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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

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45 anos sem Jango, 45 anos na história – Por João Vicente Goulart

Jango está na história, está no presente e está no desafio de modificar as estruturas sociais, econômicas e políticas do povo brasileiro.

45 anos sem Jango, 45 anos na história – Por João Vicente Goulart

Por João Vicente Goulart

 
 
Fotos: Reprodução
 Ainda no exílio, em conversas despretensiosas sobre o Brasil, debaixo da sombra de um sauce chorão, chimarrão na roda, olhos voltados ao céu como se fosse o mesmo de sua terra são-borjense e divagando sobre o tempo transcorrido em terras alheias, Jango, meu pai, pensando se voltaria ou não para seu país, ia trocando certezas nas palavras pronunciadas, alagadas de saudades e lembranças.


– Sabes meu filho, que cinquenta anos na vida de um homem é uma eternidade, mas não é quase nada na vida e história de um país.

– Se eu não voltar para minha terra, daqui uns anos verás ruas e avenidas com o nome de teu pai. Mas o importante é que verás a história dar-me razão na luta que travei pela melhoria do povo e dos trabalhadores brasileiros. E podes ficar sabendo que não me arrependo de nada, de absolutamente nada do que politicamente propus à nação brasileira, através da propositura e implantação das reformas estruturais, em benefício da distribuição e geração de riquezas para o nosso povo.

Vejo hoje, 6 de dezembro, há 45 anos de sua partida de nosso convívio, que tinha a soberba razão do que profetizava embaixo daquela árvore no exílio sobre o Brasil.

 

EXCLUSIVO: Coronel Ustra, torturador da Ditadura, é um dos “marechais” do Exército

 

A nação, hoje, sob o manto do fascismo autofágico, 45 anos depois de sua morte e quase 60 do golpe de Estado de 1964, continua a ver ceifada a dignidade da maioria de nosso povo, além de enterrar qualquer tipo de vontade de autodeterminação nacionalista.


O modelo fascista ultraliberal prossegue a entregar tudo o que durante anos o povo conquistou como patrimônio público, criando suas empresas estatais, protegendo o direito dos trabalhadores de consumirem aquilo que produzem, a terceirização e uberização como uma escravaria das senzalas ocultas atrás da hipocrisia da política do rentismo, da agiotagem oficial dos bancos privados, da falta de segurança alimentar por falta da Reforma Agraria, da entrega do nossos minérios a empresas privadas que acumulam a irresponsabilidade social como o que vimos em Mariana e Brumadinho.



Jango, cada vez mais estudado pela academia, por vários partidos que pregam suas REFORMAS DE BASE, através do nacional-desenvolvimentismo, e por meio do retorno de medidas essenciais a nossa nacionalidade, independência, autodeterminação e soberania, está cada vez mais vivo e altivo, para que possamos seguir suas reformas.

Agrária, tributária, reestatização das empresas públicas, estabilidade e valorização dos funcionários públicos para o combate à corrupção, reforma educacional freiriana para a formação de cidadãos com consciência nacionalista, reforma bancária para um melhor controle do crédito à produção e fortalecimento do pequeno e médio empresário nacional, aumento substancial do poder aquisitivo do salário mínimo para o desenvolvimento e aumento da produção de bens de consumo e o reerguimento dos sindicatos de trabalhadores para que possam, justamente, arguir suas reivindicações quando se faça necessário diante dos desiquilíbrios da relação capital-trabalho.

Jango vive, na esperança revolucionaria de mudar o Brasil. Jango vive no exemplo das leis de proteção aos trabalhadores.

Quarenta e cinco anos depois, Jango está na história, está no presente e está no desafio de modificar as estruturas sociais, econômicas e políticas do povo brasileiro.

JANGO, PRESENTE!


Antes de tudo quero deixar claro qual é o regime político que acho ideal. Esse é a SOCIAL DEMOCRACIA. A Social Democracia não é o COMUNISMO e nem é o CAPITALISMO. É na verdade o que há de melhor dos dois regimes. Os países que instituiram o Socialismo Democrático como a SUÍÇA, SUÉCIA e a FRANÇA e até PORTUGAL e alguns países Europeus, são em verdade o que mais poderíamos aproximar de SOCIEDADES IDEAIS. 

