Um novo estudo publicado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Guangzhou, na China, levantou novamente o debate sobre qual a distância que o novo coronavírus pode se espalhar no ar e qual o papel que ambientes fechados e mal ventilados têm na transmissão do vírus. O trabalhou analisou 10 casos do novo coronavírus que foram rastreados até um restaurante em Guangzhou, a mais de 900 quilômetros de distância do epicentro da doença, em Wuhan. Os pacientes começaram a apresentar os primeiros sintomas em janeiro de 2020.
Análise diz que espirro pode espalhar partículas contaminadas por até 8 m.
O estudo envolveu a análise das famílias A (de onde vem o paciente que originou a contaminação), B e C. O paciente que originou a infecção não apresentava sintomas e saiu de Wuhan com a família, onde se reuniu com eles para almoçar em um restaurante.
Ao seu lado, sentaram-se em mesas a cerca de um metro de distância familiares da família B e C. Naquele mesmo dia, o paciente A1 apresentou tosse e febre e procurou o hospital. Em 5 de fevereiro, um total de nove pessoas (quatro da família A, três da família B e dois da família C) foram diagnosticados com covid-19. A única ligação entre todos eles era o almoço realizado no mesmo restaurante.
Os cientistas revisitaram o cenário para analisar as possibilidades. Naquele dia, 91 pessoas — 83 clientes e oito funcionários — estiveram no local. Mas apenas os dez pacientes citados foram infectados. Análises nos aparelhos de ar condicionado também não resultaram em positivo para a presença do vírus.
Eles concluíram que o fluxo de ar do aparelho de ar condicionado, localizado próximo às três mesas, fez com que as gotículas (partículas maiores que saem enquanto falamos, por exemplo) fossem levadas para mais longe do que o esperado (espera-se que elas atinjam uma distância menor do que um metro) e chegassem até as mesas das famílias B e C.
Os pesquisadores também levantaram a possibilidade de que o "ventinho" do ar condicionado tivesse espalhado gotículas menores, chamadas aerossóis, conhecidas por serem mais leves e viajarem a distâncias maiores no ar. No entanto, os especialistas descartaram essa possibilidade, já que nenhum outro cliente ou funcionário ficou doente.
Além de concluírem que o fluxo do ar condicionado levou as partículas contaminadas para as outras mesas, os pesquisadores também perceberam que a falta de ventilação do espaço e a lotação (que era alta no dia) aumentaram ainda mais a propagação do vírus, e reforçaram que síndromes respiratórias costumam se propagar com facilidade em espaços mal ventilados e com aglomerações.
Um estudo realizado por cientistas da Universidade de Bolonha, na Itália, detectou o novo coronavírus em partículas de poluição do ar. Agora, eles investigam se isso pode permitir que ele seja transportado por longas distâncias e aumentar o número de pessoas infectadas. A pesquisa, divulgada com exclusividade para o jornal The Guardian, ainda não identificou se o vírus permanece funcional em partículas poluentes nem se tem quantidade suficiente para contaminar as pessoas.
Uma análise estatística feita pela equipe sugere que níveis mais altos de poluição poderiam explicar taxas mais altas de infecção ao norte da Itália antes da quarentena. O país sofre com quase 190 mil infectados e lidera o ranking de morte, com cerca de 25.500 óbitos.
Um novo estudo que examinou amostras de ar de alas de um hospital que recebeu pacientes com COVID-19 revelou que o vírus consegue viajar até quatro metros - o dobro da distância que as pessoas devem ter umas das outras em público, segundo as recomendações atuais.
Os resultados preliminares da pesquisa feita por cientistas chineses foram publicados nesta sexta-feira (10) no periódico Emerging Infectious Diseases, uma publicação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).
Eles se somam à discussão crescente sobre como a doença é transmitida, enquanto os cientistas que os escreveram alertam que as pequenas quantidades de vírus encontradas nesta distância não são necessariamente infecciosas.
Os cientistas, chefiados por uma equipe da Academia de Ciências Médicas Militares de Pequim, testaram amostras do ar e das superfícies de uma unidade de tratamento intensivo e uma ala regular para pacientes com COVID-19 no Hospital Huoshenshan, em Wuhan. Ambas abrigaram um total de 24 pacientes entre 19 de fevereiro e 2 de março.
Eles descobriram que o vírus esteve mais fortemente concentrado nos pisos das alas, "talvez porque a gravidade e o fluxo de ar levem a maioria das gotículas do vírus a flutuar até o chão".
Altos níveis também foram encontrados em superfícies tocadas com frequência, como mouses de computador, latas de lixo, maçanetas e grades de camas.
"Além disso, metade das amostras das solas dos sapatos da equipe médica da UTI testou positivo", escreveu a equipe. "Portanto, as solas dos sapatos da equipe médica devem funcionar como portadores".
Os pesquisadores também analisaram a chamada transmissão por aerossol - quando as gotículas do vírus são tão finas, que ficam em suspensão e são transportadas pelo ar por várias horas, ao contrário das gotículas que expelimos ao tossir ou espirrar, que caem no chão segundos depois.
Eles descobriram que os aerossóis contendo vírus ficaram sobretudo concentrados até quatro metros abaixo dos pacientes - embora tenham sido encontradas em menor quantidade mais acima, a até oito metros.
Nenhum membro da equipe de saúde do hospital se contagiou, "indicando que medidas preventivas adequadas podem prevenir de forma eficaz a infecção", escreveram os autores.
Os pesquisadores também fizeram um alerta que refuta as diretrizes ortodoxas. "Nossas descobertas sugerem que o isolamento doméstico de pessoas suspeitas de contágio por COVID-19 pode não ser uma boa estratégia de controle", devido aos níveis de contaminação ambiental.
A dispersão no ar do coronavírus é uma área polêmica para os cientistas que o estudam, porque não está claro quão infecciosa é a doença em quantidades ínfimas encontradas em borrifos ultrafinos.
Até o momento, a Organização Mundial da Saúde minimiza o risco.
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