A vergonhosa perseguição a Lula
RIBAMAR FONSECA Jornalista e escritor |
As paixões políticas, agravadas pela intolerância e o ódio gerados por políticos irresponsáveis e estimulados pela mídia partidária, ultrapassou as fronteiras do Congresso Nacional e contaminou diversos segmentos da sociedade, incluindo setores da estrutura de poder, como a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça. Felizmente são minoria os que agem, nesses setores, movidos por sentimentos políticos, mas os prejuízos que causam à confiança antes neles depositada são incalculáveis. Desde o julgamento do chamado "mensalão" que o Judiciário, por exemplo, passou a ser olhado com alguma desconfiança, pois ficou evidente a influência da mídia em decisões, visivelmente políticas, do Supremo Tribunal Federal.
O ministro Joaquim Barbosa, na época transformado em celebridade por fazer o jogo dos adversários do petismo, chegou a ser várias vezes capa da "Veja" e até cogitado como candidato à Presidência da República. Após aposentado do Supremo, porém, foi esquecido, afastado da frente dos holofotes, porque fora da Corte deixou de servir aos interesses políticos da mídia, o que acabou com o seu sonho presidencial. O ministro Gilmar Mendes, então, escandalosamente tucano, passou a ocupar o seu lugar no coração midiático, já que, por sua coloração partidária, todos parecem saber antecipadamente as suas decisões em julgamentos que envolvam questões políticas. E com isso contribui para os danos na confiança no Judiciário.
Foi lançada nesta terça-feira, em Nova York, na Assembleia das Nações Unidas, uma campanha global em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; um de seus advogados, Geoffrey Robertson, afirmou: “O mundo está observando o Brasil. A comunidade jurídica internacional está chocada com as violações cometidas pelos promotores da Lava Jato contra Lula e sua família. Trata-se de uma perseguição a Lula e não de um processo. É por isso que levamos este caso à Comissão de Direitos Humanos da ONU em Genebra"; no mesmo dia, o juiz Sergio Moro aceitou a denúncia contra Lula, mesmo reconhecendo que algumas provas são questionáveis.
É claro que a esmagadora maioria dos membros da mais alta Corte de Justiça do país se revela isenta, como ficou evidente no julgamento que proibiu doações das empresas para campanhas eleitorais, mas o Supremo só começou mesmo a reconquistar a confiança da sociedade, abalada com o desfecho do "mensalão", após a posse do ministro Ricardo Lewandowski na sua presidência, onde restaurou a austeridade do poder, ignorando as pressões externas para a tomada de decisões. Talvez por isso, por não se deixar mais intimidar pela mídia que durante algum tempo praticamente ditava a pauta dos julgamentos, é que o Supremo hoje perdeu espaço no noticiário onde, durante a gestão do ministro Barbosa, tinha cadeira cativa.
Foi lançada nesta terça-feira, em Nova York, na Assembleia das Nações Unidas, uma campanha global em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chamada Stand with Lula.
Um de seus advogados, Geoffrey Robertson, afirmou: “O mundo está observando o Brasil. A comunidade jurídica internacional está chocada com as violações cometidas pelos promotores da Lava Jato contra Lula e sua família. Trata-se de uma perseguição a Lula e não de um processo. É por isso que levamos este caso à Comissão de Direitos Humanos da ONU em Genebra."No mesmo dia, o juiz Sergio Moro aceitou a denúncia contra Lula, mesmo reconhecendo que algumas provas são questionáveis.
Abaixo, nota sobre a campanha em defesa de Lula:
(Nova York, 20 de setembro de 2016) Os advogados que representam o ex-Presidente do Brasil, Lula, apontaram à comunidade internacional durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York uma série de violações cometidas pelos promotores da Operação Lava Jato.
Advogados de atuação internacional, representantes da sociedade civil e líderes de movimentos dos direitos humanos participaram do evento sediado pela Confederação Sindical Internacional (ITUC - International Trade Union Confederation). Dentre os palestrantes do evento ocorrido em Nova York, estiveram presentes o proeminente advogado de direitos humanos Geoffrey Robertson QC, Sharan Burrow, Secretário-Geral da Confederação Sindical Internacional, e Tefere Gebre, da Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais.
Em sua fala aos participantes do evento, Cristiano Zanin Martins, do escritório Teixeira Martins & Advogados, disse: “Gostaria de agradecer a ITUC por nos convidar para explicar para alguns dos mais reconhecidos defensores dos direitos humanos, advogados e representantes da sociedade civil o que vem acontecendo no Brasil. Ao longo dessa semana, em Nova York e em Washington DC, as pessoas ficaram chocadas com as violações cometidas pelos promotores da Lava Jato. É evidente que essa questão terá consequências na vida de cada brasileiro – não apenas na de Lula”.
Geoffrey Robertson QC, advogado líder global na defesa dos direitos humanos, afirmou: “O mundo está observando o Brasil. A comunidade jurídica internacional está chocada com as violações cometidas pelos promotores da Lava Jato contra Lula e sua família. Trata-se de uma perseguição a Lula e não de um processo. É por isso que levamos este caso à Comissão de Direitos Humanos da ONU em Genebra. Tenho me reunido com diversos advogados e defensores dos direitos humanos aqui nos Estados Unidos, durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York, para dar a eles um panorama da situação no Brasil”.
Um documento descrevendo as violações cometidas pelos promotores da Lava Jato foi distribuído aos participantes. Além disso, foi lançada uma campanha mundial chamada “Stand with Lula” [Eu defendo Lula] no site www.standwithlula.org.
