Quando a controvérsia do aquecimento global aquece, o mesmo se passa com a discussão do `pico petrolífero` - o momento em que a produção mundial de petróleo atingirá o pico e começará então a declinar.
Algumas pessoas afastam isto como uma trama das grandes companhias de petróleo a fim de justificar preços elevados ao passo que outras assumem que isto é outra campanha enganosa de ambientalistas para encorajar a conservação de energia.
Dada a contínua manipulação da opinião pública, são compreensíveis as dúvidas quanto ao pico petrolífero. O mundo é sólido e durante a nossa vida ter combustível barato nunca foi um problema. Avanços tecnológicos na eficiência do combustível e energias alternativas deveriam providenciar uma solução antes de a Terra ficar sem petróleo. No entanto, há cinco razões para recear que o pico petrolífero esteja próximo.
Cinco razões para nos preocuparmos com a proximidade do pico petrolífero:
1 - Descobrir petróleo tornou-se extremamente caro e arriscado.
Os depósitos de petróleo formaram-se ao longo de milhões de anos no interior da Terra. A grande produção de petróleo começou a apenas um século atrás. Os Estados Unidos atingiram o pico petrolífero em 1970 e a produção anual do óleo caiu gradualmente para a metade. A atual produção seria menor se não houvesse novas descobertas no norte do Alasca e o desenvolvimento de campos de petróleo offshore. Os Estados Unidos são o líder mundial na exploração e no desenvolvimento do petróleo, mas a produção nos EUA continua a declinar. Toda a gente concorda em que a produção mundial de petróleo atingirá o pico um dia, e não existe método de importar petróleo de outros planetas.
Se há abundantes depósitos de petróleo disponíveis:· Por que as companhias petrolíferas investem milhares de milhões de dólares em tentativas complexas e arriscadas de produzir petróleo a parte de furos em águas profundas?
(1)· Por que as tentativas de desenvolver campos no ártico congelado ou construir plataformas de milhares de milhões de dólares no caminho de furacões no Golfo do México?· Por que as companhias petrolíferas estão a arriscar milhares de milhões de dólares e as vidas dos seus trabalhadores em alguns dos mais hostis países do mundo, como o Sudão e o Iraque?· Por que investir milhares de milhões de dólares em projetos petrolíferos em países como a Rússia, que muitas vezes impõem multas maciças pela `poluição` às companhias de petróleo estrangeiras?· Por que negociar com países com o Equador, que acaba de revogar licenças e tomar campos desenvolvidos?· Por que negociar com o Irã e as suas incertezas?
2 - As companhias de petróleo rejeitam o pico petrolífero
Apesar de acusações não confirmadas, publicamente as grandes companhias de petróleo desprezam o pico petrolífero como um problema ameaçador. Declarações nos seus sítios web, anúncios e discursos de executivos de grandes companhias de petróleo evidenciam isto.
Aqueles que desconfiam do big oil deveriam aceitar isto como prova de que o pico petrolífero está próximo.Por que as companhias de petróleo desprezam este problema uma vez que projeções de preços muito altos aumentariam o valor das suas ações?
Primeiro, as companhias estão continuamente a negociar arrendamentos (leases) petrolíferos e outros acordos com base nos preços projetados do petróleo. Se tais projeções duplicassem, o mesmo aconteceria aos seus custos. Segundo, as companhias de petróleo estão atualmente a arrecadarem lucros enormes.
Elas são a indústria mais lucrativa do mundo. Se o mundo soubesse que elas em breve fariam lucros astronômicos devido à escassez do petróleo, os governos fariam esforços para regular ou aplicar impostos a estes lucros inesperados.
Finalmente, os altos executivos das companhias de petróleo desenvolveram esquemas de pagamentos pelos quais podem-se tornar multimilionários depois de uns poucos anos em posição de topo. Tudo o que eles precisam fazer é sentar e dizer a toda a gente que ninguém deveria ficar alarmado.
Aqueles que argumentam que o pico petrolífero já chegou nunca afirmaram que o mundo ficará subitamente sem petróleo, ou que uma grande escassez provocará a catástrofe. Eles meramente destacam que a oferta mal pode acompanhar a procura. Mesmo se o pico petrolífero estiver a uns poucos anos de distância, as projeções da Agência Internacional de Energia (AIE) mostram que a procura ultrapassará a oferta no 4º trimestre de 2007.
(2) Mesmo que o mundo continue a aumentar a produção de petróleo em milhões de barris por ano, isto não será suficiente para atender o crescimento da procura, levando os preços a aumentarem agudamente. A produção à escala mundial parece ter atingido o pico a aproximadamente 85 milhões de barris por dia (mbd), e o experiente perito em petróleo e geólogo T. Boone Pickens declarou recentemente ser este o nível do `pico petrolífero` e previu US$ 80 o barril no fim de 2007
(3) As projeções da AIE mostram que a procura mundial de petróleo cresce até um recorde de 87 mdb no 4º trimestre de 2007, ao passo que a produção permanece estagnada em torno de 85 mbd. Esta diferença parece pequena, mas ela significa que os compradores de petróleo devem licitar por uma oferta limitada, e espera-se que todas elas tragam para casa contratos para entregas de óleo.
