Empresas estão comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WHATSAPP e preparam uma grande operação na semana anterior ao segundo turno.
A prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por empresas o que é vedado pela legislação eleitoral e também não é declarada.
A Folha de São Paulo apurou que cada contrato chega a 12 milhões e, entre as empresas compradoras está a HAVAN. Os contratos são para disparo de centenas de milhões de mensagens.
Dono da Havan desafia lei eleitoral para promover Bolsonaro no Facebook
Dinheiro aplicado na página de Luciano Hang, dono da rede de lojas, faz sua mensagem superar a de todos os presidenciáveis na rede social.
O empresário Luciano Hang, proprietário da rede de lojas de departamento Havan, foi às redes sociais anunciar seu apoio ao candidato Jair Messias Bolsonaro (PSL). Foi na última quinta-feira e a página oficial do candidato foi marcada na legenda do vídeo, que ao longo do final de semana recebeu 1,2 milhão de visualizações.
As empresas apoiando o candidato Jair Bolsonaro (PSL) compram um serviço chamado "disparo em massa", usando a base de usuários do próprio candidato, ou bases vendidas por agências de estratégia digital. Isso também é ilegal, pois a legislação eleitoral proíbe compra de base de terceiros, só permitindo o uso das listas de apoiadores do próprio candidato. (Números cedidos de forma voluntária).
Quando usam as bases de terceiros, essas agências oferecem segmentação por região geográfica e, às vezes, por renda. Enviam ao cliente relatórios de entrega contendo data, hora e conteúdo disparado.
Entre as agências prestando esse tipo de serviço estão a Quickmobile, a Yacows, Croc Services e SMS Market.
Os preços variam de R$0,08 aR$0,12 por disparo de mensagens para a própria base do candidato, e de R$0,30 a R$0,40 quando a base é fornecida pela agência.
As bases de usuários muitas vezes são fornecidas ilegalmente por empresas de cobrança ou por funcionários de empresas telefônicas.
As empresas investigadas pela reportagem da Folha de São Paulo revelaram não poder aceitar mais serviços antes das eleições pois já tinham toda a sua capacidade esgotada por conta de contratos realizados com empresas privadas, para realização de disparos de WhatsApp.
Questionado se fez disparo em massa Luciano Hang dono da HAVAN, disse que "não sabe o que é isso". Não temos essa necessidade. Procurando o sócio da QUICKMOBILE, Peterson Rosa, afirma que a empresa não está atuando na política neste ano e que seu foco é apenas a mídia corporativa. Ele nega ter fechado contrato com empresas paradisparo de conteúdo político.
EMPRESAS BANCAM DISPARO DE MENSAGENS ANTI-PT NAS REDES.
- Folha de S. Paulo 18/10/2018
Patrícia Campos Mello
Richard Papa dimitri ou, da Yacows, afirmou que não iria se manifestar.
A SMS Market não respondeu aos pedidos de entrevista.
Na prestação de contas do candidato Jair Bolsonaro (PSL), consta apenas a empresa AM4 Brasil Inteligência Digital, como tendo recebido R$ 115 mil para mídias digitais.
Segundo Marcos Aurélio Carvalho, um dos donos da empresa, a AM4 tem apenas 20 pessoas trabalhando na campanha. "Quem faz a campanha são os milhares de apoiadores voluntários espalhados em todo o Brasil. Os grupos são criados e nutridos organicamente", diz.
Ele afirma que a AM4 mantém apenas grupos de WhatsApp para denúncias de "fake news", listas de transmissão e grupos estaduais chamados comitês de conteúdo.
No entanto, a Folha apurou com ex-funcionários e clientes que o serviço da AM4 não se restringe a isso.
Uma das ferramentas usadas pela campanha do Bolsonaro é a geração de números estrangeiros automaticamente por sites como o TextNow.
Funcionários e voluntários dispõem de dezenas de números assim, que usam para administrar grupos ou participar deles. Com códigos de área de outros países, esses administradores escapam dos filtros de spam e das limitações impostas pelo WhatsApp — o máximo de 256 participantes em cada grupo e o repasse automático de uma mesma mensagem para até 20 pessoas ou grupos.
Os mesmos administradores também usam algoritmos que segmentam os membros dos grupos entre apoiadores, detratores e neutros, e, desta maneira, conseguem customizar de forma mais eficiente o tipo de conteúdo que enviam.
Grande parte do conteúdo não é produzida pela campanha —vem de apoiadores.
Os administradores de grupos bolsonaristas também identificam "influenciadores": apoiadores muito ativos, os quais contatam para que criem mais grupos e façam mais ações a favor do candidato.
Não há indício de que a AM4 tenha fechado contratos para disparo em massa; Carvalho nega que sua empresa faça segmentação de usuários ou ajuste de conteúdo.
As estimativas de pessoas que trabalham no setor sobre o número de grupos de WhatsApp anti-PT são muito vagas — vão de 20 mil a 300 mil — pois é impossível calcular os grupos fechados.
Diogo Rais, professor de direito eleitoral da Universidade Mackenzie, diz que a compra de serviços de disparo de WhatsApp por empresas para favorecer um candidato configura doação não declarada de campanha, o que é vedado.
Ele não comenta casos específicos, mas lembra que dessa forma pode-se incorrer no crime de abuso de poder econômico e, se julgado que a ação influenciou a eleição, levar à cassação da chapa.
Colaboraram Joana Cunha e Wálter Nunes
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