAVA AS MALAS DOS GRINGOS.
Como foi o BRASIL dos anos LULA? O BRASIL dos Brics, Uma potência emergente, alvo dos investidores internacionais, ECONOMIA EM ASCENSÃO, BRASIL INDUSTRIALIZADO, batendo sucessivos recordes na balança de pagamentos, gerando reservas que chegam hoje a quase 400 bilhões de dólares. O BRASIL que deixou de ser devedor e passou a ser credor saindo do FMI, o Brasil que deu ao mundo lições de como superar desigualdades sociais, elogiado em todo o planeta.
A RENDA DO TRABALHADOR DOBROU NA ERA LULA E OS EMPRESÁRIOS TAMBÉM GANHARAM.
Essa mesma juventude que hoje protestou contra o governo Lula por causa de uma propaganda da mídia golpista é a mesma juventude que irá querer a sua volta quando perceber a fraude, o engano de que foram vítimas e sofrer na carne as consequências danosas desse novo regime econômico.
A pretendida consumação da farsa do
impeachment, ainda este mês, que conduz à concretização de um golpe de
Estado, é uma viragem para consolidação e desenvolvimento da velha ordem
política, com suas consequências econômicas, sociais e culturais, razão
de ser do golpe dito legal.
Ao processo de ruptura constitucional
contido no curso de um impeachment fraudado no Brasil não interessa
provar inocência ou culpa da presidenta Dilma Rousseff. Semelhante ao
ocorrido no Paraguai e Honduras, o único objetivo perseguido aqui é
destituir o presidente da República pelo novo modelo de intervenção
golpista, seguido na atualidade pelas oligarquias de direita.
Assim sucede na sétima potência
econômica do mundo, o Brasil, onde a classe dominante pretende consumar
no final deste mês de agosto a grande operação derruba-presidenta. A
pantomima do impeachment em marcha segue o rito através de um golpe
parlamentar com benção judicial, onde não se prova devidamente o crime
de responsabilidade da presidenta.
Em nosso país cresce amplamente a
consciência de rejeição ao presidente interino, demonstrada nas últimas
pesquisas de opinião pública. E entre as camadas mais esclarecidas de
dentro e de fora do país (quase unanimidade) torna-se presente a
conclusão de que culmina na história política brasileira mais um golpe
de Estado, hoje, sem tropas e blindados e sem as urnas – a léguas do
voto popular.
No entanto, este foi o atalho
encontrado, que resultou de tentativas conspirativas e depois
escrachadas de um consórcio político das forças conservadoras
dominantes, após a quarta derrota eleitoral sucessiva infligida pelas
forças progressistas, democráticas e de esquerda. Essas forças
dominantes formaram uma coalizão parlamentar, empresarial, judicial e
com ampla ação midiática, que sem pejo se aproveitaram e contaram
impávidos com o difamado presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha, e do vice-presidente da República, Michel Temer, os quais
completaram uma simbiose canalha entre a trapaça e a traição, com base
promíscua em seus grupos na Câmara e no Senado. Pasmem! Usaram uma
fachada de vestais na luta contra a corrupção. Uma trama urdida que
deflagrou e conduziu o processo de impeachment arranjado e simplesmente
se aboletaram no centro do poder de Estado.
Aonde se chegou a terra amada Brasil? É
inédita essa situação no país, em que a oligarquia de direita, no afã de
capturar o poder, se utilizar de gente tão escrachada que
(des)qualifica o governo interino desde sua origem: governo que vive
sobressaltado pelo homem bomba, que se resolve abrir a boca afunda o
governo e enterra a Câmara. É por isso que o governo provisório vive seu
impasse original, não pode abandonar a figura detonadora do
impeachment, alma gêmea do presidente interino, financiador de meio
regimento de deputados. O efeito bumerangue resultante será arrasador.
Isto é realmente o que é recôndito do processo de impeachment, assumido
pela denominada elite dominante conservadora brasileira.
Daí a situação na qual o governo
usurpador, o presidente da Câmara recém eleito e a base de apoio nessa
casa se juntam, reféns da ameaça, para adiar para sempre,
descaradamente, o julgamento de Eduardo Cunha na Câmara, com o
beneplácito dos incentivadores do golpe e seus beneficiados. O crime é
inevitavelmente escancarado.
É preciso distinguir nas aparências o
fundo da questão. Os golpes de Estado, como o atual em curso no Brasil,
são preparados e conduzidos por poderes de Estado, e por suas
corporações públicas, que ampliam crescentemente sua autonomia funcional
e administrativa chegando até o centro do poder. A desestabilização do
poder Executivo levou ao crescimento de autoridades e maior disputa
entre poderes.
E extrapolação de função das corporações públicas
atropelando, até mesmo, o modelo clássico de liberalismo. O poder que
ocupou a ponta do iceberg no processo de impeachment foi a Câmara e o
Senado, que resulta num golpe parlamentar. Por conseguinte, o Orçamento
Federal deste ano e do próximo será devidamente utilizado para pagar a
conta do impeachment – lançaram mão de um déficit primário de mais de
170 bilhões de Reais em 2016. Imaginem se isso acontecesse no governo
Dilma!