4 - As reservas de petróleo estão a esgotar-se
Os poços de petróleo ficam secos depois de 10 a 15 anos. Aumentar a produção não é apenas uma questão de furar novos poços, mas sim substituir poços esgotados por novos. Algumas companhias de petróleo não estão a conseguir substituir as suas reservas de petróleo no momento em que a produção está a cair. Elas disfarçam este problema através da compra de pequenas companhias de petróleo e registrando-se as nas suas reservas e produção. Se bem que isto resolva o seu problema, nada faz para substituir reservas esgotadas à escala mundial.John Busby, colaborador da SRA, descobriu um outro engano através das análises dos relatórios anuais.
(4) As companhias de petróleo também produzem gás natural. Trata-se de um produto energético, mas não algo que possa ser utilizado pela maioria dos automóveis. No entanto, agora as companhias de petróleo listam as suas reservas como barris de petróleo `equivalente`, contando o conteúdo energético do gás natural como dados de barris de petróleo. Isto obscurece exatamente quanto petróleo bruto foi esgotado, pois pode estar a ser compensado por aumentos no gás natural.
Outra questão é a das reservas contabilísticas das companhias de petróleo quando este é descoberto. Em muitos casos, a falta de infra-estrutura local ou a instabilidade política tornam o desenvolvimento destas reservas demasiado custoso ou arriscado. As companhias de petróleo também furaram dúzias de poços militares de pés abaixo da base do oceano e apregoaram estas descobertas em águas ultra-profundas como grandes acréscimos às suas reservas de petróleo. No entanto, não há qualquer esforço em andamento para produzir petróleo de muitos destes furos pois as complexidades e os riscos são aterradores. (5)
5- A procura por petróleo cresce apesar dos preços mais altos
Os gurus do livre mercado estão confusos porque a sua mágica da oferta versus procura fracassa nos mercados de petróleo. Os preços da gasolina duplicaram nos últimos três anos, mas a procura aumentou. Preços mais altos da gasolina não resultaram em procura diminuída, mas menos gastos em outras áreas. Exemplo: a Wal-Mart culpou os preços mais altos da gasolina pelas suas vendas mais baixas em 2005.
Preços mais altos reduziram o crescimento da procura pois as pessoas conduzem menos, fazem partilhas de carros, utilizam transportes públicos e compram veículos mais eficientes em combustível.Contudo, a procura por petróleo ainda aumentou devido a tendências infraestruturais e culturais que evoluíram desde a Segunda Guerra Mundial, especialmente nos Estados Unidos.
Eles prefeririam antes retirar dinheiro das suas poupanças para pagar US$ 10 por galão (3,78 litros) de gasolina do que ficar à espera numa fila de auto-carro. O grande livro de Paul Fussel acerca da sociedade americana definia a classe pobre como a daqueles que embarcam no auto-carro.Além disso, grandes carros de luxo são um símbolo de status. Eles prefeririam trabalhar num segundo emprego do que serem vistos a conduzir um pequeno Honda.
Uma das canções mais populares dos últimos anos era `Gasolina`, em língua espanhola, cujo refrão se traduz por `ela gosta de gasolina`, enquanto o seu vídeo mostra jovens a desfrutarem carros grandes e poderosos. Na China e em outros países em desenvolvimento, o símbolo do êxito é possuir um carro. Os trabalhadores pobres querem possuir um carro mais devido ao status do que pela sua utilidade como transporte.
Le gusta la gasolina
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Estes padrões culturais certamente provocarão um choque de civilizações pois toda a gente compete pelo petróleo. A gasolina a US$ 5 por galão provoca impacto na economia, mas tem um impacto limitado no crescimento da procura por petróleo. O mercado livre sabe como reduzir a procura - preços mais altos, mas quão altos devem ir? O problema é que o preço não é um fator importante para a alta classe média e acima, para os militares, governos e a maior parte dos negócios.
Eles pagarão seja o que for que o mercado peça desde que isto não exija sacrifício pessoal. Ironicamente, nas mentes da maior parte dos americanos, preços mais elevados da gasolina apenas elevarão o status social de conduzir um monstro bebedor de gasolina. Infelizmente, aqueles que têm um orçamento limitado e estão dependentes de um automóvel para o transporte lutarão para sobreviver nesta era em que todos gostam de `Gasolina`
(1) O Thunder Horse parte uma perna, 04/maio/2007
(2) Oil Market Report, IEA, May 11,2007
(3) `Conference speakers point to $70-80 oil by end of year`, Fort Worth Business Press, May 13,2007
(4) `Ignotum per ignotius`, SRA; Octer 27,2006
(5) O Thunder Horse parte uma perna, 04/maio/2007
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