 O Século XX que já se encerrou, e o início do Século XXI que estamos vivendo, deixaram duas grandes lições. A primeira é a de que um Estado que tem poderes absolutos não é bom nem ideal. A queda do Muro de Berlin e o esfacelamento da UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS, marcam a falência da Ditadura do Proletariado que iniciou com o Golpe Bolchevique que derrubou a Monarquia na antiga Rússia, obrigando os integrantes da Realeza a fugirem para outros países e culminou com o crime do assassinato da família Real que não tinha mais lugar na nova ordem proletária. 

 Os crimes de Stalin contra o povo e contra os idealizadores da revolução Bolchevique, que se rivalizam com os crimes da Alemanha Nazista, mostraram que ditaduras nunca serão um bom regime, a partir do momento em que concentram na mão de um ditador todos os poderes, que normalmente só se mantém com a instauração do terror. 

 A outra grande lição que o início do Século XXI deixa para a humanidade é a de que a economia não se auto-regula como pregavam os profetas do NEOLIBERALISMO, e que é necessário que o ESTADO intervenha na economia para colocar as coisas nos eixos.


Se Barack Obama não tivesse intervido, salvando da falência alguns mega grupos de BANCOS, SEGUROS, MONTADORAS e outros de menor expressão da falência, poderíamos hoje estar vivendo o fim da economia de mercado que iria se desintegrar. Isso contraria evidentemente o interesse de várias nações que estão com todos os seus ativos ancorados nessa economia que dá sinais de podridão com o domínio económico da nação Norte Americana, e seu dólar que hoje não tem mais o lastro em ouro, requisito que o consolidou como moeda de transação do mercado internacional.

Dentro desse cenário ressurge a tese do Socialismo Democrático. Um regime político que não vê como prioridade o capital, mas o homem, é democrático e aceita a economia de mercado sempre dentro da perspectiva de que o homem é a prioridade, e não o capital.

Todo esse papo serviu de introdução para falar do político Brasileiro Ideal e que é aquele que eu admiro em uma época que se costuma colocar todos os políticos no mesmo saco.

Não é somente esse político de que falo que considero como ideal. Outros tem também a minha grande admiração. Falo por exemplo de Leonel Brizola e de Darcy Ribeiro. Poderia colocar nesse conjunto um outro grande político Brasileiro que foi Getúlio Vargas, mas esse ficou manchado com o episódio de Olga Benario, mulher de Luiz Carlos Prestes que foi enviada para morrer na Alemanha Nazista.

Getúlio tinha boas relações com a Alemanha Nazista o que o coloca sob suspeição, além de ter o concurso de um Alemão odiado pelo povo Brasileiro como chefe de sua polícia Secreta que foi Filinto Mueller. Muita gente adorou quando o seu avião caiu e ele foi prestar contas lá nas regiões das trevas que é para onde vão aqueles que matam e torturam outros seres humanos.

Pois é. Getúlio que era um dos ditadores do seu tempo, apesar de nacionalista, apesar de ter criado os direitos do trabalhador que vigem até hoje, tem contra si o fato de que a exemplo de outros seus colegas como Francisco Franco ou Salazar ou Hitler, ou Benito Mussolini ter feito uso do terror como instrumento de poder, como os militares viriam a praticar anos mais tarde, por sinal, seus inimigos.

Entretanto o grande político Brasileiro, aquele que eu mais admiro por suas posições, pela sua coragem, pelos seus ideais, pelas suas decisões e pela sua grandeza nos momento decisivos, esse foi João Belchior Marques de Goulart.

E justifico essa minha posição citando os porquês dessa minha admiração.

1 - Primeiramente João Goulart não precisava defender operários e nem trabalhadores, porque descendia de uma família de latifundiários, muito ricos do Rio Grande do Sul, mas a sua opção foi a política em defesa da causa operária, coisa rara vindo de quem deveria ter exatamente interesses contrários a esses.
2 - Foi além de um grande líder político um homem de muita coragem. Quando Getúlio Vargas o nomeou seu Ministro do Trabalho, João Goulart instituiu o aumento do salário mínimo em cem por cento, o que provocou a revolta da classe patronal e o que o levou a exoneração apesar de Getúlio ter conservado o aumento de cem por cento.

