O
fim da picada
Participação de CLAUDIO RIBEIRO
fundopetros@yahoogrupos.com.br
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Mauro Santayana
Embora tenha estudado apenas até o segundo ano do antigo primário, o equivalente ao atual terceiro ano do ensino fundamental, ocupou, como jornalista autodidata, cargos destacados nos principais órgãos da imprensa brasileira, especialmente na mídia impressa, como Folha de S. Paulo, Gazeta Mercantil, Correio Brasiliense e Jornal do Brasil, no qual mantém uma coluna sobre política. Também escreve regularmente para a Carta Maior, para a Revista do Brasil e é comentarista de televisão e mantêm um blog, onde escreve artigos e crônicas sobre política, economia e relações internacionais, cujo endereço na internet é maurosantayana.com.
Se não falham os estudiosos,
a expressão “o fim da picada”, deriva da situação em que se encontra, de
repente, o sujeito que vinha seguindo uma trilha, no meio da floresta, e,
subitamente, se vê perdido, quando essa trilha, ou “picada”, aberta à medida
que se corta, ou se “pica” o mato à frente, termina abruptamente, obrigando o
viajante a seguir às cegas, ou a voltar para um distante, e muitas vezes,
inalcançável, ponto de partida.
O grampo contra a Presidente
da República, com sua imediata divulgação, para uma empresa de comunicação
escolhida para escancarar seu conteúdo ao país, operado por um juiz de primeira
instância, depois da desnecessária e arbitrária condução coercitiva e do pedido
de prisão de um ex-presidente da República, devido a uma acusação de falsidade
ideológica – em um país em que bandidos com dezenas de milhões de dólares em
contas na Suíça, procurados pela Interpol e condenados à prisão em outros
países circulam, soltos, tranquilamente - representa isso.
O fim da picada de uma Nação
em que as instituições se recusam a funcionar, e estão, virtualmente, sob o
sequestro de meia dúzia de malucos concursados - apoiados corporativamente por
toda uma geração de funcionários de carreira de Estado comprometidos
ideologicamente, com a razoável exceção de organizações como a associação de
Juízes para a Democracia - que atuam como ponta de lança de uma plutocracia
estatal, que, embalada por uma imprensa parcial e irresponsável, pretende
tutelar a República, colocando-se acima dos poderes constituídos.
Senador Cassio Cunha Lima |
Perguntado o que achava do
pedido de prisão do Ministério Público de São Paulo, há poucos dias, o líder do
PSDB na Câmara Alta, o senador Cássio Cunha Lima, disse que não via motivos
para tanto e recomendou cautela neste momento.
Agradece-se a sua coragem e
bom-senso – Cássio Cunha Lima foi violentamente atacado por isso pela malta
radical fascista nos portais e redes sociais – mas agora é tarde.
A oposição deveria ter
pensado nisso quando ainda não ocupava – tão hipócrita e injustamente quanto
outros acusados - as manchetes da coluna de delações “premiadas”, e abandonou o
calendário político normal para fazer política nos tribunais, por meio da
criminalização da atividade, entregando o país a um grupo de procuradores e a
um juiz de primeira instância que age - como se viu pelo vazamento imediato do
grampo do Palácio do Planalto - como um fio desencapado, não se importando –
assim como os procuradores que o cercam ou nele se inspiram - em incendiar o
país para dizer que é ele quem está no comando, independente da atitude da
Presidente da Republica de trocar o Ministro da Justiça, ou nomear para a Casa
Civil um ex-presidente da República, ou da preocupação de alguns ministros e
ministras do STF – pelo menos aqueles que parecem ter conservado um mínimo de
dignidade e de razão neste momento.
Iludem-se aqueles que acham
que a Operação Lava-Jato vai livrar o país da corrupção.
Os resultados políticos da
Operação Mani Pulliti – a operação Mãos Limpas, à qual o Juiz Sérgio Moro se
refere a todo instante como seu farol e fonte de “inspiração”, foram a condução
de Berlusconi, um bufão pseudo fascista ao poder na Itália, por 12 anos eivados
de escândalos, seguida da entrega do submundo do Estado a uma máfia comandada
por ex-terroristas de extrema-direita, responsáveis por mega-escândalos como o
da Máfia Capitale, que envolve desvios e comissões em obras públicas em Roma,
da ordem de bilhões de euros, cujo julgamento começou no último mês de
novembro.