Representando 180 milhões de sindicalistas de 162 países, Sharan Burrow, Secretário-Geral da ITUC, lançou a campanha mundial “Stand with Lula” [Eu defendo Lula] e explicou que “o sistema judiciário brasileiro está agora em evidência, pois interesses corporativos poderosos tentam usá-lo para atacar Lula, o Partido dos Trabalhadores, além do seu gigantesco legado de mais de uma década de avanços sociais e econômicos. Nós apoiamos Lula e nos opomos veementemente ao mau uso do poder judiciário para persegui-lo. É uma honra para a ITUC organizar este evento em Nova York, durante a Assembleia Geral da ONU, para apontar essas questões a alguns dos mais importantes defensores dos direitos humanos, advogados e companheiros sindicalistas”.
O presidente Lula falou ao evento de Nova York via vídeo streaming, pois decidiu ficar no Brasil com a família para continuar sua luta contra as infundadas alegações. Ele agradeceu aos participantes do evento por seu apoio e pelas ações de defesa no âmbito internacional.A ITUC financiou e organizou o evento, além de estar à frente da campanha internacional “Stand with Lula” [Eu defendo Lula], no site www.standwithlula.org.
Mas enquanto o STF se recupera, procurando efetivamente distribuir Justiça retomando o seu papel de guardião da Constituição, alguns magistrados e membros do Ministério Público deixam escapar as suas paixões políticas, dando a sua contribuição na caçada a Lula, o principal alvo das operações em andamento. Depois do fracasso do esforço para encontrar alguma coisa que o incriminasse nas investigações da Lava-Jato, os seus caçadores voltaram-se agora para a Operação Zelotes, onde se empenham em envolver os seus filhos com ações policiais que parecem mais armadas para o noticiário, já que, na verdade, não existe nada concreto que possa incriminar o filho do ex-presidente. Constata-se que os inimigos dele no serviço público, até então camuflados, começaram a por as garras de fora, dando a sua colaboração no processo de perseguição.
Na verdade, deflagrada para investigar grandes sonegadores de impostos, a Operação Zelotes acabou mudando o foco justamente para atingir Lula, através dos seus filhos, uma atitude escandalosamente direcionada que preserva os verdadeiros acusados de sonegação. Fica evidente que o objetivo da Zelotes não é pegar os sonegadores, cujos prejuízos causados aos cofres públicos ultrapassam os R$ 20 bilhões, mas o ex-presidente, de modo a afastá-lo para bem longe do Palácio do Planalto. E nessa perseguição desenfreada, que inclui criminosas capas da revista "Veja", envolvem muita gente ligada a ele, inclusive o ex-ministro Gilberto Carvalho. Parece que descobriram que o melhor caminho para atingir o alvo é primeiro mirar nos filhos e amigos. É óbvio que não estão interessados em sanear o país – prova disso não é apenas a mudança do foco da Zelotes como, também, o total esquecimento do escândalo do cartel de trens de São Paulo, o chamado "trensalão" – mas em tirar Lula da sucessão presidencial.
Além da "Veja", que na capa deste fim de semana apresenta Lula vestido de presidiário – um insulto aos brasileiros sérios – a revista "Época", dos irmãos Marinho, integrante do mesmo esquema de perseguição ao ex-presidente, também o ataca, levantando suspeitas sobre suas movimentações financeiras. Como sempre, o senador Aécio Neves, o mesmo que fica em silêncio diante das denúncias comprovadas dos milhões de reais do deputado Eduardo Cunha na Suíça, apressou-se em distribuir nota dizendo que "o PSDB vê com extrema preocupação os dados revelados pela revista Época", acrescentando que "as suspeitas reveladas pelo Coaf exigem uma ampla e profunda investigação", o que, aliás, não foi feito no caso do aeroporto de Cláudio e de Furnas. Difícil levar a sério suas declarações porque ele não tem as mesmas preocupações quando as denúncias apontam para seus aliados. É um cinismo gritante.
O ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, também ganhou capa da "IstoÉ" no final de semana para responder as críticas do PT por não ter controle sobre a Policia Federal, que realizou operações contra o filho de Lula, esquecendo os sonegadores. "A lei é para todos", ele disse, frase destacada na capa da publicação. A lei, na verdade, deveria ser para todos, mas estranhamente não alcança os que se opõem a Dilma e ao ex-presidente, entre eles o próprio Aécio Neves. O Supremo, por exemplo, no chamado "mensalão petista", julgou muita gente que não tinha direito a foro privilegiado, enquanto os que tinham esse direito no chamado "mensalão tucano", como o ex-governador Azeredo da Silveira, foram entregues à justiça comum e seus crimes estão prescrevendo. A lei realmente é para todos, mas o sujeito que ameaçou publicamente de morte a Presidenta não está na cadeia.
O fato é que se as ações não fossem movidas por paixões políticas, todas as denúncias – e não apenas contra os petistas – deveriam ser apuradas com rigor e isenção, punindo-se todos, independente de cor partidária, comprovadamente corruptos. Infelizmente, porém, ninguém mais tem dúvidas de que todo esse circo foi montado para impedir Lula de voltar à Presidência da República. O impeachment de Dilma é apenas parte do processo, porque o alvo mesmo é o torneiro mecânico que um dia ousou ser Presidente da República e governar para o povo pobre, reduzindo as desigualdades sociais, pagando os empréstimos do FMI feitos no governo FHC, colocando o Brasil entre as grandes potências mundiais e o tornando credor dos Estados Unidos. As elites, até então beneficiadas pelos governos anteriores, não admitem sequer a possibilidade de passarem mais quatro ou oito anos em jejum. E estão fazendo o diabo para exorcizar o fantasma de Lula.
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