 

Quando por ocasião do golpe militar, João Goulart que tinha como amigo o General Amaury Kruel, chefe do Segundo Exército, pois o citado General era padrinho de casamento de sua filha, teve com o citado General um dialogo duro, quando o conclamou a apoia-lo, e o General obtemperou com duas exigências. Que João Goulart abrisse mão das Reformas de Base, e concordasse em prender alguns agitadores que eram líderes de movimentos, principalmente o movimento dos Sargentos. Jango nesse momento poderia concordar e assim reverter o direcionamento do Golpe. Poderia ter recuado, mas não concordou. Era um homem de princípios, e ali foi praticamente decidido o rumo da revolução de 1964.

Apesar de tudo não foi ai que as coisas foram decididas. Quando foi para o Rio Grande do Sul, o Terceiro Exército estava unânime em apoia-lo. Uma reunião da qual participaram Leonel Brizola e mais oito generais pretendiam iniciar uma reação. Leonel Brizola sugeriu que destituísse por ato de presidente os ministros existentes e o nomeasse outro Ministro da Guerra. Dessa forma iniciaria uma reação ao Golpe Militar em curso.

João Goulart não concordou, porque tal decisão levaria a um grande tributo em sangue o que não era seu desejo. Dessa forma João Goulart saiu do Brasil e asilou-se no Uruguai. (Entretanto essa decisão de João Goulart não tinha somente essa razão. comentaremos depois a outra e fundamental razão para essa sua decisão.)

Outro momento de muita coragem foi quando laçou as suas reformas de base. Se concordarmos que os homens lutam com mais fervor por aquilo que consideram como seus e com menos fervor por aquilo que podem vir a conquistar, entenderemos perfeitamente a revolta que sacudiu o Brasil de Norte a Sul quando Jango lançou as suas reformas de Base.

Eis as reformas de Base:
  • Reforma educacional: visava combater o analfabetismo com a multiplicação nacional das pioneiras experiências do Método Paulo Freire. O governo também se propunha a realizar uma reforma universitária e proibiu o funcionamento de escolas particulares. Foi imposto que 15% da renda produzida no Brasil seria direcionada à educação.
  • Reforma tributária: controle da remessa de lucros das empresas multinacionais para o exterior; o lucro deveria ser reinvestido no Brasil. Os imposto de renda seria proporcional ao lucro pessoal.
  • Reforma eleitoral: extensão do direito de voto aos analfabetos e aos militares de baixa patente.
  • Reforma agrária: terras com mais de 600 hectares seriam desapropriadas e redistribuídas à população pelo governo. Neste momento, a população agrária era maior do que a urbana.
  • Reforma urbana: foi estipulado que as pessoas que tivessem mais de uma casa poderiam ficar com apenas uma; as demais seriam doadas ao Estado ou vendidas a preço baixo.

Obviamente essas reformas deixaram muitas pessoas descontentes. Exatamente os mais poderosos, os latifundiários, os ricos que tinham mais de uma propriedade, e os donos de escolas particulares. A apoia-lo só tinha o povo que não tinha evidentemente toda essa disposição.

Os Estados Unidos da América por trás procurava insuflar não só os golpistas como também os políticos contrários a João Goulart. Hoje sabe-se que o golpe foi urdido e tramado nos bastidores da Embaixada Americana.

Além da coragem uma outra qualidade era admirável em João Goulart, ao contrário de Getúlio e de outros políticos. Ele não gostava de ferir nem matar ninguém. Quando as tropas de Mourão Filho saíram de Minas e marcharam para o Rio de Janeiro, o que foi a rigor uma aquartelada, pois não tinham nem munição, foi cogitado de se mandar aviões para bombardear essas tropas insurgentes, ao que JANGO não concordou, pois isso poderia ferir pessoas ou mata-las. Seria o início de uma guerra.

Finalmente quando no Rio Grande do Sul ele decidiu não reagir, o fez porque tinha informações privilegiadas que davam conta de que uma força tarefa Norte Americana estava nas costas do Brasil e se preparavam para intervir em apoio aos insurgentes. A intenção era dividir o Brasil em dois e portanto teríamos Brasil do norte e Brasil do sul como ocorreu na Coreia e no Vietname. Goulart não queria isso, além do enorme tributo de sangue que isso viria a cobrar do povo Brasileiro.