Da mesma forma, iludem-se,
também, aqueles que acham que, com a queda do governo, por meio de impeachment,
ou de manobra no TSE ou no TCU, ou de uma Guerra Civil, que se desenha como
cada vez mais provável, o Brasil irá voltar à normalidade.
A verdadeira batalha, neste
momento e a perder de vista – e há uma grande proporção de parvos que ainda não
entenderam isso – não é entre o governo e a oposição, mas entre o poder
político, alcançado por meio do voto soberano da população, e a burocracia
estatal, principalmente aquela que tem a possibilidade – pela natureza de seu
cargo - de pressionar, coagir, chantagear, a seu bel-prazer, a Presidência da
República, o Congresso e o grande empresariado.
Em palestra recente, para
empresários – quando, com suas multas e sanções, ele está arrebentando com
metade do capitalismo brasileiro – o Juiz Sérgio Moro afirmou que a operação
Lava-Jato não tem consequências econômicas.
ANDRÈ ESTEVES |
Sua Excelência poderia
explicar isso ao BTG, cujas ações diminuíram pela metade seu valor, quebrando
milhares de acionistas, ou que perdeu quase 20 de reais em ativos desde a
prisão de André Esteves.
Ou à Mendes Júnior que teve
de demitir metade dos seus funcionários e está entrando em recuperação judicial
esta semana.
Ou, ainda, aos 128.000
trabalhadores terceirizados da Petrobras que perderam o emprego no ano passado.
Ou às famílias dos 60.000
trabalhadores da Odebrecht, que também foram demitidos, ou aos funcionários
restantes que aguardam o efeito da multa de 7 bilhões de reais – mais de 15
vezes o lucro do Grupo em 2014 – que se pretende impor “civilmente” à
companhia.
Missil A-Darter |
Ou aos funcionários da
Odebrecht que estão envolvidos com projetos de extrema importância para a
defesa nacional, como a construção de nossos submarinos convencionais e
atômicos e nosso míssil ar-ar A-Darter, concebido para armar nosso futuros
caças Gripen NG-BR, que terão de ser interrompidos caso essa multa venha a ser
cobrada.
Ou, ainda, aos “analistas”
entre os quais é consenso que a Operação Lava Jato foi responsável por 2%, ou
mais de 50%, da queda do PIB - de 3,8% - no ultimo ano.
Na mesma ocasião, o Sr.
Sérgio Moro - como se fôssemos ingênuos de acreditar que juízes não têm suas próprias
opiniões, ideologia e idiossincrasias políticas – afirmou não ter “partido”.
Ora, ele tem, sim, o seu
partido.
E ele se chama PSM, o
Partido do Sérgio Moro.
Um “partido” em que não
cabem os interesses do país, nem os do governo, nem os da oposição, a não ser
que eles se coloquem sob a sua tutela.
Assim como não dá para
acreditar, com sua relativamente longa experiência, depois dos episódios de
Maringá e do Banestado, que ele esteja agindo como age por ter sido picado pelo
messianismo que distrai e embala a alma de outros “salvadores da pátria” da
Operação Lava-Jato.
O que - seguindo a lógica do
raciocínio - só pode nos levar a pensar que ele está fazendo o que faz porque
talvez pretenda meter-se a comandar o país diretamente – achando, quem sabe,
que as Forças Armadas vão permitir que venha a adentrar o Palácio do Planalto
carregado por manifestantes convocados pelo Whats UP, em uma alegre noite de
buzinaço, como um moderno Salazar ou Mussolini – ou quando eventualmente se
cansar, lá pela milésima-primeira fase da Operação Lava-Jato - de exercitar seu
ego e – até agora - seu incontestável poder de manter o país em suspense,
paralisado política e economicamente, independentemente do ocupante de turno –
quem grampeia um presidente grampeia qualquer presidente - que estiver sentado
na principal poltrona do Palácio do Planalto.
A alternativa a essa
República da “Destrói a Jato”, de um país mergulhado permanentemente na
chantagem, na manipulação, no caos e na paralisia, é alguém ter coragem, nos
órgãos de controle e fiscalização, de enfrentar o falso “clamor”, pretensamente
“popular”, de um senso comum ditado pela ignorância e a mediocridade, e
pendurar o guizo no pescoço do gato – ou desse tigre (de papel) - impondo ao
mito construído em torno dessa operação, e aos seus “filhotes”, o império da
Lei e o respeito ao Estado de Direito e à Constituição Federal.
Mas para isso falta peito e
consciência de História a quem pode fazê-lo.
E sobra – talvez pelo medo
das tampas de panela dos vizinhos - hesitação e covardia.
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