Objetivo é destacar um líder político que tenha usado o mandato para melhorar a situação do mundo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberá o prêmio de Estadista Global do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), no dia 29. Esta é a primeira edição da homenagem, criada para marcar o aniversário de 40 anos do Fórum.
Conforme a organização do evento, o prêmio tem o objetivo de destacar um líder político que tenha usado o mandato para melhorar a situação do mundo. "O presidente do Brasil tem demonstrado verdadeiro compromisso com todas as áreas da sociedade", disse o fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, em nota à Agência Estado.
Segundo ele, esse compromisso tem seguido de mãos dadas com o objetivo de integrar crescimento econômico e justiça social. "O presidente Lula é um exemplo a ser seguido para a liderança global."
A entrega do prêmio será feita pelo ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e está prevista para às 11h30 (horário local; 8h30 de Brasília) do dia 29, quando o presidente brasileiro fará um discurso. Em seguida, terá início um painel de discussão sobre o Brasil. O objetivo é debater os atuais condutores do crescimento do País e os desafios à frente.
Entre os participantes do painel estarão o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o copresidente do conselho de administração da Brasil Foods, Luiz Fernando Furlan, o presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young e o vice-presidente do argentino Banco Hipotecario, Mario Blejer. Lula também fará o encerramento do painel sobre o Brasil.
COM HENRIQUE MEIRELLES |
GEORGE SOROS |
De uma pequena reunião entre empresários europeus para discutir o processo de globalização no início dos anos 70, o Fórum Econômico Mundial tornou-se o principal encontro de líderes políticos e econômicos do planeta, como David Cameron, Bill Clinton e Vladimir Putin, entre os primeiros, e Bill Gates e George Soros. Realizado em Davos, na Suíça, foi cenário de acordos de paz, projeções sobre a economia global e plataforma para intelectuais, como Umberto Eco, e artistas, como Bono Vox e Angelina Jolie, debaterem temas que afetam a sociedade. Entre as celebridades brasileiras, Pelé e o escritor Paulo Coelho também marcaram presença.
Quase 30 anos mais tarde, após a Batalha de Seattle, nos Estados Unidos, foi criado o Fórum Social Mundial, que teve estreia tímida na Itália e ganhou dimensão internacional ao ser realizado em 2001, em Porte Alegre, para se opor à globalização e dar prioridade ao desenvolvimento social e ao meio ambiente. A partir de 2002, essas reuniões, que acontecem paralelamente, motivaram o GLOBO a produzir todos os anos cadernos especiais com a cobertura dos eventos.
Klaus Schwab |
Idealizado pelo professor de economia Klaus Schwab, a proposta do primeiro encontro, chamado de Fórum de Gerenciamento Europeu e realizado em janeiro de 1971, era que empresários europeus discutissem os efeitos da globalização e os mecanismos para que as empresas do continente desenvolvessem técnicas de mercado, como as feitas nos Estados Unidos. O economista alemão percebeu que o grupo poderia expandir suas áreas de atuação após a ocorrência de fatos geopolíticos marcantes, como o colapso de Bretton Woods (regras definidas em 1944 para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados) e a guerra árabe-israelense.
DAVOS |
Só em 1974, o encontro recebeu líderes políticos pela primeira vez, ganhando abordagem sobre questões econômicas e sociais. Em 1987, o fórum recebeu o nome atual, por ampliar sua visão sobre o mundo e incluir uma plataforma para o diálogo. Como resultado dessa nova identidade da convenção, Turquia e Grécia assinaram a Declaração de Davos, em 1988, o que evitou um iminente conflito armado. No ano seguinte, as Coreias do Norte e do Sul realizaram suas primeiras reuniões ministeriais sob a supervisão do fórum. Nessa mesma reunião, o chanceler da Alemanha Ocidental, Helmut Kohl, e o primeiro-ministro da Alemanha Oriental, Hans Madrow, conversaram sobre a reunificação alemã.