Fazendo um exercício de reflexão, pensemos o seguinte. Se João Goulart tivesse decidido resistir, o que aconteceria? Teríamos uma guerra civil. Quantas pessoas morreriam? O quer aconteceria com o Brasil? O Vietname hoje dividido levou 35 anos em guerra. Crianças nasceram e morreram e viveram em um país permanentemente em guerra. A Coreia também tem histórias terríveis para contar, e até hoje está dividido. Os Estados Unidos ampliariam seu domínio, a Rússia interviria a favor dos esquerdistas, e teríamos um conflito de dimensões mundiais.

A decisão de um só homem evitou tudo isso. Tal como a decisão de Getúlio Vargas quando se suicidou, a decisão de João Goulart em se exilar nos salvou a todos nós de viver em um país convulsionado por uma guerra, como queriam sem dúvida as trevas.

João Goulart seria depois assassinado por ato de um plano macabro de uma chamada Operação Condor. Quem lê essas minhas linhas há de perguntar. Mas ele não morreu de morte natural? E eu diria. Não. Ele a exemplo de Juscelino Kubitchec, e Carlos Lacerda, foi assassinado. Leia-se o livro "O BEIJO DA MORTE" de Carlos Heitor Cony. E com certeza não foi só Jango que foi assassinado nessa noite tenebrosa que se abateu sobre a nação Brasileira. Outras figuras como Tancredo Neves, Paulo Cesar Farias e sua esposa, Pedro Collor, e onde está por exemplo o médico legista que contestou o laudo pericial de Paulo Cesar Farias? Que fim levou?
  • As condições nos países do Cone Sul, nos meados dos anos 1970, não ofereciam também a menor segurança. No Chile, sangrento golpe de estado derrubara o governo constitucional e democrático do socialista Salvador Allende. Juan Domingo Perón, que voltara à presidência da Argentina (outubro de 1973) e mantinha excelente relacionamento com João Goulart[1], falecera em 1 de julho de 1974. Como vice-presidente, sua viúva, Isabel Perón (seu nome verdadeiro era Maria Estela Martinez) ocupou o governo da Argentina, cujas condições internas, tanto econômicas quanto políticas, voltaram a deteriorar-se, ao tempo em que atos de terror e violência se intensificavam, com as organizações paramilitares – Triple A (Alianza Anticomunista Argentina) e Comando de la Organización – a assassinarem militantes e líderes de esquerda, enquanto o Ejército Revolucionario del Pueblo (ERP), de origem trotskista, e as formaciones especiales da Juventude Peronista (Montoneros) realizavam seqüestros, atacavam quartéis e executavam ousadas operações de guerrilhas em Tucumán. Isabel Perón também fora deposta do governo da Argentina por um golpe de estado, em março de 1976. E diversos líderes latino-americanos, que se opunham aos regimes militares, morreram em Buenos Aires assassinados, e entre eles dois importante políticos uruguaios, o ex-ministro de estado e ex-senador Zelmar Michelini e o ex-presidente da Câmara de Deputados, Héctor Gutiérrez Ruiz, cujos cadáveres foram encontrados juntos, dentro de um automóvel, em 22 de maio de 1976[2], bem como o general Juan José Torres, que fora deposto do governo da Bolívia (1971) com o apoio do Brasil[3]. Àquela época, os órgãos de repressão da Argentina, Brasil, Uruguai, Chile, Bolívia e Paraguai haviam concertado um entendimento e desencadeado, conjuntamente e com a assistência da CIA, a Operação Condor, com o objetivo de eliminar toda e qualquer resistência aos regimes ditatoriais instalados naqueles seis países do Cone Sul [4].

