Sou daqueles que admira muito o trabalho de Divaldo Franco. São incontáveis as palestras que ouvi no meu carro, viajando e a noite quando embarcado em uma plataforma marítima, não tínhamos muitas opções de entretenimento. É um individuo portador de um inequívoco dom que é o dom da palavra.
Suas palestras sedimentaram a minha crença na doutrina espírita, mas nós reles mortais temos a tendência a seguir determinados líderes e devemos aprender que seguir só devemos seguir um que é Jesus, pois ele é nosso modelo e guia, segundo a pergunta Nº 125 do livro dos espíritos, quando esses respondem a Alan Kardec, que os indagou, QUAL SERIA O ESPÍRITO QUE DEVERIA NOS SERVIR DE GUIA E MODELO e esses responderam "VÊDE JESUS".
A partir dessa resposta, a Doutrina Espírita passou a ser uma doutrina Cristã e isso implica em toda uma teologia que acompanha o nome de Jesus. O simbolismo do CORDEIRO, o Cordeiro de Deus que tira o pecado mundo, etc... e etc...
A doutrina espírita não se aprofunda nesses temas. Por sinal Kardec evitou os temas dogmáticos do cristianismo e se concentrou nos temas morais, sobre os quais não se pode discutir. Mas os temas dogmáticos ai estão e são como gritos que não querem calar e cedo ou tarde terão que ser estudados e abordados. É inevitável.
Paralelamente todos nós como cidadãos temos o direito de ter posições políticas, mas devemos evitar traze-las para dentro da discussão teológica, entretanto há uma coisa que ninguém pode em sã consciência negar. Jesus era progressista, e se Jesus era progressista, isso implica em todas as consequências que esse posicionamento pode trazer para o âmbito do ambiente espirita e porque não dizer do ambiente espiritualista.
De acordo com Divaldo, a visita de Bolsonaro teria sido “discreta e simples”, mas ainda assim repercutiu, principalmente entre seguidores do espiritismo. Para Marcelo Teixeira, escritor e expositor espírita, muitos seguidores da doutrina se espantaram ao ver um de seus líderes mais populares aceitar ser homenageado pelo atual presidente da República. “Eu e muitos outros companheiros de doutrina espírita jamais aceitaríamos algo semelhante vindo de um presidente que desrespeita a vida com declarações escancaradamente machistas, homofóbicas, racistas e misóginas”, afirma.
Segundo Teixeira, no espiritismo existe a consciência de que as pessoas são espíritos imortais presos temporariamente a um corpo material que reencarnam quantas vezes forem necessárias para encerrar determinadas pendências e auxiliar no progresso da humanidade e do planeta. “Isso significa que devemos lutar para sermos pessoas melhores, bem como participativos no que tange à construção de uma sociedade na qual haja trabalho, saúde, educação, moradia e salários dignos para todos, independentemente de sexo, etnia, orientação sexual, classe social ou credo religioso”, explica ele.
Apoio a Bolsonaro
Em diferentes ocasiões, Divaldo Franco já havia demonstrado apoio a Jair Bolsonaro, chegando a receber o apelido de “médium de direita”. “Não acompanho política, mas não sou covarde e expresso minhas opiniões. O atual presidente representava uma esperança, apesar de eu não aprovar seus discursos a favor da tortura”, afirmou ele ainda em 2019 em entrevista à Veja São Paulo.
Na época, Dora Incontri, coordenadora da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, chegou a se pronunciar sobre o posicionamento político de Divaldo, negando suposições de que ele representaria a doutrina. “Ele influencia muita gente e, como se porta como líder, parece que toda a nossa comunidade segue o seu pensamento, o que não é verdade”, criticou ela.
Édney Mesquita, professor de história e psicanalista espírita que administra o perfil @cortesespiritas no Instagram e no TikTok, comentou sobre o caso mais recente. “Senhor Divaldo Franco, quando você tira ‘fotinho’ ao lado de um candidato, ao meu ver, representante das trevas, você está indicando aos espíritas incautos, que não raciocinam, que o que você fala, é lei. Você está angariando votos para ele”, afirma ele em uma publicação.