A primeira visita oficial de um chefe de governo brasileiro ao Fórum de Davos ocorreu em 1998. O então presidente Fernando Henrique aproveitou a visita à Suíça para tentar ampliar o comércio entre os dois países, além de, durante o encontro econômico, atrair investidores para o Brasil, conforme o GLOBO publicou em 27 de janeiro. Em 2003, logo após a posse na Presidência, foi a vez de Luiz Inácio Lula da Silva participar do fórum, onde abordou temas como o combate à miséria e a distribuição de renda. Lula voltaria ainda em 2005 e 2007. Por sua atuação na defesa de temas sociais, em 2010 ele foi agraciado com o prêmio de Estadista Global do Fórum Econômico Mundial. Em sua única participação no Fórum de Davos, em 2014, a então presidente Dilma Rousseff defendeu o controle da inflação, a meta do superávit primário e maior investimento privado nacional e estrangeiro no Brasil. Em seu discurso, ela afirmou que a inflação e as contas do governo permaneciam sob controle, que a estabilidade da moeda era um valor central do país e que a responsabilidade fiscal era fundamental para o desenvolvimento.
O Fórum Social Mundial surgiu em decorrência das violentas manifestações contra o encontro da Organização Mundial do Comérico em Seattle, nos Estados Unidos, em 1999. Os ativistas italianos buscavam propostas em oposição às teses da elite econômica e à globalização, ao realizarem a reunião em Padova, em abril de 2000. Em janeiro de 2001, o encontro expandiu-se e foi realizado, simultaneamente ao encontro de Davos, em Porto Alegre, contando com a participação de delegações de 122 países. Os maiores desafios do recém-formado grupo eram a elaboração de plataformas de combate às práticas neoliberais e políticas alternativas de inclusão social e econômica. O projeto teve apoio de políticos, como os então senadores Eduardo Suplicy e Marina Silva, e de intelectuais, como o geógrafo Milton Santos e o escritor uruguaio Eduardo Galeano. Entretanto, o evento recebeu comentários negativos de Fernando Henrique, que criticou o governo petista do Rio Grande do Sul por ter gasto R$ 970 mil na realização. O ex-governador gaúcho Leonel Brizola (PDT), por sua vez, disse que a reunião pretendia fortalecer o Partido dos Trabalhadores e promover a democracia cristã europeia.
Excepcionalmente, em 2002 as reuniões do Fórum Econômico aconteceram em Nova York, em solidariedade à cidade, abalada pelos atentados de 11 de setembro. Os palestrantes se dividiram entre os que decretavam o fim da liderança dos Estados Unidos sobre os demais países e os que comemoravam os indícios de recuperação americana como alavanca para o crescimento mundial. O fórum também exibiu os primeiros sinais de que os movimentos antiglobalização começavam a influenciar o pensamento da elite econômica global. Uma pesquisa realizada na época mostrou que a maioria dos empresários acreditava que a responsabilidade social era essencial para a lucratividade das companhias. Em Porto Alegre, uma marcha pela paz deu início ao encontro social, e o intelectual francês Dominique Moïse disse ao GLOBO que o desafio do Fórum Social Mundial era manter "um discurso responsável e racional, sem cair na deriva ideológica romântica", enquanto o do Fórum de Davos era "tentar pôr em prática o discurso social que os empresários ensaiavam".
Em 2004, pela primeira vez o Fórum Social Mundial não foi realizado em Porto Alegre, sendo transferido para Mumbai, na Índia. A decisão foi tomada pelo Conselho Internacional da organização como parte do processo de internacionalização e descentralização do evento, que voltou algumas vezes para Porto Alegre (2005, 2012, 2014). Em 2006, 2008 e 2010, o encontro foi descentralizado, sendo realizado simultaneamente em várias cidades. As cidades de Nairóbi, no Quênia, (2004 e 2007), Belém (2009), Túnis, na Tunísia, (2013 e 2015) e Montreal, no Canadá, (2016) também abrigaram o evento, que em 2017 voltou a Porto Alegre.
Primeiro presidente a participar do Fórum Social, Luiz Inácio Lula da Silva fez um contundente discurso na abertura das reuniões de Porto Alegre, em 2003, posicionando-se contra a guerra e pregando uma distribuição de riqueza mais justa. Criticou, ainda, o embargo americano contra Cuba e chamou atenção para a situação global, que poderia levar a uma guerra dos Estados Unidos contra o Iraque.
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