  • Goulart, que montara uma empresa para a exportação de carne e arroz, em Buenos Aires, onde pretendia residir, recebeu também ameaça de morte e, segundo se informava, teve seu escritório, naquela cidade, na Avenida Corrientes, invadido, cofre e armários arrombados, por um comando cujo objetivo aparentemente fora seqüestrá-lo e matá-lo. Este fato é contestado por algumas fontes, mas algo estranho, de qualquer maneira, houve. E alternativa não restou a Goulart senão passar mais tempo em Mercedes (Argentina), onde possuía uma estância (La Villa) ou sua fazenda em Maldonaldo, perto de Punta del Este, no Uruguai. Mas, no Uruguai, onde fora recebido, em 1964, não como refugiado político e sim como presidente constitucional do Brasil, e obtivera até mesmo passaporte[5], negado pelo governo brasileiro[6], a situação igualmente se modificara. Depois do golpe de estado de 27 de junho de 1973, o governo autoritário de Juan Maria Bordaberry sujeitou-se ainda mais à influência do governo brasileiro, do qual dependia econômica e politicamente, e começou a criar as maiores dificuldades para todos os exilados, inclusive para Goulart. Seu filho, João Vicente Goulart, com 16 anos, foi preso, teve sua cabeça raspada e ficou três dias em um quartel. Sua mãe, Maria Tereza Goulart, sob a alegação de transporte irregular de carne[7]. O piloto, Rubem Rivero, foi também preso sob a acusação de militância subversiva. E o próprio Goulart, que tivera de mandar seus filhos – João Vicente e Denise – para a Inglaterra, com receio de que fossem seqüestrados[8], foi compelido pelo governo uruguaio a desistir do direito de asilo, dado que não o podia expulsar, devido aos seus grandes investimentos no país[9].

  • Goulart estava deprimido, ansiando voltar ao Brasil, o que constituía sua obsessão, e não tomava os devidos cuidados com a saúde, pois, embora fosse sabidamente cardíaco, continuava a comer sempre a gordura da carne, fumava e não dispensava algumas doses de whisky. E, em tais circunstâncias, ele decidiu fazer uma viagem à Europa, onde não apenas visitaria os filhos em Londres como verificaria as condições de mudar-se para a França[10] ou Espanha, onde ficaria perto de seus filhos que estudavam em Londres. Brizola, naquela ocasião, soube através do serviço secreto de Cuba, com qual desde 1965 nunca perdera contacto, da existência de um complô para assassinar Goulart quando ele passasse por Buenos Aires. Como não lhe queria diretamente falar, pois suas relações continuavam rompidas, procurou o escritor Edmundo Moniz, ex-diretor do Correio da Manhã, asilado em Montevidéu e amigo de ambos, e pediu-lhe que o avisasse do risco que correria[11]. Brizola, perguntado então porque ele, pessoalmente, não o fazia, inventou a desculpa de que Goulart o vira em um posto de gasolina e não o cumprimentara.
  • Diante dessa evasiva, Edmundo Moniz aceitou a incumbência e transmitiu a informação a Goulart, que tomou a iniciativa de ir apartamento de Brizola, a pretexto de visitar sua irmã Neuza, então adoentada, e despedir-se, dado que estava com a viagem marcada para a Europa. Brizola, ao saber da presença de Goulart no prédio, recolheu-se a um dos quartos do apartamento, mas o escritor e jornalista Josué Guimarães, que lá se encontrava, bem como outros amigos pressionaram-no para que aparecesse na sala, com o que ele a muito custo aquiesceu, reconciliando-se assim com o cunhado, após 12 anos de rompimento[12]. Mas os dois não conversaram sobre política. Só de assuntos pessoais, de família.

  • Pouco tempo depois, em setembro de 1976, Goulart realizou a viagem à Europa[13] e aproveitou para fazer exames no instituto cardiológico de Lyon, quando passou pela França, e após submeter-se a vários exames, recebeu uma advertência a respeito de seu estado de saúde, e escreveu uma carta a Cláudio Braga, que cuidava de seus negócios em Buenos Aires e a quem confiava assuntos políticos e pessoais, contando que os resultados foram “bem razoáveis”, considerando que não se sujeitara “nunca às prescrições médicas e regimes” [14]. Também comentou a situação no Brasil, onde “as cousas se esquentaram”, com a notícia de seu possível regresso, e se estavam “somando muita detonantes; eleições, situação econômica - social muito difícil, morte de JK, com repercussões de toda ordem e da maior magnitude (inesperada completamente para o governo), graves denúncias no campo moral etc. etc.”.[15]