Mais significativo ainda é que desde os
primórdios da crise política o embate não era apenas entre a presidenta
-- que "não sabia fazer política" e políticos "profissionais" -- mas o
que estava em jogo era e é um projeto de poder da classe dominante
capitalista, financeira globalizada, as forças conservadoras
brasileiras, que se utilizaram avidamente de um atalho, por meio da via
golpista, para a volta à ORDEM POLÍTICA fundada na sua concepção de
Estado, antidemocrática e autoritária, desmontando um pacto de progresso
social, e de consolidação da ordem econômica de desregulamentação
financeira, liberação do fluxo de capital, tudo pela estabilidade da
moeda, através de políticas de austeridade, com cortes de despesas
primárias essenciais – o capitalismo contemporâneo, dito neoliberal.
Segue então a linha dos países
capitalistas centrais, nos quais a grande crise capitalista é respondida
com o resgate antes de tudo do grande capital, principalmente o
financeiro, desemprego aberto, concentração e centralização da riqueza,
aprofundando o fosso da desigualdade.
Por isso, é que a crise mundial,
sistêmica, não encontrou ainda uma solução de superação. No caso do
Brasil, vejam o tamanho do resgate financeiro: Congelamento das despesas
federais, desde o nível mais baixo, por 20 anos. Eles é que vão se
apropriar de enorme parcela do Orçamento federal, que aproximadamente
equivale a uma queda de 50% per capta das despesas federais, num
desmonte sem paralelo das sofridas conquistas sociais, atingindo de
cheio o destino do SUS e do sistema de educação público. E mais, na
vigência desse governo usurpador, porquanto ele se volta para a
manutenção da base macroeconômica, que vem, sobretudo, desde o plano
Real, presa ao círculo vicioso e perverso de juros altos e câmbio
apreciado – desastre que levou à desindustrialização do país e a enormes
déficits nas contas externas e deu adeus ao desenvolvimento nacional.
Por isso que a presidenta Dilma foi
acerbamente desqualificada quando tentou sair desse círculo vicioso e
conduzir, o que eles cunharam como sendo uma nova matriz macroeconômica,
considerando isto a causa do descaminho econômico. E mais, agora sua
enaltecida equipe econômica segue o mesmo padrão moldado pela ortodoxia
ultraliberal brasileira de manter e justificar sempre os juros altos,
diante de um curso de dois anos de uma queda de 8% da economia, ou seja,
em plena recessão.
Em suma o golpe é a saída para
fundamentalmente instituir essa velha ordem política, que pela via
eleitoral seria inviável. As forças conservadoras pró-submissão às
potências imperialistas, para imporem sua ordem republicana,
ostensivamente e rapidamente já iniciaram e indicaram nesses dois meses,
que seu desiderato e sua avidez são essencialmente voltados para
desmontar o pacto de conquistas democráticas, sociais e de igualdade de
direitos lavrados na Constituinte de 1988. É um retrocesso do avanço
civilizacional em mais de três décadas.
À volta a ordem política conservadora e
de realinhamento as grandes potências, imperialistas, como versa seu
conceito estatal, parte da hipertrofia de corporações e ações de
inteligência, que amolda até o próprio Ministério Público Federal e a
Policia Federal, distinguindo sua doutrina de "inimigo interno" ou a
"teoria dos fatos", que neste momento histórico no Brasil, situa-se na
existência engendrada de uma "organização criminosa" conduzida pelo PT e
por Lula e seus aliados, com os cunhados "núcleos políticos e
operacionais". A criminalização é seletiva e a repressão se intensifica
tendo como norte esse inimigo interno. A utilização desregrada da Lei
antiterror já começa ser aplicada visando criminalizar a ação dos
movimentos sociais.
A pretendida consumação da farsa do
impeachment ainda este mês, que conduz à concretização do golpe de
Estado, é uma viragem para consolidação e desenvolvimento dessa velha
ordem política, com suas consequências econômica, social e cultural,
razão de ser do golpe dito legal. E recorrentemente, quando as forças
conservadoras voltam ao poder central, vêm para ficar.
Enfim, nosso país está essencialmente
diante de uma disjuntiva que coloca em jogo o destino da Nação e do povo
brasileiro – avançar ou retroceder em nossa trajetória civilizacional.
Por isso a premissa para restaurar a democracia, o Estado Democrático de
Direito é a volta da presidenta da República, Dilma Rousseff,
legalmente eleita com mais de 54 milhões de votos. Os senadores serão
colocados diante dessa encruzilhada – condenar o absolver uma presidenta
sem crime de responsabilidade.
A luta popular contra o golpe não
recrudesceu. Ao contrário, a consciência e a luta contra o governo
intruso e pela democracia se estendem. Os trabalhadores começam a se
mobilizar mais amplamente diante de reformas estruturais reversas,
antidemocráticas: as reformas da providência e trabalhista. Ganha força a
alternativa política apresentada pela presidenta Dilma, que após sua
volta proporá e se empenhará pela convocação de um plebiscito, onde o
povo é convocado para se pronunciar sobre a antecipação ou não da
eleição direta presidencial. Esse é o anseio de ampla maioria do povo,
no atual estágio da crise. Em contraste, os mais diversos setores e
porta-vozes das forças conservadoras, fogem das urnas como o diabo da
cruz, e se insurgem contra essa alternativa de renovação da democracia.
Em síntese, hoje, é o eco mais uníssono: Fora Temer!
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