Debates progressistas
Para Marcelo Teixeira, as ações de Divaldo Franco em apoio ao atual presidente têm relação com o individualismo da classe média. “Ele está na casa dos 90 anos, vem de uma época em que a doutrina espírita conquistou grande número de adeptos graças a médiuns como ele. Adeptos, em sua grande maioria, vindos de classe média, que encontraram no espiritismo alívio para as dores e explicações lógicas que os afligiam. Mas creio que está na hora de essa gente bronzeada se conscientizar de que é preciso dar um passo além e debater sobre as questões sociais e políticas que fazem do nosso país um dos mais injustos do mundo”, diz ele.
O escritor também explica que o catolicismo trazido por jesuítas portugueses durante a colonização do país influenciou a maneira como os brasileiros praticam a doutrina espírita atualmente. “Trazemos na nossa conduta, sem percebermos, um catolicismo popular e conservador, e o que temos até hoje é um movimento espírita conservador e moralista, pouco afeito a debater ideias progressistas e que prefere se limitar à reforma que cada indivíduo deve realizar em seu mundo íntimo, mas se esquece de ampliar a questão para as profundas reformas sociais pelas quais o Brasil e o mundo precisam passar, e Divaldo acaba sendo a personificação desse espiritismo”, afirma.
Teixeira afirma que Divaldo Franco seria fruto de uma construção social que contribui para que a classe média que compõe o movimento espírita continue “inculta, reacionária, ranzinza, hipócrita, moralista, temerosa do comunismo e avessa ao progresso social, já que este implica na ascensão das classes que adoramos manter subalternas para limpar nosso chão, recolher nosso lixo, fazer nossa comida e lavar nosso banheiro”.
O que seria em tese ser progressista? Progressista é aquele que advoga posicionamentos que buscam se opor ao posicionamento conservador. Conservador é o individuo social que não quer a mudança. Que advoga posicionamentos ortodoxos, tradicionais, imutáveis no seu ponto de vista. Alguns desses posicionamentos seriam, que todo individuo tem um sexo e deve pertencer a esse sexo e ponto final. Não pode haver alguém que pertencendo a um sexo, possa se considerar do sexo oposto ao que nasceu.
Outro posicionamento conservador é o que diz respeito à escravidão. A escravidão existiu por séculos no Brasil, só sendo abolida no final do século atrasado, ou século 19. Houve uma luta muito dura no Brasil para abolir a escravidão e isso só foi possível porque o mundo estava mudando sendo o Brasil um dos últimos países a abolir a escravidão, a contragosto de alguns latifundiários.
Citamos esses dois aspectos para demonstrar o que é conservadorismo e o que é ser progressista, mas Jesus advogou mudanças em oposição à crença Judaica ortodoxa que até os dias de hoje se opõe ao Cristianismo. Estão aguardando o dia em que terão de dobrar os joelhos diante do Cristo e dizer "Benvindo àquele que vem em nome do Pai." e essa é a condição para eles.
Mas Divaldo como ser humano, imperfeito que é poderia ter evitado esse debate no seio da doutrina Espírita e com isso ele traz um prejuízo para a doutrina, dividindo-a ao meio, porque entre os espíritas existem aqueles de classe média que são conservadores e que sentem simpatia pelo candidato da extrema direita, o inelegível.
Poderiam ficar com seu posicionamento político evitando traze-lo para o âmbito das discussões doutrinárias até que mudassem seu posicionamento, até porque não tem como alguém do bem continuar a ser adepto desse grupo Nazi Fascista. Se insistem em continuar, não dá para pertencer à doutrina espírita, pois essa é uma doutrina que preza pela verdade e não pela mentira.
Chico Xavier uma vez foi instado a dar sua opinião sobre um tema político e na mesma hora seu mentor Emmanuel interferiu e disse-lhe para se manter calado. Divaldo poderia fazer o mesmo e evitar tirar fotos ao lado do inelegível, fazer elogios a Sérgio Moro, entre outras mancadas.
Por essas e outras Divaldo no final da sua vida, colocou uma mancha que veio a lhe compurscar a brilhante trajetória. Poderia ter mantido o brilho da sua coroa lá no mundo espiritual e que agora ficou com essa nódoa. Por essa razão eu me declaro oposto ao pensamento de Divaldo Franco. Para mim ele não tem mais nenhuma representatividade em relação à Doutrina Espírita. Equivocou-se.