Todo mundo mesmo. Um pesquisador que é literalmente expert na psicologia dos golpes caiu no maior esquema de fraude financeira da história.
Mas por que a gente cai com tanta facilidade?
Tempo de leitura: 4 minutos ___________________________________________________________
Por que somos tão facilmente enganados?
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"isso é uma coisa que acontece com os outros, não comigo"? É assim que as pessoas costumam pensar sobre golpes financeiros. Elas olham de fora e pensam "nossa, coitado, como não percebeu que estava caindo num golpe?".
Daí vem o balde de água fria. Essa mesma pessoa que achava óbvio o golpe de ontem acaba caindo no de amanhã. Porque a verdade é que todos nós somos potenciais vítimas de um golpe financeiro.
"OK, todo mundo cai, mas EU não cairia." É natural pensar que, se você conhece os sinais de um golpe, vai ser fácil identificar ele na vida real. Mas a história depõe contra.
Veja o caso do Dr. Greenspan. O pesquisador Stephen Greenspan, PhD em psicologia, escreveu em 2008 o livro Annals of Gullibility: Why We Get Duped and How to Avoid It – um ensaio sobre por que somos enganados e como evitar.
Dois dias depois de pegar seu livro em mãos, o Dr. Greenspan descobriu que havia sido vítima de um dos maiores esquemas de fraude financeira da história – ele havia dado seu dinheiro nas mãos do operador financeiro Bernie Madoff, que conduzia um Esquema de Ponzi.
Esquema de quê? Ponzi. Ele funciona basicamente assim: os clientes dão controle a uma pessoa ou empresa para administrar suas finanças, investir e devolver com lucros. Mas, na prática, o fraudador vai usando o dinheiro de novos clientes para pagar os antigos e, na lábia, convence as pessoas a continuarem a investir. Afinal, se muita gente quiser retirar o dinheiro de uma vez, o esquema quebra e é revelado.
Foi o que aconteceu com Madoff em 2008. Ele foi preso e condenado a 150 anos de cadeia, mas não sem antes fazer cerca de 37 mil vítimas – desde figuras de destaque (como celebridades de Hollywood) até pessoas comuns que haviam confiado suas economias de vida a ele.
Ou seja: se o Dr Greenspan (literalmente um especialista na psicologia dos golpes) caiu em um esquema fraudulento, todos nós também também estamos sujeitos.
As pessoas são ruins em perceber quando estão sendo enganadas. O próprio Dr. Greenspan fala sobre isso em uma entrevista à série Explicando, do canal Vox.
Outro fator importante é o medo de perder uma oportunidade. Golpistas anunciam seus esquemas como algo incrível, que poucas pessoas descobriram até agora – mas que está prestes a estourar e aí vai ser tarde demais pra participar. Criam um senso de urgência, fazendo com que as pessoas ajam antes de pensar.
Isso se aplica a qualquer tipo de golpe. O esquema de Bernie Madoff era extremamente sofisticado, mas fraudes simples podem fazer ainda mais vítimas no dia a dia. Algo tão comum quanto um anúncio de promoção nas redes sociais pode ser um golpe: você clica, é direcionado pro site da loja, insere seus dados e compra.
Só que aquela página era falsa e você acabou dando suas informações para um fraudador – que pode usá-las para se passar por você ou gastar seu dinheiro.
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A arte de comer pelas beiradas. Também faz parte da psicologia dos golpes ir ganhando a confiança da vítima bem aos pouquinhos. Pense assim: se alguém te ligar e, de cara, perguntar seu número e senha do cartão você não vai responder, certo? Mas um bom golpista vai fazendo perguntas inofensivas, te ganhando com carisma.
Sem perceber, você vai se abrindo. Começa a revelar informações cada vez mais pessoais, como o nome de um bicho de estimação, o aniversário da sua mãe, a rua em que mora… Todas aquelas perguntas comuns usadas para recuperação de senha em sites.
Basta uma informação chave no meio de várias outras que parecem inúteis e pronto: o golpista fez sua vítima.
A vergonha e a falta de denúncias. Um estudo da Comissão Europeia revelou que 40% das vítimas de fraudes não contam o que aconteceu para ninguém. A maioria sente vergonha de ter caído no golpe ou deixa de denunciar para a polícia porque sabe que, na maioria dos casos, não há nada que possa ser feito para recuperar seu dinheiro.
Com isso, fraudadores conseguem fazer dezenas, centenas e até milhares de vítimas antes de serem pegos.
Tempos difíceis nos tornam mais vulneráveis. Desemprego em alta e pandemia são condições ideais pra fraudadores, porque eles se apoiam em promessas nas quais queremos desesperadamente acreditar. Os ataques de phishing, por exemplo, dobraram em janeiro de 2021 em relação a 2020.
Como se proteger? Não há uma resposta ideal, porque golpistas são muito bons em derrubar nossas barreiras – e estão sempre se aproveitando das circunstâncias para encontrar novas iscas. Mas duas frases são chave para ajudar:
Se parece bom demais para ser verdade, muitas vezes não é verdade mesmo. Esses papos de "dobre seus investimentos" ou "ganhe dinheiro sem trabalhar quase nada" são quase sempre chamarizes para esquemas fraudulentos.
Nenhuma oportunidade é tão urgente que não valha a pena investigar antes. Não caia nessa de "promoção esgotando", "últimas vagas neste curso imperdível" ou até em um atendente de banco que diz que você precisa passar seus dados ou entregar seu cartão porque ele foi clonado.
E lembre-se: não existe vergonha nenhuma em cair em um golpe. Todo mundo pode cair – e falar mais sobre isso é a única forma de espalhar as informações para que menos gente seja vítima no futuro.
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