  • Goulart tinha consciência de que não mais podia permanecer nem no Uruguai nem na Argentina, devido à insegurança que se instalara nesses dois países, onde recrudesceram os assassinatos dos líderes políticos, que se opunham aos regimes militares. Mas tinha dúvida sobre o que fazer. De um lado, excogitava morar em Paris. Do outro, pretendia regressar a Brasil, mesmo sem anistia política. Assim, logo após regressar da Europa a Montevidéu, solicitou a Cláudio Braga que ouvisse a Almino Afonso, que voltara a Buenos Aires uma viagem ao Brasil apesar de que estivesse exilado, sobre um possível retorno, mesmo sem anistia. Almino Afonso foi favorável. Mas nada de ir pela fronteira, nem de exílio dentro da pátria. Sua idéia era de que Goulart fizesse outra viagem à Europa, a fim de visitar o papa Paul VI, e aos Estados Unidos para um encontro com o senador democrata Edward Kennedy, irmão do ex-presidente John Kennedy e então o principal oponente das ditaduras militares instituídas na América Latina, após o que, com ampla divulgação, em New York tomaria um avião diretamente para o Rio de Janeiro, em franco desafio ao regime militar e correndo o risco de ser preso.[16] “Esta opinião foi por mim transmitida a Jango e conversamos várias vezes no Uruguai, mas ele sempre ordenava "absoluta reserva", ate sua definitiva autorização para deslanchar a operação retorno” – recordou Cláudio Braga.[17]

  • Por volta de 25 ou 26 de novembro, Goulart telefonou para Cláudio Braga, pediu-lhe que estivesse às 15 horas no bar do Hotel Columbia em Montevidéu. Após falar sobre seus interesses na Argentina, principalmente sobre um grande remate de gado que pretendia fazer em Mercedes-Corrientes, e orientá-lo sobre todas as providencias a tomar, Goulart disse a Cláudio Braga: “Agora vamos ao mais importante. Viajes primeiro a Bueno Aires e marques um jantar com Almino, transmitindo-lhe minha decisão de regressar ao Brasil; ele pode ir pensando na operação regresso, na qual, certamente, estará incorporando o Waldir (Pires)”[18].

  • Quando ambos caminhavam para o Hotel Alhambra, na parte velha e Montevidéu, Cláudio Braga ainda várias vezes lhe perguntou, se esta era uma decisão definitiva. E ele respondeu: "se não fosse, eu não estaria mandando tu falares com Almino. As conversas com Almino são conversas sérias... Ele é um homem sério. Irei antes conversar com Edward Kennedy, enquanto isso Almino irá ouvindo a quem ele considerar necessário a essa operação"

  • Cláudio Braga cumpriu a missão. Encontrou-se com Almino na confeitaria Richmond, na calle Florida em Buenos Aires, e transmitiu-lhe a decisão de Goulart. “Lembro-me que Almino Afonso disse – mais ou menos – o seguinte: ele prestará mais uma vez um grande serviço ao país.”[19] Goulart, diante de tal perspectiva, estava sob forte tensão. Dado sofrer de cardiopatia grave e haver-se ampliado sua afecção coronariana, ele havia parado de beber e começara a fazer violento regime, a fim de emagrecer, porém mal controlado, e continuou a fumar muito, não obstante a proibição do médico, e a comer ovos e carnes gordurosas, conforme o próprio depoimento de sua esposa, Maria Tereza Goulart[20]. Grande era, portanto, o perigo de que tivesse outro enfarte, como já sofrera no Uruguai, em 1969.

  • De qualquer forma, Goulart, consciente ou não deste problema, prosseguiu normalmente suas atividades. Foi encontrar-se com Maria Tereza, em Maldonado, a fim de irem juntos à fazenda em Tacuarembó e de lá partirem para Argentina, pelo interior, cruzando o rio Uruguai, pois não pretendia transitar por Buenos Aires, em virtude do clima de ameaças lá existente. E na manhã de 5 de dezembro, com a perspectiva de retornar em breve ao Brasil mesmo sem anistia[21], viajou com Maria Tereza para La Villa, a estância que possuía na província de Mercedes, Argentina. Fê-lo, sigilosamente. Mas a viagem fora, decerto, exaustiva, pois Goulart e Maria Tereza seguiram de avião apenas até Bella Unión, fronteira do Uruguai, atravessaram de lancha o rio Uruguai para Monte Caseros, prosseguiram de automóvel até Paso de los Libres, onde almoçaram com um negociante de gado no Hotel Alejandro I, após o que partiram para La Villa, distante cerca de 120 km de Uruguaiana, no Brasil.

