Entendo que há uma vantagem prática em se analisar as mudanças que acontecem no mundo para dai se poder tomar algumas decisões na nossa vida pessoal, e não ser colhido de surpresa.
O mundo contemporâneo por acaso passa por mudanças importantes que afectarão as próximas gerações. Entender essas mudanças poderá trazer algumas vantagens.
É evidente que o mundo está passando por uma nova crise do petróleo, pois o preço do barril encostando na casa dos 100 dólares, está próximo de bater um novo recorde de preço, mas importante é notar que os preços corrigidos pela inflação da moeda americana já quase empatam com o recorde de 1981, quando (a preços actuais) o barril chegou a custar 102 dólares.
Desta vez, porém, não são guerras, revoluções ou boicotes árabes os principais motivos da subida, mas sim a sede por petróleo de economias como as da China e Índia.
Hoje não só multiplicaram-se as grandes potências consumidoras, especialmente com a entrada da China, mas também multiplicaram-se as áreas produtoras, como no Brasil, especialmente no Mar Cáspio e na costa ocidental da África.
Nos termos mais abrangentes possíveis, e a prazo curto, o barril de petróleo a 100 dólares enfraquece consideravelmente americanos e europeus. E favorece alguns dos regimes mais ditatoriais, corruptos e intratáveis do planeta.
Aqui não se trata de um julgamento moral: o adjectivo “intratável”, por exemplo, é usado do ponto de vista de Washington. É óbvio que o expansionismo russo –e a mão dura de Vladimir Putin a partir do Kremlin– está ligado à recuperação económica da Rússia a partir dos preços de exportação de energia (e seu mercado cativo na Europa Ocidental).
É suficientemente claro que o regime dos aiatolás no Irã só consegue superar as severas sanções (em parte impostas desde 1979) graças ao petróleo. A sede chinesa de petróleo está transformando o quadro de negócios na África, abrindo a países como Angola (um dos alvos principais da China) e Nigéria bar ganhas insuspeitadas menos de 20 anos atrás. Até mesmo quem não tem petróleo, como a Turquia, se beneficia vigorosamente do ponto de vista militar e estratégico pelo fato de que sua posição geográfica é fundamental para determinar como e por onde passará o petróleo do Mar Cáspio.
O mundo do petróleo a 100 dólares não será um mundo mais fácil. Ao contrário –talvez alguns nostálgicos até sintam falta de um mundo, o que já acabou, no qual alguns podiam fazer o papel de polícia (como EUA e URSS fizeram) e acomodar interesses.
Até que um novo arranjo surja, vai passar bastante tempo. E correr muito petróleo, quer dizer, muito sangue, parafraseando o título do célebre livro de
Michael Klare, no qual petróleo e sangue são
sinónimos.
Quadro I
Preço do Petróleo nos últimos 50 anos(Preços reais do barril em dólares de 2000,médias, crude norte-americano)
1950-1959 -20,47
1960-1973 -17,72
1974-1985 -43,42
1986-2001 -20,82
Fonte: Oil and the Macroeconomy since the 1970's, Robert Barsky e Lutz Kilian, Julho 2004
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Quadro II
Disparo do Petróleo após a viragem geo-políticada Administração Bush(Preços nominais em dólares do barril WTI, EUA, médias)
2002 - 24,72
2003 - 29,64
1º semestre de 2004 - 36,78
3º trimestre de 2004 (estimativa do DOE) - 41
Fonte: www.tax.state.ak.us e Departamento de Energia (DOE) dos EUA, Agosto 2004Nota: WTI=West Texas Intermediate
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Quadro III
Evolução histórica do preço spot do petróleo Brent (europeu)entre 1970 e 2004(Actualizado a preços correntes de 2004, em dólares por barril)Nota: Preços do Brent são mais baixos do que os norte-americanos
Fase 1
4º trimestre de 1973 - 2,50 dólares
Outubro 1973 -Guerra do Yon Kippur e Embargo - 1º choque petrolífero -2º trimestre de 1974
13 dólares (equivale a 40 dólares actuais) Crescimento de 354%
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Fase 2
2º choque petrolífero - Outubro 1978 - Revolução no Irão, Queda do Xá - Setembro de 1980 - Guerra Irão-Iraque - 1º trimestre de 1982
Cerca de 40 dólares (equivale a 70 dólares actuais) Crescimento de 60%
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Fase 3
Mini-choque petrolífero - Agosto 1990 - Invasão do Kuwait pelo Iraque - 1990-1991 - Guerra do Golfo - 1991
Acima dos 30 dólares (equivale a cerca de 40 dólares actuais) - Crescimento de 50%_____________________________________________________________________
Fase 4
1997 a 1999 - Quebra dos preços
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Fase 5
3º choque petrolífero - Março de 1999 - Início nos cortes na produção da OPEP - Março de 1999a Novembro de 2000
Preços disparam dos mínimos nos 10 dólarespara cerca de 30 dólares
2002
Média de 25,03 dólares Crescimento de 160%
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Fase 6
Mini-choque petrolífero - Dezembro 2002 - Greve na Venezuela (5º exportador mundial)
2003 -Ocupação do Iraque
2003
Média de 28,81 dólares
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Fase 7
Junho 2004 - Greve na Noruega (3º exportador mundial)
Julho/Agosto 2004
Disputa sobre a Yukos (Rússia, 2º produtor mundial)e luta política na Venezuela
1º semestre de 2004
Média de 33,7 dólares (segundo o OPEC Reference Basket)
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Fontes: Relatório do Citigroup Smith Barney/Equity Strategy (13 de Agosto);
www.mees.com; e Oil and the Macroeconomy since the 1970's,
A China é o verdadeiro expoente desse grupo e possui atualmente uma das economias que mais crescem no mundo. A média de crescimento económico deste país, nos últimos anos é de quase 10%. Uma taxa superior a das maiores economias mundiais, inclusive a do Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB) da China atingiu 2,2 triliões de dólares em 2006, fazendo deste país a quarta maior economia do mundo. Estas cifras apontam que a economia chinesa representa atualmente 13% da economia mundial.
Embora apresente todos estes dados de crescimento económico, a China enfrenta algumas dificuldades. Grande parte da população ainda vive em situação de pobreza, principalmente no campo. A utilização em larga escala de combustíveis fósseis (carvão mineral e petróleo) tem gerado um grande nível de poluição do ar. Os rios também têm sido vítimas deste crescimento económico, apresentando altos índices de poluição. Os salários, controlados pelo governo, coloca os operários chineses entre os que recebem uma das menores remunerações do mundo. Mesmo assim, o crescimento chinês apresenta um ritmo alucinante, podendo transformar este país, nas próximas décadas, na maior economia do mundo.
Não temos razão para estarmos pessimistas.
Participe.