  • Lá eles chegaram à tarde de domingo, dia 5 de dezembro, recebidos pelo administrador da fazenda, Júlio Passos. À noite, enquanto conversava com Julio Passos detalhes sobre o recolhimento do gado para vacinação, Goulart comeu um churrasco de ovelha e, depois de beber uma xícara de chá, recolheu-se por volta de 1h ao seu quarto para dormir. Às 2h40m, porém, Júlio Passos ouviu os gritos de Maria Tereza – a angústia dos gritos era tamanha que ele pensou que alguém invadira a casa – e correu até o quarto, onde viu Goulart, deitado, com a mão no coração, e ela a tentar abrir-lhe os braços para fazê-lo respirar. Cinco minutos depois, às 2h45m, Goulart estava morto. O médico, Ricardo Rafael Ferrari, que o motorista Roberto Ulrich, o “peruano”, correra para buscar, já nada mais pôde fazer. E, após examinar o corpo, diagnosticou no atestado de óbito, como causa da morte: enfarte do miocárdio.

  • Goulart “passara incólume por uma dezenas de inquéritos”, conforme Elio Gaspari salientou,[22] purgara doze anos de exílio, mas a ditadura, o regime autoritário, instituído pelo golpe de estado de 1964, mostrou a sua face cruel, desumana e mesquinha. O governo do general Ernesto Geisel, embora se propusesse a promover, gradativamente, a abertura política, não decretou luto oficial, o que obrigou José Magalhães Pinto, presidente do Senado, a mandar baixar a bandeira a meio-pau hasteada, em sinal de luto, no prédio do Congresso, e o Departamento de Censura proibiu a transmissão de comentários sobre a carreira política de Goulart, através do rádio e televisão, só permitindo “a simples nota do falecimento”, desde que não fosse “repetida sucessivamente”[23].

  • Mesmo a autorização para que o seu corpo fosse sepultado no Brasil, gerou sérias controvérsias, porque o general Sílvio Frota, ministro da Guerra, tentou anular a autorização dada pelo vice-presidente da República general Adalberto Pereira dos Santos, para que o féretro atravessasse a ponte presidente Justo que ligava a cidade de Paso de los Libres, na Argentina, a Uruguaiana, no Brasil[24]. Não conseguiu. Só assim, doze anos, oito meses e quatro dias após asilar-se no Uruguai, o presidente constitucional da República, já sem vida, teve permissão de regressar ao Brasil para ser enterrado em São Borja, onde nascera.
  • Em relação ao livro "O BEIJO DA MORTE", No ápice da tragédia estaria um assassinato de um ex-presidente do Brasil por um Presidente do Brasil, O General Geisel, um dos generais que exerceram poder ditatorial por quase vinte anos. No livro um capítulo inteiro escrito por Anna Lee aponta para um pelego uruguaio chamado de Mario Naira Barreiro, hoje prisioneiro em Charqueadas por delinqüência financeira e política, sustenta que tem umas 40 horas de fitas, onde muita gente, inclusive Jango fala sobre conteúdos ainda mais misteriosos do que os seus próprios assassinatos. Tais fitas ainda não foram lidas. O ex-agente de crimes políticos quer dinheiro para mostrar o que diz que tem. Mas, uma coisa parece estar coerente do que depreendeu da conversa de Anna Lee com o uruguaio: Goulart foi morto a pedido do Brasil. Segundo o uruguaio, a autorização para o envenenamento de Jango partiu do General Geisel (1908-1996) e foi transmitida a Fleury, que acertou os detalhes da criminosa operação chamada de “Escorpião”, com o serviço de inteligência do Uruguai, detalhes da operação, chamada Escorpião, que teria sido acompanhada e financiada pela CIA. Cony, Um dos mais respeitados escritores brasileiros, eleito imortal da Academia Brasileira de Letras, dedicou-se á construção do texto “O Beijo da Morte” durante um ano em co-parceria dom a doutoranda em Jornalismo carioca, Anna Lee.
Por tudo isso é que eu admiro, que eu santifico um homem que foi para mim um exemplo de político, corajoso, comprometido, de princípios, um homem que por certo terá seu lugar na história ao lado daqueles que decidiram para melhor os destinos dos povos do mundo.





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